Rede de apoio pode evitar tragédias como caso de bebê afogado em Campo Grande, dizem especialistas

Doulas ressaltam solidão materna e falam que mãe que perdeu o bebê precisa de “acolhimento, atenção e afeto”

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Mãe e bebê precisam de apoio de uma rede e não podem ficar sempre sozinhos
Mãe e bebê precisam de apoio de uma rede e não podem ficar sempre sozinhos

Na gravidez, a mulher se vê rodeada de atenção: perguntam se já sabe o sexo, ganha presente de amigos e da família, conversam sobre a maternidade e recebem afago ao mesmo tempo em que o corpo passa por um “turbilhão” de emoções e mudanças. O pai, muitas vezes, segue a sua rotina e não é igualmente presente. Após o parto, surge a solidão com o bebê. A mesma pessoa, agora mãe, se enxerga rodeada de medos, inseguranças e a rede de apoio já não existe mais. 

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Bebê morreu afogado durante o banho, em Campo Grande.  (Henrique Arakaki, Midiamax)

É este o cenário da solidão materna logo após o puerpério. O assunto veio à tona e invadiu as redes sociais nessa segunda-feira (21), quando uma mãe, de 42 anos, desmaiou durante o banho do bebê, de 29 dias. Ele morreu afogado, no Parque do Lageado, em Campo Grande.

Na ocasião, a família contou ao Jornal Midiamax que a mãe passou por dificuldades para engravidar e o batizado tinha ocorrido no dia anterior, na casa do avô da criança. Aos prantos, a tia inclusive permaneceu ao lado da viatura do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) e do Corpo de Bombeiros. Ambos tentaram a reanimação por cerca de 40 minutos.

Após a morte do filho, a mulher foi levada em estado de choque até uma unidade de saúde. 

“Eu fiquei sabendo e pude sentir a dor dessa mãe. Tive uma tristeza e dor muito grande por ela. Penso que essa mãe deve estar se sentindo culpada quando, na verdade, não tem culpa alguma. Onde estava a rede de apoio dessa mulher? Por isso falamos tanto da importância de uma rede de apoio, nenhuma mulher deveria ficar sozinha com o bebê no puerpério. A puérpera precisa de tanto cuidado quanto o bebê”, afirma a doula Marina Almeida Souza, de 35 anos. 

Na sua própria rede social, a doula, que completa quatro anos de profissão este ano, falou sobre o assunto. Segundo ela, a mulher “não quer acreditar” que não receberá visitas das amigas, até mesmo pensa só em encontrar uma delas para conversar sobre coisas banais. 

“[…] Eu gostaria de ter me preparado para o afastamento das amigas e para a solidão que viria. Porque é fato: ou elas te incluem e você por vezes terá que cancelar, ou elas nem te chamam. Seja como for, elas fazem falta. Mas, surgem novas amizades também, de outras mães, do mesmo barco, na mesma solidão materna que só nós compreendemos […]”, menciona na postagem. 

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Foto: Reprodução

A também doula, Loridany Jarcem Araújo, de 28 anos, fala que, mesmo sem conhecer, queria somente permanecer abraçada a esta mãe. Sobre este caso e em linhas gerais, a profissional argumenta que a solidão da mãe é muito “mascarada pela fantasia do sonho da maternidade”. 

“Enquanto todas as atenções estão voltadas para o recém-nascido, suas necessidades, muitas pessoas se esquecem que, antes, tinha uma mulher que, muitas vezes, precisou lidar sozinha com todas as transformações fisiológicas e emocionais na gestação e, junto com ela, veio aquele bebê. O puerpério é o momento do pós-parto mais difícil. Com a chegada do filho, também vem as dores da recuperação, a dificuldade no aleitamento e a adaptação a uma nova rotina”, explicou Araújo.

Neste momento, Loridany se diz totalmente solidária a esta tragédia ocorrida com essa mãe e ressalta que ela precisa de “acolhimento, atenção e afeto” neste momento.

“Vivemos em uma sociedade que impõe que o pai é quem sai pra trazer sustento para casa, enquanto a mulher fica com a parte mais fácil, o que é uma mentira. No meu caso, falo ainda como mulher negra, em que o cenário é ainda pior, em que muitas possuem outros filhos pra cuidar e vivem como mãe solo, ocupando um subemprego. A solidão materna é carregada de culpa e apontamentos. Precisamos acolher essas mulheres mães, precisamos amá-las”, ressaltou.

Maio Furta-cor

No Brasil, o mês de maio foi escolhido para discutir e reforçar ainda mais o assunto. É uma campanha apartidária e que visa sensibilizar a população para a causa da saúde mental materna. 

Época em que é comemorado também o Dia das Mães, o período pode servir de reflexão para dados alarmantes, como aumento de casos de depressão, ansiedade e, infelizmente, suicídios entre as mães. 

 

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