Elenco faz a força de Chico Xavier, que estréia hoje nos cinemas

Logo no primeiro flash-back de Chico Xavier, o diretor Daniel Filho e o roteirista Marcos Bernstein retrocedem à infância do futuro médium. O menino Chico, órfão de mãe, sofre na mão da madrinha. É uma megera que martiriza o garoto, no sentido literal, do martírio físico. A madrinha obriga Chico, embaixo de pancada, a lamber […]

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Logo no primeiro flash-back de Chico Xavier, o diretor Daniel Filho e o roteirista Marcos Bernstein retrocedem à infância do futuro médium. O menino Chico, órfão de mãe, sofre na mão da madrinha. É uma megera que martiriza o garoto, no sentido literal, do martírio físico. A madrinha obriga Chico, embaixo de pancada, a lamber a ferida de seu filho. O filme abre-se com esta metáfora – Chico fez da sua vida um Evangelho de amor; mais do que tolerância, dedicação ao outro.

É um exemplo de altruísmo difícil de ser seguido, mas pode-se tentar. Daniel Filho já contou, em entrevista ao Estado, que é ateu. Disse que não pretendia realizar o filme, contentando-se em ser seu produtor. As circunstâncias o fizeram assumir a direção. A vida de seu biografado interessa-lhe como exemplo de amor. Ele está satisfeito com o resultado. Agradece particularmente a seus atores, e ao trio que interpreta Chico em diferentes momentos da vida – o garoto Matheus Costa, Ângelo Antônio, já adulto, e Nelson Xavier na terceira idade. Há uma unidade na interpretação. Nelson Xavier interpreta Ângelo Antônio (e vice-versa). Daniel Filho admite que foi intencional.

Chico Xavier chega hoje a centenas de salas de todo o País. A data de estreia foi cuidadosamente escolhida. Feriadão de Páscoa, comemoração do centenário de nascimento do médium mineiro. Os espíritas vão querer ver o filme? Daniel Filho acha que o filme passa do milhão de espectadores, “talvez” chegue ao milhão e meio, mas não arrisca a larga afluência de público sonhada pelo distribuidor Bruno Wainer, da Downtown (que já foi atropelado pelo baixo rendimento de Lula, o Filho do Brasil, vale lembrar).

Existem coisas boas no filme. A estrutura toma como eixo a participação de Chico no programa Pinga-Fogo, da TV Tupi. A narrativa retrocede em flash-backs e, no desfecho, ao longo de 6 minutos, o público é brindado com imagens do próprio Chico contando histórias que foram reconstituídas pelos atores. O casal Tony Ramos/Cristiane Torloni sintetiza posições divergentes em relação ao personagem. Alguns momentos são fortes – a descoberta da mediunidade e da psicografia, base da doutrina de Chico; a morte do irmão; a defesa da sexualidade no programa de TV (em plena ditadura); a psicografia fazendo jurisprudência, ao ser aceita como prova no tribunal.

Outros momentos são pura comédia – a primeira noite que vira oração no bordel; as disputas de Chico com o espírito de Emmanuel, por causa da peruca; todo o episódio do avião, com a reação que o medo da morte provoca no homem que, a princípio, deveria estar familiarizado com “o outro lado”. Daniel Filho parte do princípio de que se pode filmar a fé, mas não explicá-la. Os trejeitos e a vaidade estão lá. A sexualidade nem chega a ser escamoteada – Chico era assexuado, garante o diretor. O personagem é revelado em sua grandeza, mas não santificado. A cena mais bela, pelo significado humano, é a do beijo, no confronto com a irmã, por causa da casa que virou um inferno.

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