Corte do ponto na Educação é “um soco na cara da Assembleia” e revolta deputados

Parlamentares sentiram-se traídos por Puccinelli não respeitar compromisso público assumido pela Assembleia e agora prometem repensar fidelidade

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Parlamentares sentiram-se traídos por Puccinelli não respeitar compromisso público assumido pela Assembleia e agora prometem repensar fidelidade

Em clima de revolta, deputados reagiram na sessão desta quarta-feira (30) à quebra de acordo do governador André Puccinelli (PMDB). Após firmar compromisso com a Assembleia Legislativa, ele cortou o ponto de cerca de 1,5 mil servidores que acamparam na Casa de Leis em protesto a reajuste salarial de 6%.  Indignados, parlamentares classificaram a atitude como um “soco na cara” e prometem repensar a fidelidade ao Executivo.

A bancada de oposição não poupou críticas a Puccinelli, o chamando de autoritário e ditador. Até governistas partiram para o ataque por se sentirem traídos. Os mais calmos, por incrível que pareça, foram aqueles que, em público, prometeram, com base na palavra do governador, não ter desconto salarial por conta do manifesto.

Em plenário, o deputado Pedro Kemp (PT) abriu o debate e não poupou críticas a atitude de Puccinelli. Para ele, o governador quis dar um “corretivo” aos servidores a fim de intimidar a categoria. “Quem dá esse tipo de lição mostra ter pensamento autoritário”, comentou.

O petista ainda repudiou o fato de o Executivo não respeitar a base aliada. “Nem seu amigo pessoal e fiel aliado, ele atende”, disse em referência ao presidente da Assembleia, deputado Jerson Domingos (PMDB), que assumiu compromisso público de não ter desconto salarial.

Para o deputado Marquinhos Trad (PMDB), a traição do governador “foi um soco na cara da Assembleia”. “O clima aqui é de revolta porque acreditamos na palavra dele, mas na hora de cumprir o acordado ele deu um soco na cara da Assembleia”, lamentou.

Repensando a fidelidade

Também da base aliada, Lauro Davi (PSB), Diogo Tita (PPS) e Márcio Monteiro (PSDB) criticaram o governo e sugeriram um momento de reflexão. “Essa Casa ficou extremamente constrangida, acho que precisamos de um momento de reflexão sobre como atuar”, sugeriu o tucano.

Tita não entendeu a atitude do governo e questionou as vantagens de tal retaliação. “Esse fato não ajuda em nada, só a oposição ganha com isso”, avaliou. Para ele, Puccinelli não valorizou a “fidelidade canina” que conta na Assembleia. “O André tem esse lado trabalhador, por isso, ficou forte demais e agora não tem contraponto”, explicou.

Para Lauro Davi, a “base aliada foi traída”. A observação cai bem, principalmente, após votações nas quais os governistas deram prova de fidelidade. Ontem, por exemplo, livraram o governador de processos no STJ (Superior Tribunal de Justiça) e, na semana passada, apesar de constrangidos, votaram com o Executivo e contra servidores da Iagro em projeto que estabelece plano de cargos e carreira.

Reunião visa resolver impasse

Autores da promessa aos servidores, Jerson Domingos e Júnior Mochi, ambos do PMDB, evitaram entrar em confronto com Puccinelli. Mochi foi o primeiro a anunciar reunião do presidente da Assembleia com o governador hoje, a partir das 17 horas, para tentar encontrar uma solução para o problema.

Uma das propostas, segundo Kemp, é autorizar ao governo a descontar do duodécimo da Casa de Leis o valor para restituir os servidores. Segundo ele, o montante não supera a R$ 50 mil. “Isso deve fazer uma falta danada ao governo, que tem R$ 1,5 bilhão guardado”, alfinetou. “Isso só mostra que com o corte do ponto queriam tripudiar dos servidores que já ganham pouco”, emendou.

Cauteloso, Jerson preferiu acreditar que o corte do ponto foi “equívoco”. “Com toda certeza deve ter ocorrido um equívoco quando a folha foi rodada”, opinou. “Acho que qualquer medida minha agora vai ser precipitada, precisa prevalecer o bom senso”, concluiu.

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