Especialistas avaliam assistência técnica prestada ao pequeno agricultor familiar
Um ajuste de linhas de crédito mais compatíveis com o pequeno produtor rural foi defendido nesta sexta-feira (23) em audiência publica que avaliou a oferta da assistência técnica e rural no âmbito da agricultura familiar. Outras sugestões, como o aperfeiçoamento da política de preço mínimo e armazenagem, a diminuição dos riscos de seguro agrícola e […]
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Um ajuste de linhas de crédito mais compatíveis com o pequeno produtor rural foi defendido nesta sexta-feira (23) em audiência publica que avaliou a oferta da assistência técnica e rural no âmbito da agricultura familiar.
Outras sugestões, como o aperfeiçoamento da política de preço mínimo e armazenagem, a diminuição dos riscos de seguro agrícola e a redução no custo da água também foram apresentadas pelos participantes do debate, realizado na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA).
Os debatedores defenderam a manutenção da assistência técnica e extensão rural “pública, gratuita e forte”, como instrumento de apoio tecnológico a milhares de pequenos produtores familiares, e a organização de sua base produtiva em consórcios, condomínios e cooperativas.
O repasse de informação tecnológica precisa atender a uma demanda que não havia em épocas passadas, sem falar nas exigências ambientais da modernidade e a inserção no mercado de trabalho, afirmou o representante do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Helídio José Rocha.
Helídio disse que este é o momento adequado para se discutir tanto a assistência técnica e a extensão rural, diante das transformações que ocorrem em todos os setores, como a forma com que a política agrícola tem sido vista no sistema de sustentabilidade.
“Cultura da Terra”
Segundo Helídio, o mundo vive um processo de êxodo rural, com a população urbana perdendo a cultura da terra, o que sobrecarrega a população do campo (16% no Brasil), que tem que produzir alimento para a porção que vive nas cidades.
– A China já virou esse patamar, hoje mais de 50% de sua população é urbana. A população rural tem ficado em uma faixa etária maior. O jovem tende a ir para o urbano- afirmou.
Helídio destacou que o Brasil passou a grande importador de alimentos e reforçou a sua balança comercial, em razão de sérias inovações tecnológicas e avanço em pesquisa. Ele afirmou, porém, que o modelo de desenvolvimento agropecuário do Brasil precisa melhorar muito.
– Temos produção sustentável em algumas áreas, a convencional já está com esse estoque tecnológico. O Brasil virou um player, mas com uma série de desequilíbrios – afirmou.
Entre estes, Helídio citou a concentração tanto dos fatores de produção como da produção em si. Ele explicou que poucos estabelecimentos (menos de 10%) respondem pela maior parte da produção agrícola brasileira.
Aumento da produtividade
Se o Brasil mantivesse a mesma tecnologia dos anos 60, afirmou Helídio, o país teria que ocupar mais 145 milhões de hectares só para a produção de grãos, Na pecuária, a área ocupada com o rebanho seria de 430 milhos de hectares a mais.
– A tecnologia reduziu o processo de expansão horizontal na agricultura, a produção do país cresceu pela produtividade, mas ainda há muito o que fazer – afirmou.
Helídio destacou que o Brasil até há pouco era importador líquido de alimentos, recebendo milhares de toneladas de trigo para combater a fome. Hoje, o país exporta para 215 destinos diferentes.
– Temos oportunidade de melhorar, evoluir na cana de açúcar, a pecuária pode ser mais produtiva. Na agricultura, chegamos ao topo, mas vemos que temos mais ainda. A capacidade genética das plantas é muito maior da que obtemos hoje – afirmou.
O Brasil é o 14º emissor de gás efeito estufa no mundo, ressaltou Helídio, e o país tende a assumir responsabilidades comuns e diferenciadas. A meta do ministério, afirmou, é duplicar a produção agropecuária, aumentar a produtividade em 50%, com a redução de perdas e investimentos, e preços compatíveis com um mercado melhor.
Desafios Futuros
Os custos trabalhistas e de logística foram outros desafios citados por Helídio. Segundo ele, os desafios pressionam o sistema de produção na propriedade, o que exige uma visão de transformação da agricultura convencional tecnológica em “alguma coisa mais eficiente e resiliente”, com mais equidade ao longo da cadeia.
– Mesmo o empregado rural precisa ser valorizado, e a produção de alimentos está aí. Ninguém quer mais um alimento com risco. Tudo isso influencia nos projetos agropecuários, e a questão tecnológica é central nisso – afirmou.
A segurança alimentar também foi citada por Helídio, devido ao considerável aumento da demanda por alimentos desde 2000. Até 2030 a população mundial, hoje em torno de 7 bilhoes de habitantes, crescerá em 1,7 bilhao de pessoas. Haverá inda o decréscimo de terras agricultáveis pela expansão imobiliária, associado ao desaparecimento de outras áreas em virtude das mudanças climáticas, afirmou.
– Vamos ter que produzir mais na mesma área com eficiência energética. O Brasil é o país que tem a maior qualidade de terras cultiváveis no mundo – afirmou.
Renegociação de dívidas
Já o secretário de Política Agrícola da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), Antoninho Rovaris, chamou atenção para a renegociação da divida dos produtores familiares. Ao longo dos últimos 16 anos, afirmou, os produtores não tiveram efetiva assistência técnica para buscar a melhor condução tecnológica de suas lavouras. Ele disse ainda que os recursos oficiais ainda não atendem a todos os agricultores.
– A recuperação de política publica de extensão rural não surte resultados imediatos, temos que ter compreensão muito clara que esse é um processo gradativo. Os recursos têm aumentado. Precisaríamos de R$ 2 bilhões por ano para fazer assistência digna – afirmou.
Para o chefe de gabinete do Ministério do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Brady, a assistência técnica na agricultura familiar precisa ser feita para elevar a produção de alimentos, com a geração de valor agregado, sobretudo em razão do recente crescimento da classe média no Brasil.
A classe C, aliás, “precisa muito” de assistência técnica e extensão rural, defendeu Daniel Küppel Carrara, representante do Senar, entidade que conta com 4.500 técnicos distribuídos no país. Ele disse que o papel do extensionista junto à classe C costuma ser substituído pelos vendedores de lojas de materiais e insumos agrícolas, o que nem sempre garante menor custo e rentabilidade para os produtores.
Apreensão
Durante a audiência pública, a palavra foi passada ao extensionista rural e engenheiro Júnior, que atua no escritório da Emater em Formosa (GO) e tem 27 anos de experiência profissional. Ele acompanhava o debate da platéia e expôs aos participantes os motivos de sua apreensão.
– As políticas públicas são muito boas, mas não têm chegado na base – afirmou.
Júnior provocou risadas ao afirmar que a extensão rural “está abaixo do que estão pregando”, e que a assistência técnica “vai bem” em apenas alguns estados do país. A título de comparação, ele citou que a área do município de Formosa, que conta com três técnicos e dois carros da Emater, é maior que a do Distrito Federal, onde a empresa de extensão rural local possui 110 técnicos e 80 veículos no campo.
– As políticas são ótimas, mas falta o elo de ligação, que é o extensionista – resumiu.
Na próxima sexta-feira (30), a CRA estará reunida em Cacoal para debater a agricultura do café no estado.
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