Torcida gay do Arsenal apoia Gaivotas e pede que futebol saia do armário

Se no Brasil a criação da Gaivotas Fiéis, que se diz a primeira torcida organizada gay do País, tem gerado bastante polêmica, na Inglaterra o assunto é tratado com naturalidade. Tanto que um grupo homossexual conta até com apoio oficial de um dos clubes de futebol mais famosos do mundo, o Arsenal. A Gay Gooners […]

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Se no Brasil a criação da Gaivotas Fiéis, que se diz a primeira torcida organizada gay do País, tem gerado bastante polêmica, na Inglaterra o assunto é tratado com naturalidade. Tanto que um grupo homossexual conta até com apoio oficial de um dos clubes de futebol mais famosos do mundo, o Arsenal.

A Gay Gooners foi criada em fevereiro desse ano e começou a chamar atenção pouco depois, durante a parada LGBT de Londres. Na ocasião, os torcedores desfilaram com uma bandeira levando as cores do arco-íris e o escudo do time do norte da cidade.

Em oito meses a iniciativa reuniu cerca de 100 adeptos. E ganhou apoio da diretoria do Arsenal, que autorizou a instalação da bandeira da torcida organizada nas arquibancadas do Emirates Stadium. No futebol inglês, as faixas e bandeiras são controladas e não podem ser exibidas livremente como no Brasil.

“Eu desafio qualquer torcedor a me mostrar a imagem de uma faixa de torcida gay em outro estádio do mundo. Não existe”, fala orgulhoso o criador da organizada, Stewart Selby.

O inglês explica ao Terra que a repercussão até agora tem sido positiva. Segundo Selby, a homofobia é um problema geral no esporte. “Mas no futebol a situação é ainda mais específica. E é um grande desafio para nós banir a homofobia do futebol, assim como estamos fazendo com o racismo”, explica.

Por isso, o fundador da Gay Gooners (os torcedores do Arsenal são conhecidos na Inglaterra como Gooners) comemora a criação da Gaivotas Fiéis. “Às vésperas da Copa do Mundo, acredito que esse seja o momento exato para realizar um trabalho desse tipo. Porque cada país tem sofrido de alguma maneira com essa questão. Torcedores gays já foram assassinados, essa é a realidade”.

O diretor de comunicação do clube da capital britânica, Mark Gonnella, afirma que o Arsenal – e o futebol em geral – precisam ser o mais inclusivo possível. “É justamente isso que estamos tentando fazer aqui . O que fizemos foi dar apenas um pequeno apoio, autorizando a faixa deles no estádio. Isso carrega um grande simbolismo”.

Um dos primeiros integrantes da torcida organizada inglesa, David Ravel conta que a criação da Gaivotas Fiéis também repercutiu na Inglaterra. Ele comemora a iniciativa. “Isso é fantástico. O Corinthians é um clube muito grande e o fato deles terem uma torcida organizada gay amplifica muito mais a mensagem. E porque todos os brasileiros conhecem o Corinthians, agora todos sabem que existe uma torcida homossexual. Isso é um grande passo para tornar a sociedade em um espaço seguro e igualitário para todos”.

Ravel lembra que existem muitos cartolas, jogadores, técnicos, torcedores e árbitros homossexuais. “Mas estão todos dentro do armário. Queremos mostrar a eles que isso é algo normal. Tenho muito orgulho de torcer para o Arsenal pela maneira como o clube está lidando com a situação”, ressaltou.

A Inglaterra combate a homofobia dentro dos estádios com medidas duras. Ofensas de cunho sexual entre os jogadores podem ser punidas com advertências ou cartões. Nas arquibancadas, um torcedor que comete abusos corre o risco de ser detido pela polícia e ainda acabar banido das arenas.

“Se eu ouvir qualquer tipo de ofensa homofóbica, partirei para cima do autor na hora. E certamente a pessoa será escoltada para fora do estádio. O Arsenal pode inclusive suspender o ingresso para a temporada de quem comete esse tipo de abuso”, explica Jane Wildman, que trabalha como orientadora nas arquibancadas do Emirates Stadium.

A steward – que faz questão de ressaltar que é lésbica e também integra a Gay Gooners – diz que nunca precisou tomar medidas extremas. “Simplesmente não ouço esse tipo de abuso. É contra as regras e as pessoas não fazem mais isso. Os torcedores estão aceitando muito mais a diversidade”, completa.

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