Prefeitura dá ultimato a vendedores de coco e guarda municipal faz batida no local

Antes da polícia chegar aos Altos da Afonso Pena, ambulante falou ao Midiamax sobre o medo de perder frente de trabalho

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Antes da polícia chegar aos Altos da Afonso Pena, ambulante falou ao Midiamax sobre o medo de perder frente de trabalho

Agentes da Guarda Municipal e fiscais da Prefeitura tentam expulsar vendedores de água de coco da Avenida Afonso Pena. Eles alegam que é irregular o trabalho dos ambulantes. O Midiamax está no local e acompanha o caso.

Hoje, 4 horas antes do ‘despejo’ um dos vendedores pediu para falar sobre o medo de ter que sair do local. Eis a reportagem:

Realidade

Quem nunca parou nas barracas espalhadas pela Avenida Afonso Pena para tomar água de coco e se refrescar no calor escaldante de Campo Grande?

Há algum tempo esses vendedores lutam para não serem expulsos do local. Na última sexta-feira (29), a Prefeitura de Campo Grande deu um ultimato aos vendedores para que eles não mais trabalhassem durante a manhã e tarde, somente durante as noites.

A situação tira o sono dos vendedores de coco, Ivando Marcos Zuim, 49, que sustenta a casa que mora com a mãe de 75 anos.

Ele conta que por volta do dia 24 de novembro de 2009 a Prefeitura pediu que alguns vendedores saíssem do local. Indignado ele fala que não está ali de graça. “Pagamos em média R$ 150,00 de energia elétrica por mês”.

Na época do Natal, relata, pediram que ele fosse mais para baixo para não atrapalhar a passagem dos trabalhadores da cidade do Papai Noel. “Foram 40 dias, pareceu uma eternidade”.

“Quando encerraram as visitas na cidade do papai Noel pedi para um fiscal cujo o nome é Delcídio. Quem vai querer tomar água de coco debaixo de sol? Então Delcídio [ele sabe somente o nome do fiscal, segundo Ivando, Delcídio é um dos chefes dos fiscais], me autorizou a voltar”.

“Após a autorização, eu voltei para meu antigo lugar e os agentes da Prefeitura vieram pedir para que eu voltasse. Fui falar com o Delcídio novamente e os agentes voltaram e falaram que era para eu recolher meu carrinho, que não ia mais me autorizar a trabalhar ali”.

“Falaram que era para eu sair e que iam apreender o carrinho com tudo que tinha dentro”.

Ele conta que teve o aval do senador para ficar no local e os agentes mais uma vez voltaram e pediram para montar o carrinho somente após às 18h. “Como que eu vou chegar 18h para trabalhar? É muito tarde e esse horário os carros param na avenida e não sobra espaço para eu parar”. “Eu dependo disso daqui para sobreviver”

“O que eu acho injusto é que alguns vendedores foram autorizados a trabalhar normalmente, outros não. Se for lei para um, tem que ser para todos. Direitos iguais.”

O vendedor conta que compra o coco por R$1,50 e vende por R$ 3,00. “Meu lucro é de R$ 0,70 por coco vendido por dia. Tenho despesas como gasolina, guardanapos e canudos”.

“Se a prefeitura quiser cobrar uma taxa para termos permissão para trabalhar, eu pago. A única coisa que eu quero é que me deixem trabalhar e que me deixem chegar na hora que eu quiser”.

Desamparo versus legalidade

Ele conta que já paga uma taxa de R$ 50 para a Prefeitura para ter o direito de vender os cocos. “Os fiscais ficaram de voltar aqui segunda-feira para retirar a gente daqui”

Em dias de semana ele conta que costuma chegar na avenida às 14h e fica até 23h. Aos fins de semana ele chega mais cedo e fica até às 23h.

Com a voz embargada e com lágrimas nos olhos ele diz que tira das vendas dos cocos o único sustento da casa. “Eu dependo disso aqui pra sobreviver. Tenho medo de perder minha única fonte de renda. Eu vou fazer o que? Não podem fazer isso com a gente”

O irmão de Ivando, Ronaldo Ivan Zuim, 43, também tem um carrinho de cocos distante a 150 metros do dele. Há 12 anos no mesmo lugar, Zuim diz que não existe uma legislação que impeça os vendedores de ocuparem o local.”Só queremos o direito de poder trabalhar com dignidade e honestidade. Temos o direito de por o pão de cada dia na mesa da nossa família. O IPTU eu pago com o dinheiro que ganho das vendas desse trabalho.

Ronaldo mora com a esposa e uma filha de 9 anos e sustenta a família com a renda da venda dos cocos.

Por volta das 18 horas de hoje, seis homens reapareceram na avenida Afonso Pena, ameaçando o vendendor de cocos. Entre os homens que foram descaracterizados realizar as ameaças, estava um senhor que se identificou como policial civil e segurança pessoal do prefeito. Quando a reportagem do Midiamax retornou ao local, os guardas municipais acompanhados do segurança do prefeito se retiraram sem dar entrevista.

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