“Estamos preocupados se essa situação vai continuar”, diz liderança indígena

Aproximadamente 20 crianças indígenas, que vivem na tekoha Tajasu Iguá, no município de Douradina – cidade a 177 quilômetros de Campo Grande – estão fora da escola desde julho do ano passado. O problema começou quando o grupo de famílias Kaiowá retomaram os 75 hectares da área. Após a ocupação, as crianças ficaram sem transporte escolar. A Prefeitura alega que não buscava as crianças por ser uma área de conflito.

Líder dos Guarani Kaiowá, Roselino Sanabria, de 32 anos, disse que ao Jornal Midiamax que 18 crianças ficaram o semestre passado inteiro sem ir à escola. O fato acarretou outro problema: o cancelamento do , já que uma das exigências para receber o benefício é a frequência escolar dos menores de idade.

“A gente tá preocupado se essa situação vai continuar. Segunda começa as aulas e não sabemos se vai ter ou não o transporte escolar. Desde julho estamos sem ônibus. As crianças ficaram afastadas da escola. Perderam muita matéria”, disse a liderança.

“E as mães ainda perderam a Bolsa Família, porque as criança não tinham como ir para escola”, emendou.

Outro problema é a falta de transporte para os alunos de universidades. Clevelee Sanabria Isnarde, de 18 anos, contou que vai estudar à noite em uma universidade particular, e à tarde na UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul). E segundo ele, o transporte só passa no período noturno. “Não sei como fazer para ir para a universidade. O ônibus não passa no assentamento Tajasu, onde moro. Tem que ir atá a cidade para pegar o ônibus. Vou ter que me virar”, reclamou.

Outro lado

Segundo a secretária de Educação do município de Douradina, Sueli Aparecida Azevedo, não há problema algum. “O ônibus estava normal. O que não está tendo esses dias é o ônibus que busca para trazer à cidade e levar para a faculdade. Os motoristas estavam de férias. No fim de ano todos pegam feria coletivas. Apenas os alunos da faculdade que estavam sem o transporte da aldeia até a cidade”, disse.

Ela ainda afirmou que a partir da próxima semana o ônibus volta a circular normalmente. “Começando as aulas começa a circular. É que estava sem aula, ai teve a greve e começaram as aulas antes. Ficou com aula fora da programação que estava estabelecida, devido à greve houve esse impasse”, afirmou.

Já Ismael Pinto Narcizo, de 51 anos, que coordenava o transporte escolar no ano passado, admitiu a falha. Ele explicou que houve um período, segundo ele, “dentro das linhas normais”, que realmente os indígenas ficaram sem transporte. “Não houve paralisação. Os ônibus não foram até a área de conflito, porque julgamos perigoso e não houve tempo de regularizar. Foi exceção em relação ao período conflituoso. Foi autorizado que pegasse os alunos próximo a BR, mas na área de conflito não passou”, disse.

Diretrizes

De acordo com o Cimi (Conselho Indigenista Missionário), o problema acontece em todas as áreas ocupadas por índios no Estado. “Sempre que uma área é retomada acontece isso, paralisam as ações de educação e de saúde, alegando ser área conflituosa, mas tem que atender por questão humanitária e não fundiária. São diretrizes nacionais há muito tempo. Na questão de saúde é mais grave, chega a falecer crianças por falta de atendimento”, criticou.