Ranking único de escolas no Enem é como luta Ronda x Minotauro, diz Inep

Chico Soares reforça a importância de analisar particularidades das escolas

Ouvir Notícia Pausar Notícia
Compartilhar

Chico Soares reforça a importância de analisar particularidades das escolas

Imaginar uma luta entre o brasileiro Rodrigo Minotauro, de 1,90 m e 109 kg , contra a americana Ronda Rousey, de 1,70 m e 61 kg, foi a forma usada pelos responsáveis pelo Enem para alertar que nem toda comparação entre as médias das notas das escolas é válida.

As notas do Enem 2014  por escolas foram divulgadas nesta quarta-feira (5) pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira).

Foi o terceiro ano consecutivo em que o governo federal não divulga um ranking com a média geral do Enem por escola.

O presidente do instituto, Chico Soares, reforçou a importância de analisar a pluralidade dos colégios do Brasil. Para ele, seria infrutífero considerar a classificação de notas sem interpretar as características específicas de cada instituição de ensino.

“Um único ranking produz um quadro distorcido da realidade. Não podemos comparar escolas de realidades tão diferentes”, afirma. Soares aproveitou para fazer uma brincadeira com grandes nomes do UFC. “Seria como colocar a Ronda para lutar contra o Minotauro e dizer que o Minotauro ganhou. O que isso significaria?”.

 

Colégio com melhor média

Considerando uma média aritmética das notas, o Colégio Objetivo Integrado, de São Paulo, obteve a maior média, com 742,96 pontos. No Integrado, 42 dos 43 alunos prestaram o Enem. A escola já havia ocupado a mesma posição em 2013.

Ser a ‘campeã’ do Enem faz parte da estratégia de marketing do colégio localizado na Avenida Paulista. O Objetivo Integrado foi criado em 2009 para atender à “tropa de elite” formada por alunos campeões de olimpíadas de conhecimento que estudavam no Objetivo Centro Interescolar Unidade Paulista, localizado no mesmo local.

A comparação entre as médias aritméticas das provas objetivas mostram um abismo entre as escolas privadas e públicas. No Enem 2014, só 93 escolas públicas entraram na lista de mil melhores. Isso representa menos de 10% do total. Apesar disso, esse número representa um avanço em relação à edição anterior, quando só 78 escolas públicas (7,8% do total).

 

Notas do Enem em 15.640 escolas

Os dados das notas do abrangem 15.640 escolas de todo o país. Nelas, 1.295.954 estudantes fizeram o Enem. O ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro, também alertou que o Enem é um elemento, mas não pode ser critério único para definir a qualidade de uma escola.

“Nós queremos dar os dados do Enem, mas mostrar que não são absolutos, podem ser interpretados de formas diferentes. O pai não pode só olhar o ranking puro do Enem ao matricular o filho na escola”, afirmou o ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro.

Entre os 20 colégios mais bem posicionados, cinco estabelecimentos estão no estado de São Paulo. Tanto Minas Gerais quanto Rio de Janeiro têm quatro escolas. Ceará tem três, Piauí tem duas e Mato Grosso do Sul e Goiás têm uma escola cada. Estados do Norte e Sul do país não aparecem na lista do “top 20”.

Se considerado apenas o número de alunos, somente três escolas entre as 20 mais bem posicionadas têm mais que 90 alunos. A maioria concentra salas pequenas com entre 14 e 67 alunos. A estratégia revela a tendência de formação de turmas que concentram apenas alunos de melhor rendimento.

Janine afirmou que o requisito para a divulgação da nota é que a escola tenha pelo menos 10 estudantes e que pelo menos 50% de todos os alunos tenham participado do Enem. Mas outros indicadores foram divulgados para oferecer maior contextualização.

“Poderia ser justo aumentar a barra de 50% para evitar que as escolas queiram só mostrar suas joias ou ocultar seus problemas. Apenas 30 recorreram após terem acesso ao ranking. Isso indica que o sistema está praticamente à prova de erros, mas ao mesmo tempo aceita correções”, afirmou ele.

 

Médias das provas objetivas

Segundo o cálculo aritmético, com base nas notas das quatro provas objetivas (linguagens, matemática, ciências humanas e ciência da natureza), a escola com a média geral mais alta do Brasil no Enem 2014 foi o Colégio Objetivo Integrado, de São Paulo.

No Integrado, 42 dos 43 alunos prestaram o Enem. A escola já havia ocupado a mesma posição em 2013. Já outro estabelecimento da mesma rede, e que fica no mesmo endereço da escola com a maior nota do Brasil (o Objetivo Centro Interescolar Unidade Paulista), ficou na posição 608.

Ao contrário da edição do ano passado, neste ano nenhuma escola do “top 20” é pública (no Enem 2013, apenas uma, o Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Viçosa, o Coluni, se encaixava nesta categoria). Além disso, não há escolas das regiões Norte e Sul entre as 20 melhores. Um quarto das 20 escolas com notas mais altas estão em São Paulo, e só cinco colégios na lista ficam fora de capitais.

Em 2014, o colégio público com a méda mais alta nas provas objetivas foi o Instituto Federal do Espírito Santo (campus Vitória).

 

Novo indicador: permanência na escola

Em busca de relativizar a formação de um ranking, o Inep diz que neste ano foi incluído o indicador de permanência na escola. Ele mostra se o estudante cursou total ou parcialmente o ensino médio no mesmo local.

O presidente do Inep, Chico Soares, afirmou que algumas escolas do Brasil tentam maquiar o ranking do Enem. “Ou ela traz o aluno brilhante de outra escola para o 3º ano ou ela exclui o aluno que tem desempenho pior do 3º ano”, disse Soares. “Isso melhora só a forma, e não a realidade. O que o Inep está querendo ver é o que as escolas agregam”, completou o ministro Janine Ribeiro.

Segundo o ministro, não é somente a qualidade da escola e dos professores que determinam o resultado do aluno no Enem. Ele afirmou que a classe social dos estudantes tem influência na nota do exame.

O Inep diz que o sistema de consulta permitirá ainda ver as taxas de rendimento (aprovação, reprovação e abandono) verificadas no Censo Escolar da Educação Básica, além do nível socioeconômico (INSE) e a formação docente.

“Reunir as escolas em um único grupo para qualquer tipo de análise é uma opção muito limitada, que gera sínteses equivocadas”, afirmou o presidente do Inep.

“As escolas de ensino médio brasileiras formam um conjunto muito heterogêneo, principalmente em relação às características socioeconômicas de seus estudantes e esses fatores precisam ser levados em consideração”, completou Chico Soares.

Os resultados de 2014 foram divulgados somente para as escolas em 9 de julho. Os dirigentes escolares tiveram prazo de dez dias para entrar com recurso no Inep. De acordo com o Inep, nesta edição 30 escolas entraram com recurso, sendo que 11 delas tiveram os pedidos deferidos.

Os dados são calculados apenas para escolas que tenham matriculados, no mínimo, dez estudantes da 3ª e/ou 4ª série do ensino médio regular seriado e 50% de estudantes destas mesmas séries participando do Enem.

Conteúdos relacionados