Indígena vítima de coronavírus na reserva de MS era sobrinho do líder Marçal de Souza
Mais do que uma mera estatística, a primeira vítima do coronavírus da Reserva Indígena de Mato Grosso do Sul tinha a linhagem de um autêntico Guarani. Evaristo Garcete, 59 anos, pai de cinco filhos, era sobrinho do líder Marçal de Souza Tupã I, assassinado com cinco tiros em 1983, no rancho onde morava, na Aldeia […]
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Mais do que uma mera estatística, a primeira vítima do coronavírus da Reserva Indígena de Mato Grosso do Sul tinha a linhagem de um autêntico Guarani. Evaristo Garcete, 59 anos, pai de cinco filhos, era sobrinho do líder Marçal de Souza Tupã I, assassinado com cinco tiros em 1983, no rancho onde morava, na Aldeia Campestre.
Enquanto cavava a sepultura do próprio pai, Everton Garcia Garcete, que não tirava os olhos da fita métrica usada para saber se ainda não tinha alcançado os sete palmos, fazia algumas pausas para limpar o suor do rosto e desenterrar algumas lembranças de alguém que sempre foi um trabalhador e morreu sem conseguir se aposentar.
“Ele ajudou no progresso do Brasil, trabalhando em usinas de álcool, em rodovias e o que ele ganhou com isso? Só o seu minguado salário e os seus direitos como ser humano? Como cidadão? Como brasileiro? Como indígena? Porque ele era indígena nato, guarani puro. Cadê? ”, desabafa.
Entre uma batida e outra do enxadão sobre a terra vermelha do pequeno cemitério da aldeia Bororó, o filho revira as gavetas da memória. Com lágrimas nos olhos ele relata que seu pai sempre falava de um tio que ficou conhecido praticamente no mundo todo. “Muito do que esse velho índio me ensinou, com certeza aprendeu com seu tio Marçal, que sempre foi um defensor das causas indígenas, mas que jovens aqui da Reserva nunca ouviu falar”.
Discurso ao Papa
Marçal de Souza, o tio de Evaristo, também chamado Marçal Tupã-i, (Tupa-Y, que quer dizer pequeno Deus), nasceu em Ponta Porã, no antigo Mato Grosso, na véspera do Natal de 1920 pertencia a etnia Guarani-Nhandéva.
Na década de 70 começa a luta pela defesa dos direitos indígenas, contra a expropriação ilegal de terra, a extração ilegal de madeira e riquezas da floresta, escravidão indígena e tráfico de meninas índias.
Com essas bandeiras, o líder Guarani alcançou destaque internacional e foi um dos responsáveis pela criação da UNI (União das Nações Indígenas), em 1980. Durante a primeira visita do Papa João Paulo II ao Brasil foi escolhido para falar em nome das comunidades indígenas.
“Trazemos a Sua Santidade a nossa miséria, a nossa tristeza pela morte de nossos índios, assassinados friamente por aqueles que tomam o nosso chão, aquilo que para nós representa a nossa própria vida e a nossa sobrevivência nesse grande Brasil chamado de um país cristão”, disse ele à época.
Três anos depois do encontro com o Papa, Marçal denunciou que estava sofrendo ameaças. “Sou uma pessoa marcada para morrer, mas por uma causa justa a gente morre”. E foi o que aconteceu, quando no dia 25 de novembro de 1983 foi assassinado.
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