Segundo a Prefeitura de são cerca de dois mil índios na região

O clima continua tenso entre índios e produtores rurais de Antônio João, a 402 quilômetros de Campo Grande, desde que a Fazenda Primavera foi invadida na madrugada de sábado (22). Os indígenas invadiram as propriedades do distrito de Campestre.

De acordo com o prefeito Selso Lozano (PT), foram invadidas as fazendas Primavera, Cedro, Fronteira e Brasil, em um total de nove propriedades rurais. O prefeito disse que no momento são cerca de dois mil indígenas guarani-kaiowá da Aldeia Nhanderu Marangatu que estão na região.

Policiais do DOF (Departamento de Operações de Fronteira) estão no local para fazer à segurança de ambas as partes.  O prefeito disse que na manhã desta quinta-feira (27) já comunicou as autoridades e vários ofícios foram enviados pedindo ajuda para resolver a situação.

“Estou aguardando as providências do Governo Federal, hoje já enviei vários ofícios pedindo ajuda para resolver o conflito. Eu acredito que em breve a situação vai ser resolvida e tudo vai voltar à normalidade”, enfatiza Selso Lozano.

Ainda de acordo com o prefeito, os moradores ficaram apavorados ontem por causa de uma informação de que os indígenas invadiriam a cidade, mas até o momento não foi confirmada. Lozano também disse que em forma de protesto os produtores bloquearam a rodovia que liga Antônio João a Bela Vista, mas já foi liberada.

Segundo o DOF, foi feita a liberação dos acessos das fazendas Fronteira, Barra e Cedro, todas próximas à Primavera, e que fazem parte da área de 9.700 hectares reivindicada pelos índios. Em 2005 as terras foram homologadas pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva como área , mas no mesmo ano o STF (Supremo Tribunal Federal) suspendeu a demarcação.

Os índios proibiram a entrada dos fazendeiros que agora entraram com um pedido de reintegração de posse. Segundo um representante da Funai, os índios só querem pressionar o Governo Federal para que o problema seja resolvido e as terras voltem para os indígenas.

Reclamação

Os produtores reclamaram, mais uma vez, da inércia e falta de vontade do Governo Federal diante da situação. A última reunião agendada sobre o tema, em julho, na Capital Federal, não aconteceu, pois nem representantes indígenas nem ministro compareceram. O presidente da Famasul, Maurício Saito, enfatizou em entrevista à imprensa sobre o acirramento dos ânimos na região Sul do Estado. “O Governo Federal tem que cuidar dos cidadãos brasileiros, índios e não índios, e precisa interceder na situação de conflito que está aflorando”.

Cimi

De acordo com o Cimi (Conselho Indigenista Missionário), restam apenas duas fazendas para serem ocupadas na íntegra pelos indígenas. Os guarani e kaiowá, diante de ataque sofrido e denunciado no início da semana, exigem do governo a presença da Força Nacional na região. 

Conforme os indígenas, quando a primeira retomada se desenrolou na Fazenda Primavera, durante a madrugada do sábado, parte da comunidade permaneceu na única aldeia.  Depois do ataque, os indígenas decidiram não recuar; ao contrário, a comunidade decidiu retomar mais quatro fazendas como uma forma de sinalizar que os Guarani e Kaiowá não desistirão de suas terras e “se tivermos que morrer aqui, nós vamos. Estamos cansados de esperar”, ressalta a liderança.

Egon Heck, missionário do Cimi e que trabalhou por mais de uma década em Mato Grosso do Sul, lembra que Ñanderu Marangatu foi palco de assassinatos contra lideranças Guarani e Kaiowá, caso de Marçal Tupa'i. Para o missionário, as retomadas são “em nome de Hamilton Lopes, que faleceu em 2012, de Marçal de Souza Tupa'i, assassinado em 1983, Dorvalino, assassinado em dezembro de 2005, Dom Quitito, que morreu em abril de 2000, e de todos os heróis guerreiros e inocentes crianças que morreram”.   

Invasão

Na madrugada de sábado (22) um grupo de indígenas invadiram a Fazenda Primavera. Segundo o DOF, o grupo estava com armas de fogo, facas e flechas quando a família foi rendida.

Eles amarraram e agrediram um adulto e dois adolescentes. Uma mulher e uma criança de aproximadamente quatro anos conseguiram fugir pela mata e chegaram a uma fazenda vizinha e pedir ajuda. As vítimas foram libertadas após a chegada da polícia. Não houve confronto.

Na ocasião, os indígenas quebraram o mata burro que dava acesso a outras três fazendas, obstruindo a passagem dos fazendeiros e produtores rurais. De acordo com o DOF, tudo foi resolvido de forma pacífica. Os indígenas atenderam a solicitação e fizeram o mata burro novamente.

 

*Editada às 12h49 para acréscimos de informações