No bairros do Núcleo industrial de Campo Grande, que completa 46 anos de criação em 2023, as reclamações entre os moradores se repetem. As ruas, na maioria sem asfalto, levam lama para a porta das casas e comércios, e os ônibus circulam de hora em hora, com lotação máxima.

O cabeleireiro, Fábio Augusto, 29 anos, atende em seu salão na rua Ganso, no bairro Vila Entroncamento. Fábio reclama dos buracos em frente ao comércio, que acaba espantando os clientes. “Os buracos são causados pelas carretas que passam aqui. Acabam atrapalhando o movimento do salão”, comenta.

A limpeza das ruas e falta de segurança também foram citadas pelo cabeleireiro. Mesmo com um posto da Guarda Municipal, ocorrem assaltos pelo bairro. “Domingo passado um rapaz foi assaltado na rua de trás. Assalto à mão armada, levaram a moto dele”, conta.

A falta ônibus para a região é uma reclamação recorrente de quem mora no bairro. A aposentada Angelina da Silva Nunes, mora há 34 anos na rua Onça, e afirma que o maior problema são os ônibus lotados pela manhã. “A gente depende do ônibus, ainda mais eu que não sei usar aplicativo [de transporte] e não gosto de incomodar pessoas mais novas”, explica. Ainda de acordo com Angelina, os ônibus demoram mais de 45 minutos para passar no ponto.

Em frente ao salão do Fábio, os buracos tomam conta da rua. Foto: Kísie Ainoã/Midiamax

A aposentada Dirce de Oliveira Nunes, moradora da rua Pitangueira, tinha uma consulta marcada no centro da cidade e preferiu chamar um Uber do que esperar pelo ônibus. “Se eu esperar o ônibus, eu não chego no horário nunca. E se sai de manhã cedo de casa, chega duas horas da tarde em casa”, comenta.

Um outro problema do bairro é a dificuldade de atendimento de saúde, já que só existe um posto na região e está operando com apenas um médico. “Tem um postinho com dois médicos. Esses dias uma médica estava de licença e sobrecarregou o outro médico. Eu precisei de atendimento e minha filha teve que vir me buscar para me levar na UPA”, conta.

Acompanhar a gravidez também é difícil para a moradora Andressa Lima. “Um doutor só para atender muita gente. Uma das médicas pegou três meses de atestado e não mandaram outro médico para cobrir”, afirma.

Creches também estão em falta na região. Apenas uma funciona e a Emei (Escola Municipal de Educação Infantil) que deveria ser concluída há quase dez anos atrás, está parada e virou um local perigoso, pois pode abrir bandidos e pessoas mal intencionadas. “Só tem uma creche na vila que não vale nada, e o Ceinf está abandonado faz anos”, comenta a aposentada Dirce.

CEINF abandonado na rua Atenas. Foto: Kísie Ainoã/Midiamax

Atrás da rua de Dirce uma outra rua está intransitável por uma poça de lama. O aposentado Jeremias Alves conta que construí uma rampa em seu portão para que a água não invadisse seu quintal. “Isso aqui virou um rio que a agua estava cruzando para o lado de dentro e eu tive que fazer um quebra-molas”, explica. Jeremias quase tirou dinheiro do bolso para colocar terra no local e impedir que água invada a sua casa mais uma vez. “Essa água parada facilita para o mosquito da dengue. A gente cuida da casa, mas o poder público não cuida da rua”, afirma.

Água parada na rua Jacobina. Foto: Kísie Ainoã/Midiamax

Em nota, a prefeitura de Campo Grande foi questionada sobre problemas com ruas sem asfalto, obra parada da Emei e falta de médicos no posto de saúde do bairro. Sobre falta de médicos, informou que “a informação de falta de médico na USF Indubrasil não procede, uma vez que a unidade conta com duas equipes de saúde da família e ambas estão completas”.

Em relação à obra inacabada da Emei, a Semed informou que “a Emei no Jardim Inápolis está na parte burocrática, na fase jurídica para depois começar as obras. A empresa MRL venceu a licitação para retomada da obra”.

O Consórcio Guaicurus também foi acionado para se manifestar sobre falta de ônibus e poucas linhas que atendem a região, mas não respondeu aos questionamentos da reportagem.

O espaço segue aberto para manifestações.