Mandiocultura sulmatogrossense: desafios atuais frente ao novo cenário agrícola
Mato Grosso do Sul, que até recentemente, apresentava como base da sua agropecuária o cultivo de soja e milho, além da produção extensiva de bovinos, tem observado nos últimos anos, a introdução de outras atividades, como o setor sucroenergético e a implantação de florestas artificiais. Se, por um lado, estas atividades têm gerado efeitos positivos, […]
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Mato Grosso do Sul, que até recentemente, apresentava como base da sua agropecuária o cultivo de soja e milho, além da produção extensiva de bovinos, tem observado nos últimos anos, a introdução de outras atividades, como o setor sucroenergético e a implantação de florestas artificiais. Se, por um lado, estas atividades têm gerado efeitos positivos, por outro, têm causado prejuízos a setores menos organizados ou desprotegidos, como a mandiocultura, principalmente pela valorização da terra.
No setor sulcroenergético, o Estado tem sido apontado como fronteira de expansão e os números, de fato, revelam essa realidade, haja vista que, no período compreendido entre 2000 e 2011, houve um acréscimo de 480% na área plantada de cana-de-açúcar e de 634% na sua produção, que representa aproximadamente, 37 milhões de toneladas.
Outras atividades que merecem destaque, pela realidade e potencial que representam, são aquelas voltadas à cadeia produtiva que envolvem as florestas artificiais, em particular o eucalipto, a ponto da celulose ser atualmente uma das principais pautas de exportação do Estado. Além disso, existem perspectivas de aumento de produção do carvão vegetal e de madeira serrada em Água Clara e Ribas do Rio Pardo, da utilização da madeira para o setor moveleiro em Nova Andradina e o grande potencial da seringueira, cuja área plantada tem aumentado nos municípios de Cassilândia, Paranaíba e Aparecida do Taboado. Estas atividades apresentam elevada importância para os municípios, em função da geração de emprego e renda e, para o Estado, pela diversificação estratégica de suas atividades, aumentando sua base de arrecadação e tornando-a menos vulnerável a oscilações do mercado.
Já a mandioca é produzida em todo Mato Grosso do Sul, com destaques para as regiões de Dourados, Iguatemi e Nova Andradina, cujas produções são voltadas para o processamento industrial, particularmente o de fécula, sendo o Estado importante produtor e exportador nacional. Em outras regiões, a produção é basicamente destinada ao consumo fresco, um nicho de mercado interessante, pois, o consumo familiar do sulmatogrossense é alto, 1,83 kg semanal, comparativamente superior ao tomate (1,73 kg), à batata (1,64 kg) e à cebola (1,04 kg), que são as principais hortaliças aqui consumidas.
Os produtores da região sul do Estado cultivam em áreas próprias e arrendam outras, mas a competição por terras com a cultura da cana é desigual, diminuindo consideravelmente a oferta, o que poderá culminar, em poucos anos, na diminuição ou estabilização da área plantada com mandioca. Uma possibilidade para o incremento de novos cultivos seria a migração para outras áreas. Pelas condições naturais, de qualidade do solo, distância dos mercados consumidores e logística, a região do Bolsão sulmatogrossense seria uma opção que, teoricamente, apresentaria custo do uso da terra inferior. P’orém, as atividades que envolvem o cultivo de eucalipto e o potencial da seringueira nessa região, podem inibir esse avanço.
Desse modo, quais seriam as saídas para o setor mandioqueiro diante desse quadro? Com certeza, não é maldizendo ou esperando o insucesso da cana, eucalipto e seringueira que hoje concorrem principalmente, por disponibilidade de terra para cultivo e mão de obra, pois os mesmos estão consolidados, organizados e possuem uma política pública favorável. Estudos envolvendo a inserção da mandiocultura dentro dos sistemas de produções dessas culturas seria uma das alternativas para o incremento de área plantada e produção, por exemplo, tornar atrativa a produção de raízes na sucessão/rotação na reforma dos canaviais e ser alternativa de consórcio nas áreas ocupadas com as florestas artificiais (eucalipto e seringueira) entre o período que envolve a implantação das árvores até a exploração dessas.
Porém, no sistema de produção da mandioca em si que deve haver a maior mudança, sendo prioritário o aumento da produtividade. Outro ponto em questão é a implementação de tecnologias que diminuam a necessidade de mão de obra, que além de elevar os custos de produção, atualmente escassa e cara, que poderá ser alcançada com a modernização das máquinas e implementos hoje usados, como a plantadora e o afofador (que auxilia no processo de colheita) e o advento de outras que agilizem outras etapas dos processos de produção.
No controle de ervas daninhas, o registros de produtos químicos para o seu controle e que apresentem a seletividade para a mandioca, notadamente será vital para as folhas largas. O melhoramento genético deverá buscar a obtenção de cultivares de mandioca com grande potencial produtivo e alto rendimento de fécula, resistência ou tolerâncias às doenças, como a bacteriose e o superalongamento, além de precocidade de colheita. Para a mandioca de mesa, os produtores e os comerciantes deverão garantir ao consumidor produtos que mantenham a qualidade durante todo o ano, além de diversificar o seu mercado com produtos como as linhas dos congelados, chips, salgados e alimentos biofortificados ou funcionais, com altos teores de carotenos, vitamina A e licopenos, e minerais essenciais, o que possibilita agregação de valor à produção.
Para os agentes da extensão rural e assistência técnica, a qualificação através de treinamentos no uso das tecnologias disponíveis é essencial para que estes possam desempenhar seu trabalho com qualidade. Aliado às questões de produção em si, a organização do setor, em todos os elos da cadeia produtiva será primordial para se alavancar políticas públicas que beneficiem e possibilitem novos horizontes à mandiocultura de Mato Grosso do Sul.
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