Com ”cartilha” para escolas de MS, movimentos sociais ensinam sobre efeitos da corrupção

Com o sugestivo título ”Corrupção Mata”, uma cartilha explica como atos de improbidade administrativa e no cotidiano das pessoas podem prejudicar a comunidade em geral. O material surgiu após o escândalo de supostas propinas no Parque dos Poderes.

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Com o sugestivo título ”Corrupção Mata”, uma cartilha explica como atos de improbidade administrativa e no cotidiano das pessoas podem prejudicar a comunidade em geral. O material surgiu após o escândalo de supostas propinas no Parque dos Poderes.

Adulteração, suborno, perversão. Três significados para uma palavra lamentavelmente comum no vocabulário popular. A corrupção, prática disseminada entre todos os segmentos da sociedade, virou tema de um jornal especial editado pela Federação dos Trabalhadores em Educação (Fetems) em parceria do Centro de Defesa dos Direitos Humanos Marçal de Souza (CDDH). Outras 170 entidades apoiam a iniciativa.

Em forma de cartilha, o informativo “Corrupção mata” faz várias comparações a partir das denúncias de corrupção em Mato Grosso do Sul. Cerca de 100 mil exemplares foram distribuídos a todas as escolas estaduais, para servir como material de apoio ao professor em sala de aula.

A edição “Corrupção mata” foi elaborada a partir das declarações do deputado estadual Ary Rigo (PSDB) em vídeo da Polícia Federal durante a Operação Uragano. Sem saber que estava sendo gravado, o deputado disse que repassava dinheiro da Assembleia Legislativa a membros do Tribunal de Justiça, Ministério Público e até o governador do Estado, André Puccinelli.

A existência de um suposto “mensalão” motivou o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) a apurar as denúncias durante uma vistoria no Estado, entre os dias 29 de novembro e 1º de dezembro.

O jornal demonstra que, no Estado e no país, a corrupção tem muito a ver com a falência de serviços públicos básicos ao cidadão, como a saúde e a segurança.

“Em Mato Grosso do Sul, por exemplo, na mesma época em que 21 crianças indígenas morriam de desnutrição, contratos e licitações da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), para atender às comunidades indígenas do Estado, tinham superfaturamento e sérias irregularidades”, diz o jornal.

Os efeitos nefastos do desvio de dinheiro público refletem até mesmo em indicadores internacionais. O jornal noticia que, segundo a Organização Mundial da Saúde, a corrupção contribui anualmente com a morte de 15 mil brasileiros que vivem sem água tratada ou esgoto.

O informativo resgata ainda o histórico de escândalos que assolaram o país e o mundo, como o caso Watergate (1970), que levou à queda do presidente americano Richard Nixon do poder; e o caso Lalau (anos 90), em que o juiz Nicolau dos Santos Neto comandou esquema de desvio de R$ 169 milhões da construção da sede do Tribunal Regional do Trabalho, em São Paulo.

Você e a corrupção

O jornal editado pelos movimentos sociais reforça que a corrupção não é uma prática isolada e existente apenas no mundo político. Pequenos gestos do cotidiano podem ser vistos como graves desvios de conduta. A corrupção pode começar em casa, mas a responsabilidade para acabar com ela é de todos.

“Tentar furar a fila, sair sem pagar a conta, não respeitar as vagas para idosos e pessoas com deficiência, dar dinheiro para o policial não aplicar multa no trânsito, lucrar centavos com o troco, falsificar notas escolares, comprar diplomas, trocar o voto por dinheiro ou favor”, informa o texto. Olhando pela perspectiva da ética, a corrupção não está tão distante assim de nossa realidade.

Para o presidente do CDDH, Paulo Ângelo de Souza, as investigações das denúncias em Mato Grosso do Sul demonstram a indignação da sociedade para os supostos crimes praticados na administração pública. “A corrupção é a coisa mais complicada porque atinge todas as classes sociais. Ela não escolhe prejudicar o rico ou o pobre. É o nosso imposto que está sendo desviado de sua finalidade”, afirma.

“Há evidências de que alguma coisa está errada. Não é possível jogar tudo isso para debaixo do tapete”, completa Souza.

O jornal da Fetems já é uma tradição da entidade, que há cinco anos edita os informes “Aula da cidadania” e “Quadro verde”.  Diversos temas relevantes foram abordados, como racismo, violência contra a mulher e a questão indígena.

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