Prefeito diz temer ameaças de índios e resistência de ruralistas em área de conflito

Agente de saúde indígena foi morto em confronto

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Agente de saúde indígena foi morto em confronto

Depois do conflito entre produtores rurais e índios da etnia Guarani-Kaiowá, em Caarapó, a 273 quilômetros de Campo Grande, que terminou com a morte do agente de saúde indígena Cloudione Rodrigues Souza, de 26 anos, o prefeito do município, Mário Valério (PR), disse ao Jornal Midiamax, que o clima na região ainda é tenso. A prefeitura recomendou que a população evite passar pela estrada que dá acesso às aldeias da região. 

“A situação ainda e tensa, pois os índios disseram que vão fazer novas ocupações em outras áreas, e os fazendeiros, disseram que vão resistir e se organizar para esse ato de resistência”, afirmou durante  o evento de assinatura de emendas parlamentares, na quinta-feira (16), em Campo Grande. 

O prefeito disse ainda que passou esta semana vindo à Capital para se reunir com o governo do Estado e com as forças de segurança pública. O objetivo é conseguir um posicionamento da União e encontrar uma saída para o conflito na região. 

“Essa briga não é índio contra fazendeiro é brasileiros contra brasileiro. Não tem que cobrar dos índios ou dos fazendeiros, e sim, do Governo Federal, para que tome uma posição. Se a terra é dos índios, que o Governo Federal pague o valor justo pelas terras”, disse. 

Ainda conforme Valério, há efetivo de pelo menos 80 policiais na região. 50 agentes da Força Nacional de Segurança e 30 da Polícia Federal. Por fim, o prefeito afimou que “os indígenas de Caarapó são pacíficos e atribui o problema às pessoas de fora, que estão se infiltrando dentro das aldeias, para fazer arruaça”

Confronto

Confronto entre índios e fazendeiros em Caarapó causou a morte do indígena Cloudione, na tarde da terça-feira (14). Ele era agente de saúde indígena e foi morto a tiros. O confronto também deixou três policiais militares feridos. Eles foram até o local para ajudar os bombeiros no socorro às vítimas. Segundo a Polícia Militar, os agentes teriam sido espancados e feitos de reféns pelos índios. 

Os cerca de 600 indígenas da etnia Guarani-Kaiowá estão, desde o último domingo (12), ocupando a fazenda. A área reivindicada faz parte, segundo a comunidade, do território Tey’i Juçu e fica ao lado da aldeia Tey Kue.

Em entrevista ao Jornal Midiamax, Lorivaldo Nantes, 55 anos, membro da comunidade, afirmou que a área foi desapropriada pelo antigo SPI (Serviço de Proteção ao Índio), durante a década de 1920. “É confinamento, foi feito pelo SPI. A gente já perdeu nossos bisavós, avós, já se arrasta por muito tempo”. Ele diz que 55 mil hectares foram perdidos e estão sendo reivindicados.

Indígenas reivindicam área tradicional (Luiz Alberto)

Área disputada

De acordo com o Cimi (Conselho Indigenista Missionário), em maio, os indígenas estiveram em Brasília, pressionando pela publicação do relatório da terra indígena Dourados-Amambai Peguá. Sob pressão, a Funai assinou o relatório. Dessa forma, a demarcação da terra indígena teria prosseguimento e o massacre, para as lideranças indígenas, é uma forma criminosa e covarde de intimidar as autoridades públicas e expulsar os Guarani e Kaiowá de uma terra que lhes pertence. 

Em nota, o Conselho Indigenista Missionário categorizou como “paramiltar” a ação, e afirma que, no último semestre, foram registrados ao menos vinte e cinco casos similares entre os Guarani e Kaiowá do estado.

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