Livro debate violência psicológica nas relações conjugais
A violência psicológica é uma modalidade de agressão bastante presente na sociedade brasileira. Protegida pelo silêncio, incorporada aos costumes, herança da cultura patriarcal, ela se instala nos lares desde muito cedo, levando os casais a estabelecer relações pobres e, muitas vezes, doentias. Estudiosa do assunto e militante da causa da prevenção e da erradicação da […]
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A violência psicológica é uma modalidade de agressão bastante presente na sociedade brasileira. Protegida pelo silêncio, incorporada aos costumes, herança da cultura patriarcal, ela se instala nos lares desde muito cedo, levando os casais a estabelecer relações pobres e, muitas vezes, doentias. Estudiosa do assunto e militante da causa da prevenção e da erradicação da violência, a psicóloga Adelma Pimentel apresenta um retrato dos embates psicológicos que acometem parceiros das mais diversas origens e classes sociais. No livro Violência psicológica nas relações conjugais – Pesquisa e intervenção clínica (152 p., R$ 36,90), lançamento da Summus Editorial, ela faz uma análise profunda sobre o tema, propõe a nutrição psicológica de cada membro do casal para que diminuam os conflitos e oferece elementos indicativos para romper o ciclo de violência e restabelecer os vínculos afetivos do casal.
Apesar da grande incidência nas relações conjugais, a agressão geralmente não é reconhecida pelos cônjuges, sobretudo pela mulher. Entre suas manifestações estão o deboche, a humilhação e o isolamento. Na avaliação da psicóloga, famílias são organizações complexas, dialéticas e ambíguas. Campo de diversos choques, ódios e de trânsito voraz de rápidas, variadas e múltiplas emoções que podem coexistir no mesmo dia, conforme os atores e seus atos. “Dentro delas, os embates atravessados pela violência psicológica podem contribuir para forjar casamentos precipitados, uniões estáveis e até mesmo namoros que perpetuam o círculo vicioso de aprisionamento dos sujeitos”, complementa.
Num mundo totalmente reconfigurado, em que os papéis de gênero sofrem mudanças a cada dia, o livro é um referencial para discutir antigos modelos familiares e novos caminhos de expressão, baseados no autoconceito, na autoestima e na autoimagem nutridos psicologicamente desde a infância. “O objetivo é cooperar com os esforços coletivos para atualizar e renovar nossa humanidade, tão fragilizada pela supressão de valores éticos”, afirma a autora. Para ela, o diálogo é o nutriente imprescindível de uma relação afetiva amorosa. Ele é mediador do fortalecimento dos vínculos e do não enraizamento das violências privadas, sobretudo a psicológica.
Dividido em três partes, o livro aborda as características da violência psicológica, mostra de que forma o casal deve enfrentá-la e oferece indicativos para a desconstrução da violência e reconstrução da afetividade e do vínculo. “Na relação, convivemos, fluímos e transitamos entre papéis e perspectivas. Assim, mulheres e homens podem se alternar, sendo dialeticamente ora vítima, ora algoz, ou sujeitos livres e amorosos”, explica a psicóloga. Para ela, a transformação subjetiva e social deriva de políticas públicas para educação, trabalho e cultura, de procedimentos relacionais e da renovação dos processos educativos informais praticados pelas famílias.
Fundamental para pesquisadores da área das ciências sociais e para todos aqueles que trabalham com a prevenção da violência intrafamiliar, a obra é resultado de dois anos de trabalho, incluindo pesquisa baseada na intervenção clínica e na investigação qualitativa. Ao longo dos capítulos, a autora examina a socialização dos gêneros masculino e feminino, propõe a visão gestáltica da desestruturação da violência e analisa a eficácia da psicoterapia de casais.
Ao abordar a violência psicológica em relação ao gênero feminino, por exemplo, a autora afirma que a submissão das mulheres na sociedade patriarcal inclui humilhações, preconceitos e discriminações. Para ilustrar essa premissa, ela analisa um acontecimento recente que envolveu, em São Paulo, uma instituição de ensino superior privada, uma jovem e centenas de estudantes. Na ocasião, Geisy Arruda foi identificada em rede nacional como mulher “fácil”, “exibicionista”, que portava um vestido “inadequado” ao convívio acadêmico.
Na avaliação da autora, o cenário público em que o despotismo opera permite que a barbárie se instale. A violência psicológica na família pode destruir o autoconceito e a autoestima de alguém como a de Geisy Arruda, que desafiou o instituído em sua universidade. “Penso que aquela pessoa que vestia o criticado vestido cor-de-rosa morreu existencialmente, dando lugar ao personagem”, complementa.
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