Ex-militares se transformam em “armeiros” para traficantes no Rio

Pelo menos sete ex-militares foram presos em menos de um ano no Rio de Janeiro por suspeita de envolvimento com o tráfico..Com grande experiência em táticas de guerrilha e manuseio de armas, ex-militares das Forças Armadas, principalmente os oriundos da Brigada Paraquedista do Exército, continuam sendo mão de obra valiosa para traficantes e milicianos no […]

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Pelo menos sete ex-militares foram presos em menos de um ano no Rio de Janeiro por suspeita de envolvimento com o tráfico.
.Com grande experiência em táticas de guerrilha e manuseio de armas, ex-militares das Forças Armadas, principalmente os oriundos da Brigada Paraquedista do Exército, continuam sendo mão de obra valiosa para traficantes e milicianos no Rio de Janeiro.

Em menos de um ano, pelo menos sete ex-combatentes foram presos no Estado suspeitos de envolvimento com o tráfico de drogas ou grupo paramilitares. Segundo relatos de policiais civis e militares, antigos paraquedistas atuam na comunidade da Rocinha, na zona sul da capital fluminense, no complexo da Penha, na zona norte, e na Vila Aliança, na zona oeste.

O recrutamento de ex-militares por criminosos vem sendo investigado pela polícia do Rio desde a década de 1990. Segundo policiais e um ex-paraquedista, os ex-combatentes são contratados como armeiros (para fazer a manutenção dos arsenais), como seguranças dos chefes das quadrilhas ou para ensinar técnicas de guerrilha aos bandidos, para que eles invadam comunidades rivais ou resgatem cúmplices.

Um levantamento feito pelo Ministério Público Militar, entre os anos de 1997 e 2007, na Brigada Paraquedista do Rio revela que, dos 200 combatentes que abandonaram os quartéis neste período – os chamados desertores -, pelo menos sete se envolveram com o tráfico de drogas.

Há duas semanas, agentes da Polinter apreenderam na Rocinha, um manual com supostas instruções de guerrilha para patrulhar a comunidade contra ações policiais que, segundo investigadores, só pode ter sido elaborado por alguém com conhecimento militar. A comunidade, segundo um agente da Dcod (Delegacia de Combate às Drogas), abriga dois ex-paraquedistas conhecidos por “Jorginho PQD” e “Rodrigão”.

No complexo da Penha, um policial da delegacia de Brás de Pina (38º DP) informou que um criminoso identificado como “Da Lua” seria ex-militar e treinaria traficantes para ações violentas. Ele só manusearia armas pesadas, como metralhadoras ponto 30, arma antiaérea. No vizinho complexo do Alemão, um chileno apelidado de “Gringo” é encarregado de ensinar as técnicas aos bandidos.

Na favela Vila Aliança, em Bangu, na zona oeste, o Serviço Reservado (P2) do batalhão do bairro está a procura de um suposto armeiro da quadrilha do traficante conhecido como “Aírton PQD” que, segundo um oficial da unidade, seria oriundo das Forças Armadas.

Prisões

A última prisão de um militar supostamente envolvido com o tráfico ocorreu na semana passada no morro da Providência, no Santo Cristo, zona portuária, durante operação para a implantação de uma UPP (Unidade de Polícia Pacificadora). Segundo policiais, o rapaz, que já teria virado desertor, saiu da Brigada Paraquedista. Ele, que ainda não tinha antecedentes criminais, foi levado para o quartel onde servia.

Em janeiro de 2010, a Polícia Civil capturou um ex-militar conhecido como “PQD” na favela da Chatuba, em Mesquita, na Baixada Fluminense. O R7 apurou que, por conta desta prisão, ele responde a um processo por tráfico de drogas da 1ª Vara Criminal de Nova Iguaçu. O ex-militar serviu no Centro de Instrução Paraquedista.

Em dezembro de 2009, foi preso na Cidade de Deus, em Jacarepaguá, na zona oeste, um jovem de 26 anos conhecido na comunidade como “PQD”. Segundo as investigações, ele atuaria na venda de drogas e na vigilância de um dos pontos de venda de drogas na localidade Karatê. Ele foi denunciado pelo Ministério Público Estadual. O rapaz serviu no Centro de Avaliação e Adestramento do Exército.

Pouco antes, em 24 de novembro, um suspeito de nome Diego, ex-integrante da Brigada Paraquedista, foi preso na Vila Aliança com uma pistola, três carregadores e drogas. Segundo policiais militares, ele atua como segurança e era era responsável pelo armamento do chefe do tráfico local conhecido como “Matemático”. Diego condenado a cinco anos de prisão pela Justiça do Rio. Ele também serviu no Centro de Instrução Paraquedista.

Ainda na zona oeste, em setembro do ano passado, a Polícia Militar também prendeu um ex-paraquedista suspeito de ser o armeiro do tráfico no conjunto habitacional Fumacê, em Realengo, zona oeste. O rapaz, conhecido pelo apelido de “Madruga”, estava com um fuzil. À Justiça, ele confessou que guardava a arma em casa em troca de dinheiro. Foi condenado a três anos e 11 meses de prisão mas, por ser réu primário, ganhou o direito de cumprir a pena em liberdade. No mesmo mês, um outro ex-paraquedista identificado pelo apelido de “Mito” também foi preso. Ele era suspeito de ser um dos chefes do tráfico dos morros da Pedreira e da Lagartixa, na zona norte.

Três meses antes, em junho, foi preso um ex-paraquedista apelidado de “Longa”. Segundo a Polícia Civil, ele era armeiro da milícia comandada pelo ex-PM “Batman” na zona oeste carioca. Longa foi considerado desertor pela corporação em 2000, após servir no 25º Batalhão de Brigada Paraquedista . Um ano antes, o ex-paraquedista já tinha sido preso. Na época, junto com ele foi apreendido um grande arsenal: uma pistola calibre 380, um revólver 45, uma espingarda calibre 12, um colete a prova de bala, 15 granadas, 97 munições calibre 7.6.2, munições calibre 12 e 380, dois carregadores, e um rádio transmissor.

O relatório da CPI das Milícias da Assembleia Legislativa, encerrada em 2009, indica que haveria um ex-paraquedista no grupo paramilitar que controla os morros do 18 e do Saçu, em Quintino, na zona oeste do Rio.

Nos anos anteriores, outros ex-integrantes da Brigada Paraquedista também foram presos suspeitos de ligação com o tráfico. O caso que chamou mais atenção da mídia aconteceu em 2007, quando o traficante “Marcelo PQD” e outros quatro ex-militares foram presos ao se preparar para invadir o morro do Dendê, na Ilha do Governador, na zona norte.

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