‘Animais são invisíveis na nossa sociedade’, diz defensora sobre maus-tratos

O problema entre os animais e o ser humano ainda é uma questão cultural

Ouvir Notícia Pausar Notícia
Compartilhar

O problema entre os animais e o ser humano ainda é uma questão cultural

Nas últimas semanas o caso da cadelinha atropelada e depois abandonada pela própria família, que mandou jogá-la no córrego por alegar não ter dinheiro para fazer o tratamento do animal, virou um dos assuntos mais comentados nas redes sociais campo-grandenses.

A pequena, de apenas seis meses, foi salva dentro de um córrego da Capital, após denúncias a Decat (Delegacia Especializada de Repressão a Crimes Ambientais e Proteção ao Turista) de que haveria um animal torturado no local. Vitória Guerreira, como foi batizada pelos veterinários que prestaram os primeiros-socorros, teve a pele arrancada em várias partes do corpo e lesões nas patas em um atropelamento provocado no dia 30 de maio.

Depois de quase duas semanas de tratamento, a cadelinha não resistiu aos ferimentos e morreu na madrugada desta quinta-feira (11). A morte da Vitória também já está em todos os jornais e páginas das redes sociais, mas que queremos destacar com essa triste tragédia, é que o fato não é algo isolado ou ainda incomum, e que o caso da Vitória Guerreira não é uma exceção.

O delegado titular da Decat, Wilson Vilas Boas de Paula mostrou que em 2014 foram registrados 65 Boletins de Ocorrência por maus-tratos a animais, e que entre janeiro e a primeira quinzena de março deste ano já foram 14 casos, sendo um, da Vitória, resultante em morte. “Isso são os casos que terminaram em ocorrência, mas a gente sabe que vai muito além disso, casos que não são notificados, animais que são mau-tratados e ninguém sabe”, explica.

Amanda Bileski, que trabalha como protetora independente a mais de onze anos, e há pouco mais de um ano, conseguiu trazer para Campo Grande uma central da ONG Matan, de Santos/SP, relata alguns casos de tortura e maus-tratos aos animais que chocam até mesmo os mais fortes. “Eu já encontrei animais vítimas de estupro e de tortura, e pior, em alguns casos os donos não queriam entregar o animal. È uma coisa horrível. Uma das histórias que mais me entristeceu foi o de uma cadelinha, que depois de nove anos vivendo com um família, sendo tratada com amor e carinho, foi jogada pela janela do carro porque teve diagnostico positivo para Leishmaniose”,comenta.

Em sua ONG vivem atualmente 49 animais, sendo 26 gatos e 23 cachorros, e ela explica que a maioria é vítima de abandono. “Eles são abandonados de forma cruel e por motivos fúteis. Já vi casos em que a pessoa ia viajar e não queria gastar dinheiro com um hotel, por exemplo, e daí jogou o bichinho na rua. Gente instruída, com uma boa situação financeira. È realmente revoltante”, destaca.

O delegado Vilas Boas reforça que o abandono é a forma mais comum de agressão, mas ressalta que conforme a lei de proteção aos animais, o abandono é sim considerado crime e a pena pode varias de 6 meses a dois anos de prisão.

Vilas Boas ainda destaca que a relação entre o animal é o ser humano, envolve toda uma questão cultural, onde abandonar um animal porque ele está doente, ou porque simplesmente você não o que mais, não é algo grave e muito menos infracional. “Muita gente não assimila ao animal um valor emocional, é algo descartável”, destaca.

Nesse sentido, Amanda explica que os gatos são as principais vítimas desse pensamento, uma vez que na cultura do nosso estado, eles ainda não são aceitos. “Para muita gente os gatos representam um bicho sem sentimentos, um ser que só gosta da casa e faz o ser humano de objeto, por isso os casos de tortura com esses animais são muito maiores”.

O Centro de Zoonoses por sua vez, responsável pela maior parte dos resgates e cuidados com os bichos vítimas de tortura, explicou que embora a sociedade ainda tenha um pensamento equivocado e as vezes cruel para com os animais, 100% dos cachorros que passam pela instituição são adotados. Os gatos infelizmente ainda tem que esperar um pouco mais.

Adoção e ajuda:

Quem quiser conhecer os animais do Abrigo Mitan, ou ainda ajudar com doações, podem falar com a Amanda no número 9239-0227

Conteúdos relacionados