Prêmio Nobel defende alternativa ao uso do Bolsa Família

O professor de economia e Prêmio Nobel da Paz de 2006, Muhammad Yunus, propôs, nesta segunda-feira, 27, a criação de um reality show na televisão estrelado por pessoas que tentam criar negócios próprios para deixar de receber auxílio financeiro do programa Bolsa Família, por meio do qual o governo federal garante renda a pessoas em […]

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O professor de economia e Prêmio Nobel da Paz de 2006, Muhammad Yunus, propôs, nesta segunda-feira, 27, a criação de um reality show na televisão estrelado por pessoas que tentam criar negócios próprios para deixar de receber auxílio financeiro do programa Bolsa Família, por meio do qual o governo federal garante renda a pessoas em situação de pobreza.

“Por que não criar um programa de televisão que mostre cinco ou dez pessoas que recebem dinheiro do Bolsa Família tentando criar negócios sociais para deixar de receber a verba do governo? Mesmo que nem todos consigam, certamente empreendedores irão ver isso na televisão e poderão se interessar em investir nessas ideias”, disse ele, após proferir palestra intitulada “Negócios Sociais: formação na academia e futuros empreendedores sociais” na sede da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), em São Paulo.

Para Yunus, a existência de projetos de transferência de renda como o Bolsa Família são importantes mas, caso não sejam criados caminhos para os beneficiários saírem do programa, podem levar à dependência. “É um programa muito importante, mas temos de ter cuidado para não criarmos dependência. A Europa sofre com isso. As segunda e terceira gerações que receberam os benefícios sociais dos governos começaram a se acomodar, ficaram dependentes. Não temos de tirar as pessoas do Bolsa Família e sim dar subsídios para elas saírem por conta própria”, defendeu. “Isso tornaria o Brasil líder para o mundo todo nesse processo de vencer a pobreza. Todos os países olhariam o Brasil e diriam: ‘como eles conseguiram criar o programa de assistência e depois as pessoas saíram dele por conta própria?’”, emendou.

Yunus veio ao Brasil inaugurar o Centro Acadêmico de Negócios Sociais em parceria com a Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), mediante o qual a instituição pretende incentivar a criação de negócios voltados à melhora dos níveis sociais e não apenas ao lucro imediato. Junto à parceria está sendo criado um fundo de investimentos para incentivar a formação desses negócios. Indagado sobre quais os parceiros do fundo e o valor que irá administrar, Yunus disse que esses detalhes serão anunciados nos próximos dois dias. “Pretendemos chegar ao valor inicial de algo em torno de US$ 20 milhões, mas apenas saberemos com certeza o valor e quem serão os sócios nos próximos dias, junto ao anúncio oficial”, disse. Centros nos moldes deste criado com a ESPM já existem em ao menos outros sete países – Japão, Coreia, Itália, Alemanha, Estados Unidos, França e Turquia -, mas é o primeiro no hemisfério sul.

Questionado sobre um exemplo de resultados práticos de negócios sociais, Yunus citou um projeto em seu País, Bangladesh, que educa meninas de pequenas vilas para serem enfermeiras. “Temos falta de enfermeiros no país, há uma média de três médicos para cada enfermeira. Caso não estudassem, essas meninas provavelmente ficariam em suas vilas fazendo nada, esperando para casar. É uma mostra de como esses projetos podem ser desenvolvidos para melhorar a sociedade”.

Bangladesh

Nascido em Bangladesh, Yunus foi questionado sobre a tragédia ocorrida em uma fábrica de tecidos no país asiático no início do mês que vitimou cerca de 900 pessoas. Para ele, o caso é consequência de uma política de redução nos custos da mão de obra nas fábricas de produtos têxteis para atrair empresas ao país. Ele propôs, então, a criação de um salário mínimo mundial para trabalhadores do setor e uma etiqueta que iria nas roupas atestando que o local onde o item foi produzido respeita os direitos laborais.

“Seria um salário mínimo que não poderia ser reduzido, para impedir essa competição. Além disso, poderíamos criar uma etiqueta assegurando que o local onde a roupa foi produzida respeita os direitos dos trabalhadores e assegura uma qualidade mínima. Isso encareceria a roupa em coisa de um dólar, mas temos que assegurar que tragédias como essas não voltem a ocorrer”, disse.

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