Livro mais caro do mundo é vendido por R$ 32,6 milhões

Leiloado por US$ 14,2 milhões (equivalente a R$ 32,6 milhões) em Nova York, o Bay Psalm Book tornou-se o mais caro livro impresso já vendido no mundo. O “Livro de Salmos da Baía”, em tradução livre, é de 1640. Trata-se do primeiro livro a ser impresso em território americano. A preciosidade foi arrematada pelo banqueiro […]

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Leiloado por US$ 14,2 milhões (equivalente a R$ 32,6 milhões) em Nova York, o Bay Psalm Book tornou-se o mais caro livro impresso já vendido no mundo.

O “Livro de Salmos da Baía”, em tradução livre, é de 1640. Trata-se do primeiro livro a ser impresso em território americano. A preciosidade foi arrematada pelo banqueiro e bilionário americano David Rubenstein. Ele está na Austrália e fez os lances por telefone.

Apesar do recorde, o valor ficou aquém das expectativas. A casa de leilões Sotheby’s estimava que o valor mínimo seria de US$ 15 milhões (aproximadamente R$ 34,4 milhões). Especialistas apostavam, no entanto, que o livro pudesse atingir até US$ 32 milhões (R$ 73 milhões).

Hoje só se conhece a existência de 11 cópias do livro. Duas delas pertencem à Old South Church, de Boston, que decidiu vender uma das edições.

O recorde anterior, certificado pelo Guinness World Records, pertencia a uma cópia rara do Birds of America (“Aves da América”, em tradução livre), de John James Audubon. Publicado pela primeira vez entre 1827 e 1838, o livro teve uma de suas cópias vendidas por US$ 11,5 milhões (R$ 26,4 milhões) há três anos.

Em 1947, uma cópia do Bay Psalm Book também foi leiloada por valor recorde, US$ 151 mil (aproximadamente R$ 344 mil). O leilão superou os valores pagos por uma Bíblia do Antigo Testamento de Gutenberg e por um First Folio (a primeira coleção das peças teatrais de Shakespeare).

História

A importância do Bay Psalm Book não se dá apenas por sua extrema raridade, mas também por o objeto ser um símbolo da identidade dos Estados Unidos.

Poucos anos depois da “grande migração” puritana da Inglaterra para a baía de Massachusetts em 1630, os colonos se comprometeram com um ambicioso projeto, o de escrever e imprimir seu próprio livro de Salmos.

Eles já tinham livros de Salmos, mas, sendo reformistas que abraçaram o canto congregacional, queriam uma tradução do Livro dos Salmos que fosse mais próxima do original em hebraico e escrita em verso.

Uma máquina de impressão – provavelmente obtida clandestinamente para burlar leis em vigor na Inglaterra – chegou de Londres em 1638, juntamente com papel suficiente para imprimir centenas de livros.

Embora o homem que levantou fundos para a compra da máquina e do papel, o reverendo Jose Glover, tenha morrido durante a viagem, sua viúva se estabeleceu em Cambridge, Massachusetts, onde abriu a editora.

A máquina era operada por Stephen Day, um trabalhador escravo e um serralheiro de profissão. Em 1640, ele imprimiu cerca de 1,7 mil cópias do livro de 300 páginas Whole Book of Psalmes Faithfully Translated into English Metre, vulgarmente conhecido como o Bay Psalm Book.

O volume foi colocado em uso por congregações em toda a colônia. Apesar do texto ter sido reimpresso mais de 50 vezes ao longo do século seguinte, a maior parte das primeiras edições do livro ficou gasta depois de algumas décadas.

“É um livro que não foi criado para ser luxuoso, suntuoso ou precioso”, diz Derick Dreher, diretor da Biblioteca Rosenbach na Filadélfia, uma das poucas instituições que possuem uma cópia do Bay Psalm Book.

“Como as congregações para as quais o livro foi criado o usavam até gastar, muitas poucas cópias sobreviveram.”

“Nós temos documentos que datam do século 19 que falam sobre o que as pessoas estavam dispostas a fazer para conseguir uma cópia do livro”, conta Dreher.

Críticas

O Bay Psalm Book ganhou prestígio apesar de inicialmente ter sido criticado por sua qualidade.

Há 200 anos, o editor e autor Isaiah Thomas notou que o livro estava “repleto de erros de digitação” e “não tem um bom acabamento. O responsável por compor o livro não devia estar totalmente familiarizado com a pontuação”, disse.

As estranhas traduções do Bay Psalm Book também atrairam críticas.

Os estudiosos e pastores que conceberam o livro reconhecem no prefácio que, “ao traduzir as palavras hebraicas para a língua inglesa, priorizaram a consciência e não a elegância, e a fidelidade em vez de poesia.”

John Hoover, ex-presidente da Sociedade Bibliográfica da América, diz que o Bay Psalm Book, que inclui algumas letras hebraicas, reflete o alto nível de erudição da colônia.

Significado

Em 1700, Boston já tinha ultrapassado as inglesas Oxford e Cambridge e se tornado o segundo centro mais ativo em publicação de livros em inglês depois de Londres.

Embora os puritanos da Baía de Massachusetts não terem sido separatistas, seu espírito pioneiro e sua busca pela liberdade são associados à luta pela independência dos Estados Unidos (1776) e à identidade da nova nação.

“Foi um ato de independência ir a Massachusetts e criar sua própria sociedade com sua própria versão do Cristianismo. Acho que se pode desenhar uma linha direta com os eventos de 1776”, diz David Redden, chefe do departamento de livros da Sotheby’s.

O significado histórico do Bay Psalm Book é fortemente sentido na Old South Church, onde Benjamin Franklin, um dos patriarcas dos Estados Unidos, foi batizado, e onde as reuniões que deram início ao Tea Party de Boston aconteceram.

Isso tornou difícil a decisão de leiloar uma cópia, mas os líderes da igreja argumentaram que era necessário para pagar custos operacionais, e receberam forte apoio da congregação em uma votação.

“A questão é que nós não somos um museu”, diz Tom Grant, membro da administração da igreja. “Nosso compromisso é com a missão, com a justiça social, e em servir o povo de Deus. E guardar um tesouro não é promover a missão da igreja.”

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