Adolescente que faz tratamento contra câncer vai fazer o Enem no hospital em São Paulo
Em vez da quimioterapia, 180 questões e uma redação. Assim vai ser o próximo fim de semana de Ítallo Campeão, de 16 anos, paciente do Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer, o GRAAC. Ele é um dos oito adolescentes que farão o Enem ali, nas dependências do hospital. Em todo o […]
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Em vez da quimioterapia, 180 questões e uma redação. Assim vai ser o próximo fim de semana de Ítallo Campeão, de 16 anos, paciente do Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer, o GRAAC. Ele é um dos oito adolescentes que farão o Enem ali, nas dependências do hospital. Em todo o País, foram feitos 334 pedidos para aplicação em classes hospitalares.
“Olha, depois de tudo o que passei, não consegui estudar muito. Mas não custa tentar, não é? Fazer o Enem é voltar à vida real”, diz ele, pausadamente, enquanto a enfermeira troca sua bolsa de soro mais uma vez.
Quem o vê tão calmo, não consegue imaginar como foi que o garoto chegou ali, no início do ano. “Mas por que logo comigo?” Era aos prantos que ele repetia a frase logo após o médico do GRAAC lhe comunicar que ele tinha um tumor ósseo.
Morador de Ourinhos, no interior do Estado de São Paulo, Ítallo começou a sentir dores e inchaço no joelho em setembro do ano passado. De início, o ortopedista achou que fosse apenas uma torsão. Como a dor persistiu, foi pedida uma ressonância magnética e o diagnóstico constatou o osteossarcoma.
A viagem para a capital, em janeiro, já foi feita com bagagem suficiente para meses. No início, Ítallo ficava o tempo todo no hospital. Agora, com o avanço do tratamento, fica internado apenas na semana em que recebe a quimioterapia. Entre um ciclo e outro, “mora” com a mãe na casinha, como é conhecido o espaço de apoio do Graac.
Mas, mesmo nesses dias, precisa ir ao hospital diariamente para fazer fisioterapia. A recuperação da cirurgia para a inserção de uma prótese tem sido muito boa, sem rejeição, nem dores nos 51 pontos que teve de levar. Mas não se pode descuidar.
“Cansa, cansa muito tudo isso. Quando saio daqui para a rua, parece que estou em outro planeta”, conta ele. “Dá até para assistir a um filme no cinema e dar uma volta no shopping. Mas daí, sei que preciso voltar.”
Aula no hospital
Durante todo este ano, Ítallo foi aluno da Escola Móvel do Graac, uma estrutura que congrega 15 professores e atende cerca de 300 alunos-pacientes por ano. O atendimento é individual e as disciplinas são dadas de acordo com o currículo regular. Só sala de aula é que não existe. As aulas podem acontecer na quimioteca, no quarto de internação, onde o estudante estiver.
No sábado, o malote lacrado com as provas chegará ao GRAAC às 7h30 da manhã. Só será aberto, por um fiscal designado pelo Ministério da Educação (MEC), no horário de início do exame.
Cada um dos oito inscritos fará a prova como puder. “Pode ser que algum deles tenha de fazer com uma mão na caneta e outro braço na químio. Mas o que buscamos é respeitar o desejo e o direito de cada paciente de continuar estudando”, explica Amália Covic, coordenadora da Escola Móvel.
A esperança de Ítallo é, agora que terminou o último ciclo da quimioterapia, fazer os exames finais, receber alta daqui a um mês e voltar definitivamente para Ourinhos. Lá, vai pensar com calma em qual profissão escolher. “Neste ano, só pensei em me curar. Vou ver meu rendimento no Enem e pensar nas possibilidades, sonhar com um futuro.”
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