Mulheres índias querem fim de “cultura da violência” nas aldeias
Em evento alusivo ao Dia das Mulheres na Praça do Rádio Clube, elas chamaram atenção para estupros que têm feito adolescentes virarem mães nas aldeias e cobraram providências do poder público
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Em evento alusivo ao Dia das Mulheres na Praça do Rádio Clube, elas chamaram atenção para estupros que têm feito adolescentes virarem mães nas aldeias e cobraram providências do poder público
Elas deixaram os afazeres nas aldeias onde moram e hoje pela manhã estiveram na Praça do Rádio Clube, em Campo Grande para fazer um pedido: querem o fim da cultura da violência que atinge mulheres indígenas. Em meio ao evento alusivo ao Dia Internacional da Mulher, comemorado no dia 8 de março, elas chamavam a atenção expondo o autêntico artesanato indígena e cobrando atenção das autoridades.
Priscila Maciel Guarani, da Reserva Indígena Bororó, em Dourados, é uma liderança entre as mulheres indígenas e reivindica a presença do poder público nas aldeias. “Agora, nossa ação é voltada para as jovens indígenas. Algumas foram abandonadas em sua infância e hoje são mães aos 13 ou 14 anos”, explica.
A gravidez é resultado de uma cultura de violência que existe nas aldeias, segundo Priscila Guarani. “As meninas são violentadas, muitas vezes pelos próprios padrastos”, denuncia. “O pior é que quando a gente procura os caciques para reclamar da situação o que mais se ouve é eles dizerem que é cultural”, reclama.
Priscila se cansou de ouvir tais respostas e hoje luta para que políticas de prevenção à violência cheguem às aldeias.
Susi Guarani, filha da conhecida liderança indígena Marta Guarani, falecida em 2003, concorda que a gravidez na adolescência está entre os maiores problemas que assolam as aldeias do Estado. “O que se vê é uma criança cuidando de outra criança”, relata.
Próximo à banca de Priscila, também expondo o artesanato está a jovem Silmara Terena de 19 anos. Ela explica que não pode falar com a imprensa a menos que o cacique permita.
Dionedson Terena, o cacique da aldeia Água Bonita, em Campo Grande, que acompanhou Silmara e um grupo de mulheres indígenas ao evento na praça libera o diálogo.
Então, Silmara conta orgulhosa que confecciona colares. A jovem também se dedica aos estudos, mas não tem pretensões de viver de forma diferente de suas antepassadas. Sobre o domínio masculino, ela não se incomoda. “É assim mesmo. Dá uma sensação de proteção”, revela.
Dionedson Terena conta que a discussão sobre a importância das mulheres já chegou a aldeias, mas o papel delas, por uma questão de tradição, permanece secundário. “As mulheres terenas não participam das reuniões”, comenta.
Ele conta que na Água Bonita não há registros de violência contra as mulheres. “Lá é tudo tranqüilo”, assegura. Contudo, o cacique analisa que o combate a este tipo de problema cabe às lideranças indígenas.
O evento de hoje foi organizada pela setorial feminina do PT (Partido dos Trabalhadores). Kátia Guimarães, Secretária da Setorial das Mulheres do partido, diz que o ato deste ano é especial por está completando 100 anos do dia 8 de março.
Uma das idéias do evento era justamente reunir mulheres para denunciar as várias formas de violência praticadas na sociedade. “Nestes 100 anos houve grandes avanços. As mulheres votam, estão inseridas no mercado de trabalho, mas ainda há um grande caminho a se percorrer”, conta Kátia Guimarães.
Ela estima que pelo menos 500 mulheres tenham participado do evento petista em alusão ao Dia 8 de Março.
Participaram do evento, lideranças do PT como o senador Delcídio do Amaral, os deputados federais Antônio Carlos Biffi e Vander Loubet, os estaduais Paulo Duarte, Pedro Teruel, Pedro Kemp e Amarildo Cruz e os vereadores Thais Helena, Cabo Almi e Paulo Pedra, este último filiado ao PDT. O ex-governador Zeca do PT e a esposa dele Gilda Gomes dos Santos também compareceram.
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