MS já vive ‘segunda onda’ da pandemia de coronavírus, afirma infectologista

Mato Grosso do Sul vive, no momento, uma “segunda onda” no avanço do novo coronavírus (Covid-19), embalada pelo já aguardado crescimento dos casos, que por sua vez foi “turbinado” pela queda constante na adesão ao distanciamento social durante os últimos feriadões e datas comemorativas. E, se já não bastasse a média de novos casos diários […]

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Mato Grosso do Sul vive, no momento, uma “segunda onda” no avanço do novo coronavírus (Covid-19), embalada pelo já aguardado crescimento dos casos, que por sua vez foi “turbinado” pela queda constante na adesão ao distanciamento social durante os últimos feriadões e datas comemorativas. E, se já não bastasse a média de novos casos diários ter dobrado nas últimas semanas, a tendência é de que um avanço ainda maior.

Segundo a médica infectologista Mariana Croda, da SES (Secretaria de Estado de Saúde), a evolução dos casos neste momento tem ligação com a maior circulação de pessoas durante o feriadão do 1º de Maio (Dia do Trabalhador). Especificamente naquela sexta-feira, a taxa de distanciamento social do Estado foi de 45,8%, a segunda pior do Brasil, conforme monitoramento feito pela consultoria In Loco em todo o país.

É como se, a cada 100 sul-mato-grossenses, 55 ignorassem a recomendação de ficar em casa. No dia 1º, ação da Guarda Civil Metropolitana em Campo Grande abordou, em 5 horas, 600 pessoas ignorando as medidas para evitar a disseminação do coronavírus. Naquele dia, o Estado tinha 266 casos confirmados e 9 óbitos. Nesta quinta-feira (14), já são 452 infectados e 14 mortos pela Covid-19.

“Com o feriado, houve vários casos e pessoas que tiveram contatos, festas de confraternização durante o feriado. E sabemos que isso reflete no total de casos em um intervalo de duas a três semanas”, disse Mariana, segundo quem o resultado de aglomerações em um cenário no qual já há o crescimento previsto no volume de casos só ajuda a acelerar o avanço da doença.

A especialista lembra que na “primeira onda”, no início da pandemia, o Estado registrava uma média de 3 novos casos ao dia em março. Com o passar das semanas, o volume dobrou, atingindo de 10 a 12 em abril e, agora, chega à média de 20 novas confirmações por dia. “É a dinâmica dessa segunda grande onda, que vivemos desde 1º de maio. Na primeira não atingimos o platô [pico e estabilização no volume de casos], e a segunda chegou com tudo”.

Espera-se, agora, que o baixo distanciamento no Dia das Mães também colabore com o acréscimo de casos de Covid-19 já esperados –feriados anteriores, como os de Páscoa e Tiradentes, também tiveram influência na evolução de novos casos, mas dentro de uma realidade na qual havia menos pacientes.

Surtos localizados

Uma característica do atual momento de contágio, explica Mariana Croda, é o crescimento exponencial, no qual a duplicação na totalidade de casos, que antes levava até um mês, ocorrerá de forma mais rápido –de fato, o aumento no número de casos entre os dias 1º e 14 já é de quase 70%. “Cada caso confirmado gerava mais 3. E Guia Lopes da Laguna já passou de 50”, explicou ela. A cidade no sudoeste teve seu primeiro caso na semana passada e, menos de 10 dias depois, já tem a maior incidência do Estado (525,5 casos por 100 mil pessoas).

Guia Lopes integra uma situação de surtos localizados, assim como Brasilândia e Ribas do Rio Pardo, e que deve ser a tendência no Estado por conta das características geográficas. Os quadros regionais, contudo, preocupam: segunda em casos, Três Lagoas tem registrado taxa de positividade de 11,4% nos testes feitos no drive thru. Em Campo Grande, o índice é de 2,3%.

Mariana Croda também afirma que, com o crescimento do volume de infectados, a identificação da origem do contágio deixa de ser fundamental em muitas cidades –é quando há a chamada “transmissão comunitária” ou “transmissão sustentada”, dentro da própria localidade. O problema, prossegue ela, é que casos surgem até mesmo com um contato mínimo com casos positivos: em Guia Lopes, um motorista teria sido o responsável por infectar outras 12 pessoas compartilhando tereré.

Resultado da ‘volta ao normal’

Segundo a infectologista, embora a epidemia se manifeste de forma diferente em diversa localidades, algumas características locais podem ter ajudado a frear um avanço mais explosivo do coronavírus, a exemplo do que ocorreu por exemplo em Manaus (AM) ou Recife (PE). A baixa urbanização e grande distância entre cidades e bairros está entre elas.

“Alguns Estados têm a característica hiperendêmica, mas aqui é de surtos, com aumentos e diminuição, por conta da baixa densidade populacional e por ser tudo muito espalhado. Viveremos a epidemia em surtos locais, com exceção de Dourados e Campo Grande, onde há aeroportos com mais trânsito, transporte intermunicipal frequente e densidade populacional”.

Isso gera uma “falsa sensação de tranquilidade”, principalmente em Campo Grande –que reúne algumas das características dos locais onde a Covid-19 se tornou um desafio.

“Temos muito medo dessa falsa segurança que Campo Grande vem adotando, com taxas de isolamento menores do que nas férias escolares”, afirmou, referindo-se à reabertura de shoppings e do transporte público, onde desobediência às regras de biossegurança têm sido notadas. Até o uso de máscaras tem sido negligenciado, anotou a médica.

Estudos de autoridades de Saúde apontam que, caso 60% da população adote o uso regular de máscaras e outros hábitos de higiene, o avanço da Covid-19 será mais lento.

Perigos do inverno

Também favorece o aumento do número de casos a retomada gradual que alguns municípios permitiram a atividades da economia, uma vez que permitem um maior contato entre as pessoas que, caso não usem proteção ou não adotem hábitos de higiene, podem transmitir o coronavírus ou se contaminar.

Por fim, neste momento, a população começa a enfrentar outro agravante para as doenças respiratórias: a quedas nas temperaturas, previstas para este período do ano. “Estamos há 3 dias sem sol em Campo Grande, com janelas fechadas, sem a circulação de ar”, lembrou Mariana, citando a recomendação de se arejar ambientes para evitar que o vírus fique em ambientes fechados.

“Isso também ocorre no transporte público: o ônibus deve circular com janela aberta, mas o usuário fecha por causa do frio. As pessoas também higienizam menos as mãos; negligenciam o hábito de chegar, tirar a roupa e já ir para o banho, o que o frio tende a coibir. Ficam mais enroladas por causa do frio”, alertou.

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