Projeto de regularização fundiária em Corumbá vira caso de Justiça
Imóveis têm sido doados por força de lei suspeita
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Imóveis têm sido doados por força de lei suspeita
Suposta irregularidade no projeto criado para regulamentar imóvel ocupado por centenas de famílias, por período superior a dez anos, em Corumbá, foi parar na Justiça. Constituído em 2015, posto em prática ano passado, ainda na gestão do ex-prefeito Paulo Duarte, do PDT, moradores têm ido à polícia porque as casas que disseram ser suas foram doadas a famílias que nunca habitaram a área.
Raquel Maria da Conceição, 51, disse ter ido a delegacia da Polícia Civil da cidade, assim que soube que seu terreno já há duas décadas, tinha sido doado a uma família que antes não morava no local.
A dona de casa disse que, com frequência, limpava o quintal e também pagava fielmente o IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano).
Antes de procurar a polícia, Raquel disse ter ido à casa da família favorecida com o projeto da prefeitura que mostrou a ela um título, conhecido como definitiva da área. Pela norma original, criada pela ex-gestão, a prefeitura doa direito a concessão, ou seja, a família tem direito a ocupar a área, mas não definitivamente.
“Recebi o mesmo título [entregue aos novos moradores] há 20 anos, em 1996, sou trabalhadora, dou duro para cuidar dos meus filhos e nunca tive condições de construir nada no local, mas mesmo assim, mantenho a área limpa e os impostos referentes ao IPTU em dia, inclusive, a última cobrança que eu paguei foi feita um mês depois do meu terreno ter sido doado a outra pessoa”, disse Raquel ao site FolhaMS.
Ela disse ainda que foi à polícia, que concluiu o inquérito e mandou o caso para a Justiça. Numa primeira audiência de conciliação, em fevereiro passado, não houve acordo e a corte intimou a prefeitura e, num parecer prévio, avisou que o município pode ter prejudicado as duas famílias.
A lei criada pelo ex-prefeito prevê agilidade nos processos de regularização fundiária. Na prática, a norma autoriza a prefeitura a conceder direito real de uso para fins de moradia. (com informações da FolhaMS)
Para ser beneficiado, o morador precisaria cumprir normas, como: ter feito prévio requerimento de regularização da área ocupada antes da promulgação da Lei; utilizar a área concedida para residência própria ou de uso familiar; comprovar que não possui outro imóvel urbano ou rural; não ter sido beneficiado por plano habitacional; e não possuir qualquer tipo de débito junto a Fazenda Pública Municipal.
“Primeiramente a área já não era mais da prefeitura, eu realizei a averbação em cartório do imóvel desde 1996. A família deveria necessariamente morar no local há muito tempo, mas a pessoa contemplada nunca morou no terreno que nem casa tinha, e por fim, para ela ter o direito da área, precisava estar em dia com os pagamentos dos impostos que estava em meu nome e que mesmo com muitas dificuldades eu vinha mantendo em dia”, sustentou Raquel, moradora que tenta retomar a área na Justiça.
A procuradoria jurídica de Corumbá informou que até agora recebeu queixas de 237 famílias que receberam o título da prefeitura, mas não conseguiram legalizar os imóveis em cartório, que vê como irregular a lei municipal. Os casos têm sido encaminhados ao Ministério Público Estadual, segundo a assessoria de imprensa da prefeitura da cidade.
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