Com mais de 700 em abrigos e 109 na fila para adoção, conta não fecha em Mato Grosso do Sul
Dia Nacional da Adoção: Estado teve 13 crianças adotadas desde o início do ano
Gabriel Neves –
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Mato Grosso do Sul tem 721 crianças e adolescentes em abrigos de todo o Estado, deste total, 109 estão à disposição para serem adotadas. Mesmo com mais de 200 pretendentes na fila à espera de um filho, a conta não fecha no Estado. No Dia Nacional da Adoção, entenda por que o preconceito ainda é um dos fatores que impedem que a fila seja zerada.
Dados disponibilizados pelo TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul), através da Coordenadoria da Infância e Juventude, revelam detalhes de uma conta que não fecha, mesmo composta por mais pessoas habilitadas para adotar em relação a crianças e adolescentes disponíveis para adoção.
Conforme os números, o Estado possui 109 crianças disponíveis para adoção e 233 pretendentes habilitados. Entretanto, apenas 13 crianças foram, de fato, adotadas em 2023.
Os dados chamam atenção também sobre as 147 crianças que estão em processo de adoção, podendo aumentar ainda a fila de pessoas que buscam uma família em Mato Grosso do Sul. Por fim, os dados disponibilizados pela Coordenadoria da Infância e Juventude mostram que o Estado possui 721 crianças acolhidas, ou seja, em processo judicial para definição de adoção.
De acordo com a psicóloga do TJMS, Renata Queiroz Giancursi, o preconceito enraizado na sociedade é um dos motivos que fazem com que o número de pessoas aptas para adotar seja maior do que o número de crianças disponíveis.
“A grande maioria das pessoas, que querem adotar, buscam uma criança branca, recém-nascida e do sexo feminino”, comentou Giancursi.
Ela alerta que o processo de adoção não pode ser visto como um ato de caridade e as prioridades elencadas pelos pais devem ser atendidas. Ainda assim, admite, que em uma sociedade mais aberta, a fila de crianças na adoção seria menor.
“Nós já evoluímos bastante, há 20 anos, crianças de 2 e 3 anos, eram encaminhadas para a adoção internacional. [No Brasil] existe aquele mito, um preconceito, de que crianças após 6, 8 anos não criam mais vínculos ou vêm com a personalidade estragada. Entretanto, elas criam vínculos, a personalidade ainda se constrói”, explicou.
Brasil | MS | CG | |
Crianças acolhidas | 31883 | 721 | 154 |
Crianças disponíveis para adoção | 4392 | 109 | 13 |
Crianças adotadas (2023) | 1084 | 15 | 6 |
Pretendentes habilitados | 33998 | 233 | 74 |
Crianças em processo de adoção | 5444 | 147 | 62 |
Além disso, o passado da criança é um dos fatores que causa muita desistência de pais no momento da adoção, como histórico de agressões, abusos, doença familiar, ou uso de drogas por parte dos genitores. Pretensão que gera contraste com o próprio ato de adotar, pois na maioria das vezes, essas são as crianças que mais precisam de um lar e uma nova família.
Giancursi conta que o cenário atual é de mudanças e crianças que fogem do chamado ‘padrão’ possuem mais chances de conseguirem um lar. Entretanto, aqueles que ficam, passam a vida na espera ou esperança de terem uma nova família, mas muitas vezes têm esse sonho destruído pela maior idade.
Prioridade em adoção cria dificuldade na vida adulta
Com a preferência de pais em relação a crianças ainda nos primeiros anos de vida na adoção, muitos acabam se encontrando em uma realidade peculiar, onde a esperança de ter uma família é encerrada em poucas semanas pela vida adulta.
Sem mais chances de ser adota, aos 18 anos, o até então adolescente se vê responsável pelos seus atos, sem amparo familiar para exercer os papéis impostos pela sociedade.
De acordo com a SAS (Secretaria Municipal de Assistência Social de Campo Grande), o problema é de ciência da Capital, que busca formas de, ao menos, qualificar essas pessoas para o mercado e prolongarem a assistência para que o mesmo consiga iniciar a vida adulta.
Ainda antes da maioridade, é oferecida a possibilidade de capacitação, através de cursos profissionalizantes em diversas áreas, além da inserção no mercado como aprendizes, onde parte do salário é recolhido para ser utilizado no início da vida adulta.
Segundo a secretaria, há adolescentes que chegaram à maioridade, mas ainda não têm autonomia suficiente para viverem sozinhos, e são encaminhados para a República, uma espécie de lar para jovens de 18 a 21 anos desligados de serviços de acolhimento para crianças e adolescentes.
A unidade busca ofertar um atendimento apoiado na qualificação e inserção profissional e na construção de um projeto de vida. Por lá, os jovens vivem uma rotina semelhante à das demais unidades de acolhimento da Rede Municipal de Assistência Social.
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