Divulgada no último dia 5, a Síntese de Indicadores Sociais 2019 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) revela que em Mato Grosso do Sul, a diferença salarial média entre homens e mulheres é de 24,3% em 2018, reduzindo 1, 2 ponto percentual em relação a 2017. Conforme os dados, no Estado a média de rendimento dos homens é de R$ 2.398 e a das mulheres é de R$ 1.185, diferença de R$ 583.

De acordo com a pós-doctor em Teoria Econômica, Luciane Cristina Carvalho, existem diversos fatores que explicam a diferença de rendimento no Brasil e no Mato Grosso do Sul. “A questão cultural ainda é muito forte, por exemplo. Nesse sentido a mulher recebe menos por se dedicar e se ausentar em razão de gestação, pelos filhos – normalmente quanto há alguma demanda na escola é a mãe quem é chamada”, explica a professora.

“Outro fator é que mulheres mudam mais de empregos do que os homens, além de interromperem mais vezes a profissão por questões familiares. Essas questões familiares ainda sobrecarregam a mulher. De forma geral, como foi apontado pelo IBGE a mulher recebe em média R$ 583,00 no Estado menos que o homem, e se observarmos a escolaridade e a raça, a diferença salarial é maior, mostrando que as mulheres negras estão numa situação ainda pior. ”, destaca.

Atualmente professora na (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), Luciane fala ainda que as oportunidades de promoção não são as mesmas para mulheres e homens e isso contribui ainda mais para a diferença no rendimento. “Muitas vezes o que se observa nas pesquisas é que a mulher tem mais qualificação ou maior grau de instrução do que os homens, mas os cargos de gerência, direção, presidência de empresas normalmente são oferecidos a eles. E mesmo quando a mulher ocupa um desses cargos o salário é menor.”.

Problema enraizado

Apenas da redução de 1,2 ponto percentual em relação ao ano de 2017, na diferença de rendimentos entre homens e mulheres, o problema vem da cultura brasileira enraizada no machismo. “É preciso um conjunto de esforços. O Estado enquanto instituição e formulador de políticas públicas precisa criar, regular as medidas de combate à discriminação contra a mulher, incluindo as questões salariais, trabalho, carga horária”, ressalta Luciane.

“Muitas vezes a própria mulher não percebe que exerce as mesmas funções que o homem e com remuneração menor, é preciso trabalhar melhor a conscientização. Medidas como criação de mais creches, pelo Governo, para que as mulheres deixem seus filhos com segurança e possam se dedicar mais a vida profissional, ampliar as condições de ensino para as classes minoritárias, são medidas que ajudam a minimizar essa diferença salarial, que além dos gêneros atinge as raças também. ”, explica.

Mudança cultural, e conscientização, de acordo com Luciane, são a chave para minimizar as diferenças.  “A família, também, tem importante papel para minimizar esse contexto. A família pode dividir as tarefas domésticas e a criação dos filhos de forma mais igualitária. A redução na diferença de rendimentos é muito importante, mostra que a desigualdade está diminuindo”, destaca.

“A gente pode atribuir essa diminuição ao fato de que as mulheres estão mais atentas a essa questão. Outro ponto é a melhor qualificação da mulher que está no . Outro fato, é que no Mato Grosso do Sul, em especial , as mulheres estão se organizando em grupos de empreendedoras. Elas estão se fortalecendo o que permite maior atividade e remuneração, pois depende do seu próprio esforço, além de conciliar trabalho e vida familiar”, conta a professora.

GRI

Para a psicologa e professora executiva da Unigran, Vânia Aquino, muitas variáveis implicam na realizada das empresas e em vários países, inclusive. “A remuneração por gênero é algo estudado e avaliado mundialmente e dentre as razões das mulheres ganharem menos que os homens, estão os aspectos culturais e religiosos, além da própria matriz de responsabilidade da mulher, que inclui as tarefas domésticas e familiares (que ainda, são raras, essas distribuições de tarefas entre um casal, por exemplo), que afeta no rendimento feminino”, explicou.

“Além disso a mulher também é vitima de assédios morais e sexuais em algumas empresas isso demonstra que ainda há um longo caminho de conscientização referente ‘ao real e novo papel da mulher, na sociedade como um todo' e as organizações apenas expressam, como essa imagem é rotulada.”, destacou Vânia que também é diretora do IGCO (Instituto de Gestão e Competências Organizacionais).

Sobre a possibilidade de minimizar as diferenças de rendimentoa, Vânia explicou à reportagem que atualmente existe a GRI (Global Reporting Initiative) uma organização mundial, caracterizada como uma iniciativa de empresários e regida por indicadores padrões – socioambientais e de direitos humanos – que contribuem com diversas organizações. “Por meio desses indicadores, algumas práticas empresariais são analisadas e o GRI apresenta na dimensão social, um item específico (GRI 405-2), que refere: Razão matemática do salário e da remuneração entre mulheres e homens discriminada por categoria funcional e unidades operacionais relevantes. Ou seja, o GRI 405 é uma categoria que estimula boas práticas, referentes à diversidade e igualdade de oportunidades”, informou. 

“Todo esse processo passa pelo aculturamento empresarial e organizacional e eu particularmente, acredito muito no papel das empresas para o impacto positivo na sociedade.  O mercado ainda apresenta muitas desigualdades, apesar de estar começando a se abrir para esse processo, que é considerado muito novo, principalmente, para nossa cultura. As próprias mulheres estão começando a negociar suas remunerações e chegando a patamares maiores que dos homens (ainda raro, mundialmente) e sendo visto, esse comportamento, por mulheres consideradas independentes e mais jovens”, concluiu.

Mercado feminino

Para a diretora de criatividade e negócios de uma agência de marketing e publicidade, Lyra Libero acredita que investir em mão de obra feminina pode ajudar a minimizar as diferenças salariais de gênero.As mulheres são condicionadas ao longo da vida a diversos cenários que fazem parte do status quo: que somos fracas e emotivas demais. As empresas têm o poder de mudar isso e precisam. É preciso equalizar salários por competências e não por gênero”, destaca.

Para ela o mercado ainda é muito preconceituoso no que diz respeito às mulheres. “Hoje na minha empresa, que é uma agência de conteúdo digital, só existem mulheres trabalhando. Como empregada ouvi diversas vezes que mulheres dão prejuízo. Mas não é verdade.  A OIT (Organização Internacional do Trabalho), agência da ONU, afirma que as mulheres deveriam ganhar 10,4% a mais do que homens no Brasil pois são mais educadas, mais experientes e mais produtivas, em média. Mas mesmo assim temos que ouvir que por engravidarmos, não somos boas o suficiente”, conta.

“Nós mulheres fomos ensinadas a sermos boas esposas e mães, mas queremos ser líderes, ter uma carreira e nós podemos. A sociedade e o mercado de trabalho precisam entender isso e começar a colocar em pratica, equiparando principalmente os salários”, conclui.

 Outros dados

Entre pessoas pretas ou pardas a média salarial cai para R$ 1.718 – 35,16% menor em relação às pessoas brancas cuja média de ganhos é de R$ 2.650. O grupo ente 50 a 59 anos de idade é o que registra maior rendimento em relação a faixa etária, uma média de R$ 2.427 por mês.