Com o sepultamento do indígena Vitor Fernandes, de 42 anos, morto durante confronto com a de Mato Grosso do Sul na última sexta-feira (24), os indígenas da retomada Guapo'y Mirim Tujury, em , cidade distante 352 quilômetros de Campo Grande, deram início ao ritual fúnebre. As rezas devem durar 7 dias, segundo a tradição Guarani Kaiowá.

De acordo com informações das lideranças indígenas reunidas em Aty Guassu, Vítor morreu em luta pela terra e seu espírito precisa descansar com todas as honras que são destinadas aos guerreiros.

“Morreu pelo seu povo e deve ser recebido pelos nossos ancestrais que tanto lutaram pela posse dessa terra”, disse uma que acompanha o ritual à reportagem do Midiamax.

Segundo Avá Apyká Rendy, um dos líderes ouvidos pela reportagem do Midiamax no dia do sepultamento, além do elevado significado espiritual para a comunidade, todo o ritual religioso é movido pela luta em defesa da terra. “Ele tombou aqui, neste lugar que consideramos a nossa terra e também dos nossos [ancestrais] e aqui ficaremos em defesa da sua memória e do seu povo”, afirma a liderança indígena.

Foto: Marcos Morandi, Midiamax

Questionado sobre as acusações de crimes praticados na aldeia, que chegaram a gerar situação de conflito interno repassado a órgãos estaduais e federais, Rendy alegou: “Nós somos famílias, temos filhos, netos, somos pessoas de paz, somos pessoas do bem. Tanto do outro lado, da mesma forma que vocês são pessoas do bem, nós somos pessoas do bem”.

“Somos Kaiowá, Guarani, legítimos da região desde a existência dessas terras. Quero informar que neste momento, quem nos acusa está mal informado a nosso respeito”, disse Rendy, ressaltado que os indígenas estão em vigília permanente durante esses dias que acontecem o ritual fúnebre.

Foto: Marcos Morandi, Midiamax

Conflitos internos na aldeia

Durante o sepultamento do indígena Vitor Fernandes, que reuniu mais de 300 pessoas — além de críticas às operações desencadeadas na última sexta-feira (24), as lideranças também não pouparam o cacique da Aldeia Amambai, João Gauto. A reportagem apurou que Gauto já trabalhou para o proprietário da Fazenda Bordas da Mata.

Em conversa com lideranças que moram na Aldeia Amambai, a reportagem do Jornal Midiamax apurou que descontentamento contra o cacique é geral. Segundo eles, sua permanência no cargo é considerada ilegítima.

“Sabemos que ele deu todas as informações para os policiais e também para os seguranças privados que estavam na fazenda”, disse uma das fontes.

Ainda de acordo com essas mesmas lideranças, passada a comoção do sepultamento de Vitor, serão tomadas as providências necessárias para que ele deixe o comando da aldeia. “Diante de tudo que aconteceu, se ele não renunciar, nós [tomaremos] as providências que forem necessárias para que ele seja afastado”, disse uma professora que trabalha na aldeia.