Inflação alta deve dificultar negociação salarial em 2013
A inflação alta deve tornar mais difíceis neste ano as negociações de reajuste salarial entre patrões e empregados, o que pode resultar em aumento do número de greves no País, de acordo com especialistas ouvidos pelo Broadcast, o serviço em tempo real da Agência Estado. “Com inflação em alta e crescimento da produtividade em ritmo […]
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A inflação alta deve tornar mais difíceis neste ano as negociações de reajuste salarial entre patrões e empregados, o que pode resultar em aumento do número de greves no País, de acordo com especialistas ouvidos pelo Broadcast, o serviço em tempo real da Agência Estado.
“Com inflação em alta e crescimento da produtividade em ritmo menor, a tendência é de que as discussões sobre salários entre empresas e sindicatos sejam mais acaloradas”, disse o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale. “Com isso, a gente pode ver mais greves em 2013.”
O quadro pode se agravar porque não há sequer perspectiva de que a pressão inflacionária decorrente do mercado de trabalho aquecido vá desacelerar, segundo o economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central (BC).
Para ele, reduzir as pressões inflacionárias advindas do aumento do rendimento dos trabalhadores passaria por: 1) convencer as pessoas de que BC vai buscar trazer a inflação para o centro da meta (4,5%) ou 2) provocar uma desaceleração econômica que leve a um aumento do desemprego. “Nenhuma dessas alternativas está sendo buscada”, afirmou. “A conclusão, portanto, é de que a inflação (causada pelo mercado de trabalho aquecido) não vai desacelerar.”
Em março, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), referência do regime de metas de inflação, acumulou alta de 6,59% em 12 meses. O centro da meta do BC é de 4,5%, com tolerância de dois pontos porcentuais para mais ou para menos. Essa alta acumulada, no entanto, deve ceder até o fim do ano, de acordo com a pesquisa Focus divulgada esta semana pelo BC: a projeção de inflação medida pelo IPCA para 2013 ficou em 5,71%, ante 5,70% na estimativa anterior.
Acirramento das tensões
“É provável que as empresas voltem a negociar abaixo da inflação”, disse o gerente sênior da área de Gestão de Capital Humano da Deloitte, Fábio Mandarano. Segundo ele, as empresas vão buscar compensar um reajuste menor com aumento, por exemplo, na Participação nos Lucros e Resultados (PLR). “Porém, com certeza vamos ter um acirramento das tensões.”
Quem também vê esse acirramento nas negociações é o economista Fabio Romão, da LCA. Segundo ele, o rendimento médio real dos trabalhadores deve cair este ano por causa da pressão inflacionária e do menor ganho real do salário mínimo. “As negociações salariais ficam mais difíceis em um cenário de inflação em alta e reajuste menor do salário mínimo.”
Romão lembrou que o salário mínimo cresceu em termos reais 2,7% este ano ante expansão de 7,5% em 2012. “Quanto maior a inflação acumulada entre um dissídio e outro, mais difícil fica a obtenção de ganho real.”
O economista estima que a expansão do rendimento médio anual deve fechar 2013 entre 2,5% e 2,7%, nível similar ao de 2011, porém abaixo dos ganhos médios de 4,1% do ano passado. “Desde novembro de 2012, temos visto uma desaceleração.”
O sociólogo e professor de Relações do Trabalho na Universidade de São Paulo (USP), José Pastore, disse que as negociações salariais este ano vão ser “duras”. Ele explicou que as últimas discussões terminaram em aumento expressivo dos salários porque o Brasil vive um tempo de falta de mão de obra. “Quando falta mão de obra, os sindicatos têm mais poder de barganha.”
De acordo com Pastore, esse cenário vai persistir pelos próximos “sete ou oito meses”, o que vai levar os trabalhadores a pedir reajustes significativos em 2013, inclusive valendo-se de eventuais greves.
Otimismo
O coordenador de Relações Sindicais do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), José Silvestre Prado de Oliveira, tem uma perspectiva mais otimista sobre a obtenção de ganhos reais pelos trabalhadores neste ano.
De acordo com Silvestre, as negociações coletivas melhoram ano a ano. Ele citou, por exemplo, que 95% das categorias tiveram aumento acima da inflação em 2012. “Estamos em uma trajetória de crescimento do ganho real médio e do número de categorias beneficiadas”, afirmou.
Porém, Silvestre disse que, dependendo da conjuntura econômica, pode ser que em 2013 ocorram mais greves. “Tendem a crescer as paralisações por empresa, não por categoria”, salientou.
O Dieese deve fechar o balanço das greves de 2012 no próximo mês No entanto, Silvestre disse que o número deve passar de 700 – em 2011 foram 554 e em 2010, 446. Ele justificou a alta alegando que não apenas o total de paralisações aumentou como foi melhorado o sistema de registro das greves.
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