De grafiteiro a vândalo: rapaz que ganhou concurso é detido e quer reaver material

Grafiteiro tenta explicar que a arte é espontânea e que há mais beleza em um muro colorido e trabalhado do que em um local “sem vida”.

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Grafiteiro tenta explicar que a arte é espontânea e que há mais beleza em um muro colorido e trabalhado do que em um local “sem vida”.

O grafiteiro Muriel Oliveira, de 24 anos, ganhador do segundo lugar do concurso de grafites em tapumes que cercam a reforma da praça Ari Coelho, está inconformado com o que aconteceu com ele e seus colegas no último dia 13. Eles foram detidos pela Guarda Municipal de Campo Grande por fazer uma arte no muro da SAS (Secretaria de Assistência Social).

“Eu estava sem autorização para fazer, reconheço isso, mas a arte do grafite é espontânea. O muro estava lá, todo feio, nós só queríamos melhorá-lo”, explicou Muriel, morador do bairro Caiobá II.

Ele conta que existe um projeto na Fundac (Fundação Municipal de Cultura) sobre grafite que não sai do papel e que a ideia era apenas mostrar a arte. “Nós não ganhamos nada dos governantes, usamos a nossa tinta para deixar o lugar bonito e agora estamos fichados como vândalos”.

No projeto, alguns pontos da cidade como viadutos e muros seriam pintados com a arte dos grafiteiros. “Fui convidado para desenvolver as artes, opinar e fico triste ao ver que não saiu do papel, não há incentivo. Enquanto isso, os muros continuam feios por aí”, critica.

Muriel lamenta também ter o seu material de trabalho detido. “São mais de vinte latas de spray importadas, sete pincéis, três litros de látex e as válvulas. É com isso que pinto, com isso que trabalho. As pessoas acham bonito de ver, mas o Governo não incentiva. Preferem incentivar as duplas sertanejas”, reclama.

“É estranho a gente ser preso num lugar de apoio, como a SAS. Mas estranho ainda é a gente ser enquadrado como vândalo, grafite é arte. Na hora de sermos detidos como bandidos, muita gente que passava achou ridículo e falou que nosso trabalho estava lindo. Só quero ter a oportunidade de trabalhar e terminar o que a gente começou no muro”, explica o artista.

Não autorizado

A assessoria de comunicação da Prefeitura Municipal de Campo Grande diz que o grupo não tinha autorização de fazer o grafite no muro. A assessoria da Fundac nega que tenha em andamento um curso de grafite, mas admite que há o projeto para a realização do mesmo.

Por enquanto também não foi decidido o que será feito com o muro, se vai ser pintado com tinta branca novamente ou se a arte será desenvolvida nele.

O caso

Os grafiteiros Muriel Oliveira, 24 anos, Alberto Peres, 22 e Raoni Ramires Figueiredo, de 25 anos, foram presos em flagrante na manhã do dia 13 de junho no momento em que realizavam uma pintura nas paredes da SAS (Secretaria Municipal de Assistência Social), na Rua Orfheu Baís, no bairro Amambaí, em Campo Grande.

Eles estavam do lado de fora do órgão, já terminando um dos desenhos nas paredes, quando foram surpreendidos por um Guarda Municipal e levados para a Depac (Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário) Centro.

O caso deve ser conduzido pela Decat (Delegacia Especializada de Repressão a Crimes Ambientais e Proteção ao Turista), já que eles serão indiciados por não respeitar a lei n° 9.605/1998, que se refere aos Crimes Ambientais.