Já virou rotina. O cidadão faz uma solicitação de corrida com carros de aplicativo e não obtém resposta. Se é aceita, logo é cancelada. Este é um “drama” enfrentado por boa parte dos usuários das plataformas de corridas, tais como Uber, 99 e Indriver.

O que muita gente não sabe, no entanto, é que o valor final das corridas para os motoristas parceiros está diretamente associado às recusas e taxas de cancelamento em Campo Grande. Isso porque o valor da corrida não é repassado integralmente aos condutores e, da parte que sobra, ainda é preciso arcar com combustível, manutenção e, muitas vezes, aluguel de carros.

Dessa forma, para não ficarem no prejuízo, os motoristas precisam fazer alguns cálculos matemáticos, que levam em conta basicamente o valor recebido por quilômetro rodado em todo o trajeto. Sim, a verdade nua e crua é que nem toda corrida vai compensar para o condutor, independente da plataforma escolhida para trabalhar.

Baixos repasses, grandes escolhas

Segundo Wanderson Bignardi, de 43 anos, que atua como motorista de aplicativo desde 2017, as baixas remunerações nos valores repassados aos motoristas parceiros têm feito com que “escolham” aquelas mais lucrativas para eles.

Em grupos de Facebook especializados em aplicativos de carona, os usuários são explícitos em apontar que há corridas que simplesmente só vão dar prejuízo. E, assim, eles começam a compartilhar informações que ajudam a fazer as escolhas de viagens.

(Reprodução, Facebook)

Para isso, utilizam-se de cálculos que consideram o valor do repasse da plataforma e a expectativa de gastos que o motorista terá com combustível, manutenção e até o aluguel do carro, em alguns casos. O cálculo pode ser complexo e, por isso, estão disponíveis nas lojas de aplicativos para dispositivos móveis, aplicativos que realizam o cálculo de forma simples. Exemplos são o DSW, StopClub e rebU.

Aplicativos ‘sincerões’

“Dirija com segurança, fature mais! Esse é o lema do aplicativo rebU” – assim se apresenta um dos aplicativos na Play Store. Um de seus usuários o avalia com cinco estrelas e, em seguida, comenta: “Primeiro dia de uso aumentei meus lucros em 30%”.

O StopClub é mais discreto e se apresenta como um aplicativo de conexão entre motoristas. “Trabalhe mais seguro e conecte-se com motoristas da sua cidade!”, se autodescreve na loja.

Já o DSW diz logo a que vem: “Otimize seus ganhos como motorista de app com a ajuda do DSW!” Um de seus usuários diz: “O app fornece cálculos exatos, muito fácil de configurar. Cumpre bem o seu papel”.

Ao Jornal Midiamax, Bignardi explica que os aplicativos dão uma estimativa geral sobre cada corrida, incluindo distância, gastos e possível lucro, ficando a cargo de cada um escolher se aceita ou não a corrida.

“Para as pessoas que estão começando, acho o uso do aplicativo importante, pois ele dá uma estimativa de hora, de quilômetro rodado, além de ajudar a definir quanto serão os ganhos em um determinado período com determinado tipo de corrida”, relata.

Ele afirma que não usa mais o aplicativo devido à sua experiência e por fazer cálculos mentais. Mesmo assim, possui o aplicativo instalado, pois ele ajuda de outras formas.

Bignardi representa uma enormidade de colaboradores das plataformas que consideram justo o motorista escolher quais corridas são mais lucrativas para si.

Escolher corridas é justo?

“As plataformas fazem milhões de corridas diariamente, ficando com o motorista todas as despesas, como manutenção, pneus, combustível, impostos, seguro e documentação de veículos”, explicou.

Nas redes sociais, alguns motoristas alegam que caso o lucro da corrida seja menor que R$ 1,70 por quilômetro, a corrida deixa de ser vantajosa. Para Bignardi, o cálculo é ainda maior, sendo o mínimo aceitável R$ 2,00 por quilômetro.

Nesse contexto, muitos motoristas têm reclamado dos baixos valores repassados pelas plataformas de corrida, uma preocupação que cresce com a possibilidade de regulamentação da função. A proposta do Governo Federal está sendo apreciada em caráter de urgência pela Câmara dos Deputados e prevê o estabelecimento de mecanismos de inclusão previdenciária e outros direitos para melhoria das condições de trabalho.

Entretanto, o projeto para regulamentar aplicativos de transporte divide motoristas de Campo Grande: de um lado, aqueles que acreditam que todos os benefícios a serem concedidos serão cobrados, de alguma forma, dos motoristas, e também são críticos aos valores a serem pagos aos motoristas, estabelecidos como mínimos pelo projeto. 

Do outro lado, há aqueles que acreditam que a regulamentação será vantajosa, principalmente na questão previdenciária e no reconhecimento da categoria.

Paralisação 

Para protestar contra o avanço do projeto de lei no Congresso, mobilização entre motoristas parceiros das plataformas prevê uma grande paralisação no próximo dia 26 de março. Em Campo Grande, também está prevista uma carreata com participação dos motoristas. A concentração está marcada para as 9 horas na Avenida Dr. Fadel Tajher Iunes, próximo à Receita Federal.

O grupo sairá em carreata passando pelo Parque dos Poderes (Assembleia Legislativa, Governadoria), descendo a Avenida Afonso Pena, passando pela Praça Ary Coelho e dirigindo-se à Praça do Tereré, ponto final da concentração.