Vitória, definida no dicionário como ato ou efeito de sair vencedor, triunfar. Alcançar sucesso, êxito. Mas para as 40 famílias que vivem na Comunidade nomeada pela palavra o sucesso está um pouco distante da realidade em que vivem. Crianças dormindo no chão de barro batido, falta de cobertas e agasalhos e até comidas são o que marcam os dias de quem vive ali escondidinho na rua Marechal Mallet no bairro Leon Denizart Conte, em .

A maioria das pessoas que vivem em comunidades periféricas no país e em Mato Grosso do Sul, acabam sobrevivendo de pequenos bicos de servente, diarista, catando recicláveis ou carpindo lotes, setores informais diretamente afetados pela chegada do novo (Covid-19) deixando muitos sem renda.

Na favela da Vitória, coronavírus expõe dor de quem vive com quase nada em Campo Grande
Hellen, líder da comunidade, com as duas filhas. (Ranziel Oliveira | Midiamax)

O pedido de ajuda chegou ao Jornal Midiamax através da líder da comunidade e também catadora de recicláveis Hellen Bueno, 38 anos. Ela mora no local há 7 anos com o marido e duas filhas (6 e 3 anos) e se preocupa porque, na visão dela, estão esquecidos.

“Ninguém conhece a comunidade. Como a gente fica no final da rua e mais pra cima tem a comunidade do Linhão, a gente não recebe ajuda. Pessoal vem até o Linhão e acabam não sabendo que a gente existe”, detalha.

A filha mais nova de Hellen foi diagnosticada com epilepsia e aguarda vaga para tratamento, mas a líder comunitária se preocupa também com a situação dos vizinhos. “A gente vive em uma situação vulnerável aqui, somos 40 famílias em barracos de lona e chão batido. Não temos doações de nada e a situação está difícil porque com a pandemia ficamos praticamente sem renda”, conta.

Antes de morar na comunidade a família vivia de aluguel, mas depois do marido sofrer um e não conseguir mais trabalhar, a situação se complicou. “Viemos morar aqui porque não tínhamos como pagar o aluguel e sustentar as duas meninas só com a minha renda. Mas essa época está mais difícil e com o frio nossas filhas choram a noite porque não temos como mantê-las aquecidas”, afirma.

Falta comida

O assunto parece meio batido durante esses dias, mas infelizmente essa é a realidade de muita gente que já vivia à margem e acabou vendo a situação piorar com a chegada do coronavírus. Enquanto para muitos o medo é se contaminar na gôndola do mercado, para Antônia Ferreira Correia, 46 anos, por exemplo, a preocupação é se o filho de 3 anos terá pelo menos uma refeição no dia.

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Na esperança de conseguir um terreno e um lugar de moradia, Antônia e o então marido, foram com o filho de seis meses para a comunidade. “A gente ficou sabendo que tinha terreno disponível aqui e veio com o nosso filho de colo”, explica.

Poucos meses depois já instalados na comunidade, o marido acabou indo embora e Antônia se viu sozinha com o pequeno, mas o pior dia da vida da pequena família foi mesmo há 7 meses quando durante uma enxurrada ela viu as paredes do barraco caírem e precisou correr com o filho a procura de abrigo.

“Começou a levantar as telhas, eu enrolei meu filho em uma coberta e quando fui abrir a porta duas paredes caíram como vento, sai correndo e a enxurrada estava tão forte que cai na rua e a água começou a arrastar meu filho, foi desesperador”, explica.

Naquele dia a ajuda de um vizinho fez com que ela alcançasse o filho e se abrigasse no carro do ex sogro até que o temporal passasse. Até hoje ela e o pequeno sente o medo quando o tempo muda e a previsão anuncia a chegada da chuva.

“A gente tem medo da chuva. Meu filho chora quando começa a pingar, mas minha preocupação atualmente é com o frio e a falta de comida. Tem dia que eu passo fome, mas pelo menos para o meu filho dou um jeito de conseguir”, desabafa.

Sem cama e sem colchão

Aos 36 anos a dona de casa Ana Claudia dos Santos se viu indo parar na comunidade com o marido e os 9 filhos depois de não conseguirem mais pagar o aluguel e sustentar as crianças.

Hoje o casal divide o espaço com apenas duas camas com 7 filhos e um barraco nos fundos do terreno abriga os outros dois. “Moramos nós e sete filhos aqui. Cinco dividem uma cama, a mais nova dorme com a gente, mas o de 10 anos dorme no chão, porque não tem espaço e nem colchão para por ele”, diz.

“Nos fundos em outro barraquinho moram dois filhos, um deles é casado e a esposa está grávida e o outro não cabe aqui com a gente” completa.

O marido de Ana é servente de pedreiro e com a pandemia os serviços acabaram diminuindo afetando diretamente a renda. “Não tem colchão, não tem coberta.  A gente se vira, mas as crianças acabam sofrendo com a situação”, conta.

Ajuda

As famílias da comunidade Vitória precisam de alimentos, roupas e calçados para as crianças, cobertas, colchões e quem quiser ajudar pode entrar em contato diretamente com a Hellen que representa os moradores através do telefone (67) 99172-1295.

Prefeitura

Ao Jornal Midiamax a Prefeitura informou que a SAS (Secretaria Municipal de Assistência Social) realiza atendimentos na região através do (Centro de Referência da Assistência Social) e do Centro de Convivência Noroeste para a população em situação de risco e vulnerabilidade social com a entrega do Benefício de Segurança Alimentar.