Veterinária com autismo que atende por tabela social viraliza procurando clientes em Campo Grande

Luciana, que tem nanismo e TEA, viralizou nas redes sociais com post procurando clientes e conta que amor por animais e pela profissão é maior do que o preconceito

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Luciana foi a primeira filha a se formar na universidade. (Foto: Arquivo Pessoal)

A médica veterinária Luciana Alves de Andrade, de 27 anos, chamou a atenção nas redes sociais com uma publicação procurando clientes para o consultório em que atende, na periferia de Campo Grande. Como ela recebe por comissão e o movimento está fraco, a profissional pede ajuda para divulgar o trabalho antes que seja forçada a encerrar o trabalho no local. 

Por atender em um bairro da periferia, ela conta que chega a cobrar até 50% a menos pelos procedimentos em relação a outros consultórios para que a população possa pagar. Entre os serviços estão consulta, vacinas, exames, além de atendimentos a animais exóticos como calopsitas e hamsters.

“Estou até pensando em fechar porque não tem cliente, chega a conta e não tem como pagar. Às vezes, aparecem na semana duas ou três clientes, nessa semana foi só um, mas precisaria ser uns dez para dar um pouquinho de dinheiro”, ela afirma.

Luciana conta que sempre gostou de animais e que cresceu na companhia dos bichos, já que é filha única. Já teve cachorro, gato, galinha e hamster e atualmente tem quatro cachorros e nove gatos. 

Mesmo com as dificuldades de clientela e o preconceito pelo autismo e o nanismo, ela não desiste e aposta em todo conhecimento e amor pelos animais para continuar na profissão.

Post nas redes sociais teve dezenas de comentários e quase 200 compartilhamentos. (Foto: Reprodução)

Luciana descobriu autismo na faculdade

Luciana foi a primeira pessoa da família a obter o diploma universitário. Estudante de escola pública, conquistou uma bolsa de estudos 100% por meio do Prouni (Programa Universidade para Todos). 

Ela diz que durante as aulas tinha dificuldade para aprender o conteúdo e até chegou a reprovar em algumas matérias, o que a levou a um quadro de depressão. Aconselhada pela família e até por curiosidade própria, procurou uma psicóloga que lhe deu o diagnóstico de TEA (Transtorno do Espectro Autista) de nível moderado, o que foi um divisor de águas para a vida acadêmica de Luciana.

“Tinha dificuldade em acompanhar as matérias e, às vezes, estudava e não entendia o que estava estudando. A psicóloga me ensinou uns macetes para estudar e aí conseguir passar sem reprovar”, ela relembra. 

Luciana atende na periferia de Campo Grande. (Foto: Arquivo Pessoal)

A médica veterinária se formou no ano passado e afirma que gosta de trabalhar com todos os tipos de procedimentos, desde aplicação de vacina a exames. Ela ainda fez estágio no CRAS (Centro de Reabilitação de Animais Silvestres), o que foi uma experiência especial para a carreira dela. 

Além das habilidades cognitivas, ela também desenvolveu as habilidades sociais na faculdade, com muitos treinos para atender os clientes. 

“Às vezes eu tenho dificuldade para começar a falar com o cliente, só que depois que eu começo, fica tranquilo, eu treinei bastante na faculdade”, ela diz. 

Além de ser a primeira da família a conquistar o diploma universitário, a mulher acredita que possa ser também uma das primeiras veterinárias de Campo Grande com autismo, já que nas buscas não encontrou colegas diagnosticados com TEA na Capital.

Preconceito sempre marcou a vida da veterinária

Apesar do diagnóstico de autismo ter vindo na fase adulta, Luciana diz que sofreu com o preconceito devido ao nanismo. Ela tem 1,37 de altura, mas não tem acondoplasia (os membros curtos). Ela fez tratamento hormonal quando era criança, mas cresceu somente alguns centímetros. 

“As pessoas ficam com receio de trazer o animal para mim por pensar que eu sou uma criança. Eu tive que fazer um crachá dizendo que sou médica veterinária para comprovar para as pessoas”, afirma. 

Luciana relembra o plantão em que uma mulher recusou que os animais fossem vacinados por ela e foi embora, o que a machucou profundamente. 

“Eu sofri muito bullying na escola e na faculdade por causa do meu tamanho, meu autismo, por causa da minha cor e do meu cabelo”, ela diz. 

Clientes recomendam Luciana

Apesar do preconceito, Luciana conquistou uma clientela devido ao bom trabalho como médica veterinária. Francisney Salomão Cunha, de 63 anos, foi a primeira cliente de Luciana, quando a profissional fazia atendimento domiciliar. 

A auxiliar administrativo conta que estava apertada financeiramente na época para levar os gatos a um consultório em outro bairro quando viu o anúncio dos serviços de Luciana, perto de casa. 

“Ela é uma pessoa bem simpática e boa para manusear os animais. Eu gostei, principalmente, porque a maioria dos médicos veterinários não conseguem manusear os gatos direito, além do diagnóstico que deu certo”, relembra. 

Ela ficou tão satisfeita com o serviço que recomendou Luciana para os vizinhos. Os remédios que ela passou funcionaram e rendeu elogios. O diagnóstico, inclusive, foi confirmado pela Subea (Subsecretaria do Bem-Estar Animal), quando Francisney levou os animais para atendimento. 

“Já estou com mais de 60 anos e desde criança levo meus animais no veterinário e tem lugar que levei e não gostei, mas agora levo nela”, ela elogia.

Serviço

Luciana atende no Petshop Falcão Estética Animal, localizado na Av. Souto Maior, nº 1389, bairro Tijuca II. O telefone do local é (67) 9 9133-5897. Já o WhatsApp da Luciana é (67) 9 9252-4852

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