Atleta de futebol americano supera surdez e vira destaque nas finais da NFL
Derrick Coleman cresceu convivendo com a desconfiança alheia. Surdo desde os três anos, sonhava em ser atleta profissional de futebol americano, mas não conseguia sequer evitar o bullying dos colegas de escola. Entrar em campo numa partida oficial parecia irreal, nada além de um sonho de criança. Mas ele fez acontecer. No próximo domingo vai […]
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Derrick Coleman cresceu convivendo com a desconfiança alheia. Surdo desde os três anos, sonhava em ser atleta profissional de futebol americano, mas não conseguia sequer evitar o bullying dos colegas de escola. Entrar em campo numa partida oficial parecia irreal, nada além de um sonho de criança. Mas ele fez acontecer. No próximo domingo vai participar do jogo mais importante de sua carreira.
A trajetória que levou o impossível a se materializar começou com um objeto para lá de banal: uma mera meia calça. A mãe, May Evans, quebrava a cabeça procurando uma maneira de manter vivas as esperanças do menino quando teve uma ideia artesanal .
Cortou uma meia calça e prendeu os aparelhos de audição na malha para evitar que caíssem. Deu tão certo que 20 anos depois de ser diagnosticado com uma doença genética incurável que levou a surdez o filho vai jogar a final da Liga Nacional de futebol americano no próximo domingo, dia 19, pelo Seattle Seahawks.
O time chega com a melhor campanha da fase de classificação da NFL (National Football League). Se vencer, vai disputar o Super Bowl, principal evento esportivo dos Estados Unidos e famoso por ter o tempo de propaganda mais caro do mundo. A história de Derrick é tão surpreendente que ele se tornou personagem de uma propaganda das pilhas Duracell. No texto, o próprio atleta diz que foi considerado fora do jogo, mas como é surdo não ouviu o alerta.
A trajetória também rendeu um documentário chamado The sound of silence in the NFL (O som do silêncio na NFL, em tradução livre). Numa das entrevistas o jogador lembra da meia calça, mas também não esquece os dias de escola, quando era chamado de quatro orelhas por causa dos aparelhos auditivos.
Fica difícil imaginar o mesmo tipo de comportamento ser repetido agora que Derrick se tornou um homem de 1,83 metros e 105 quilos. A força é crucial para a posição que ocupa em campo. Ele atua de fullback, um jogador que tem duas funções principais: abrir espaço na defesa adversária para alguém com a bola oval ganhar terreno correndo pelo meio do time oponente; ou conter o avanço dos adversários que tentam derrubar o quarterback, o atleta que lança a bola.
Mas se engana quem pensa que a NFL é apenas uma guerra de músculos com um monte de brutamontes trocando empurrões. Na verdade, o esporte é mais estratégia e cada jogada é estuda para explorar as chances estatísticas e as fraquezas do adversário. Caso qualquer um dos 11 jogadores faça um movimento errado põe tudo a perder. Neste cenário a comunicação é essencial e fica difícil para um surdo se sair bem.
A mãe explica que alguns ajustes foram necessários para Derrick ter êxito. A tática é passada ao time pelo quarterback que depois se dirige a Derrick. Ocorre que ele não ouve, mas lê os lábios do companheiro de equipe. A técnica foi aprendida naturalmente, assim como a capacidade de falar, recorda Numa história que gosta de contar, o jogador lembra que esta habilidade chamou a atenção do treinador no colegial.
Ele acreditou ter descoberto uma arma secreta de defesa e pediu que Derrick lesse as orientações do técnico oponente. Mesmo distante, o atleta contou o que acreditava ter entendido. Deu certo, mas só aquela vez fala em meio às gargalhadas.
Mas a falta de audição não impediu uma carreira de sucesso na escola e na Universidade da Califórnia, em Los Angeles (UCLA). Mesmo assim, o atleta não foi escolhido por nenhum time durante o processo de seleção do futebol americano realizado em 2012.
O pai desabafa que a surdez sempre fez as pessoas duvidarem do filho e por isso Derrick precisa treinar mais, ser o mais rápido e o mais forte. Sem vagas diretas conseguiu assinar com o Minnesota Vikings.
Ocorre que não houve oportunidades de entrar em campo na NFL e Derrick passou o ano apenas treinando até ser dispensado. A situação mudou ao fechar contrato com os Seahawks em 5 de dezembro de 2012. Havia uma vaga de fullback e o jogador procurou o treinador da posição, Sherman Smith.
Falou sobre o problema de audição, mas argumentou que tinha facilidade de aprender. Nos treinos também apareceram outras qualidades. Smith afirma que dedicação era fora do comum e fisicamente Derrick era privilegiado. Com o tempo, descobriram que era também inteligente. O jogador ganhou uma chance para ver se conseguiu combinar todas as qualidades numa situação de pressão dentro das quatro linhas.
Correspondeu. Foi incorporado ao time principal em 31 de agosto do ano passado. Nada que surpreendesse o pai, que também se chama Derrick Coleman, e sempre repetiu ao filho que não havia diferença entre ele e qualquer outra pessoa. O ensinamento levou o fullback a jamais usar a surdez como desculpa para eventuais falhas.
Com este comportamento, já na juventude ele se tornara numa espécie de protótipo do atual time do Seattle. O técnico, Pete Caroll, tem o lema sem desculpas como uma das bases para o trabalho na equipe.
A prova de que todos que duvidavam erraram ocorreu em dezembro do ano passado, na partida contra o New Orleans Saints. Os Seahawks estavam perto de marcar um touchdown e o quarterback fez o lançamento, mas o jogador alvo não conseguiu segurar a bola oval que explodiu na grade do capacete. Ela subiu tanto que encobriu o defensor, caindo no colo de Derrick a um metro do final do campo adversário.
Bastava deixar o corpo cair para frente. A torcida explodiu em comemorações no estádio considerado o mais barulhento da NFL e que consegue igualar o barulho de um Boeing decolando. Ironia que o autor de toda a euforia seja surdo.
Mas num lance tão extraordinário e improvável quanto sua história, Derrick provara que podia ser jogador profissional. A mãe resume: “tudo que as pessoas falavam ser impossível foi feito.”
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