‘Não imaginava’, diz amigo que deu rodas para carro de Cristiano Araújo
Ex-jogador presenteou motorista do cantor: ‘Hipocrisia achar culpado’
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Ex-jogador presenteou motorista do cantor: ‘Hipocrisia achar culpado’
O ex-jogador de futebol Tiago Ferreira dos Santos, de 29 anos, afirmou que deu de presente ao motorista do cantor Cristiano Araújo, Ronaldo Miranda, as quatro rodas que estavam no carro no momento do acidente que matou o sertanejo, na BR-153, em Goiás. Conhecido como Simão, ele revelou, em entrevista exclusiva ao G1 e à TV Anhanguera, que já havia feito reparo em duas das rodas, mas em momento algum acreditou que essa alteração pudesse ocasionar a saída de pista.
“Eu não imaginava que o acidente pudesse ocorrer. A gente está chateado, mas o Ronaldo não iria colocar uma roda com problema em um carro que ele mesmo está dirigindo, porque ele também poderia ter morrido. Se as rodas estivessem com algum problema, eu mesmo poderia ter morrido, porque rodei com elas por um ano e meio. É hipocrisia das pessoas ter que achar um culpado”, disse.
O acidente aconteceu na madrugada do último dia 24, quando o sertanejo voltava de um show em Itumbiara, no sul do estado. Além de Ronaldo e de Cristiano, estavam no carro Allana Moraes, namorada do músico, e Victor Leonardo, um dos empresários dele. A jovem de 19 anos morreu no local. Já Ronaldo e Victor se feriram, foram atendidos no hospital, mas já receberam alta.
Simão já jogou e hoje trabalha com o atacante Welliton, revelado pelo Goiás, com passagens pelo Grêmio e São Paulo, e que atualmente está no Mersin, da Turquia. Ele explicou que o atleta e Cristiano Araújo eram muito amigos e que dessa proximidade, ele conheceu Ronaldo.
O ex-jogador explicou que tirou as rodas aro 22 que usava em sua Range Rover 2012 porque iria vender o veículo. As quatro acompanhadas dos pneus custaram R$ 15 mil. “Procurei saber e me informei que para vender, era melhor colocar as rodas originais”, disse.
Em janeiro deste ano, em conversa com Ronaldo, o motorista de Cristiano Araújo mostrou interesse nas rodas. Segundo ele, o modelo havia chamado a atenção do amigo.
“Eu vi na Rússia e fiz a mesma coisa. Comprei as rodas e pintei de branco. Quando tirei, o Ronaldo mostrou interesse e me perguntou o que iria fazer com ela. Disse que se ele quisesse, poderia pegar para ele. Não tinha porque vender rodas para um cara que sempre quando precisei, em ajudou. Dei as rodas para ele”, lembra.
Reparos
Por duas vezes, uma em Porto Alegre, onde mora, e outra em Goiânia, Simão fez reparos em duas das rodas. Ele negou que o procedimento era uma solda e alegou que este tipo de procedimento é comum.
“Todo mundo que tem roda esportiva faz reparo. Não creio que se pudesse tirar a vida de alguém, esse procedimento seria feito. Eu rodei bastante com essas rodas e elas não estavam destruídas. Acontece que quando se passa em estradas ruins, com buracos, elas emperram”, afirma.
Em nota enviada ao G1, a Jaguar Land Rover, fabricante dos carros tanto de Simão como de Cristiano Araújo, informou que “não recomenda em nenhuma circunstância o uso de peças e acessórios não originais em seus veículos”. A empresa disse ainda que continua colaborando com as investigações da Polícia Civil de Goiás. Por telefone, a assessoria informou ainda que as rodas originais do modelo são de aro 20.
Questionado se sabia da recomendação, Simão foi categórico. “Não sei se é legal, mas você vai a um estacionamento do São Paulo ou do Corinthians e não vê rodas originais, só esportivas. Se fosse ilegal, a polícia já teria apreendido [os carros]”, salienta.
Acima da velocidade
No depoimento, Ronaldo confessou ao delegado Fabiano Henrique Jacomelis, responsável pelas investigações, que conduzia o veículo acima da velocidade permitida no onde ocorreu o acidente, que é de 110 km/h. Ele explicou ainda que perdeu o controle do carro depois que um dos pneus estourou.
“Ele disse que estava correndo um pouco, mas não soube precisar exatamente qual era a velocidade no momento do acidente, já que o carro era muito potente e ele não percebeu o excesso. Ele também informou que ouviu um barulho de pneu furado e, em seguida, perdeu o controle”, relatou o delegado ao G1.
Segundo o delegado, o motorista, que chorou durante todo o depoimento, afirmou que não faz consumo de bebidas alcoólicas e negou que estivesse usando celular ou que tenha dormido antes de perder o controle, o que já havia sido informado por Jacomelis após Ronaldo ser submetido ao teste do bafômetro e atestar negativo.
O condutor perdeu o controle da direção 21 minutos após o grupo fazer uma parada em um posto de combustíveis, a cerca de 57 km do local do capotamento. O físico Reges Guimarães analisou a velocidade média feita pelo carro com base no horário das imagens de uma câmera de segurança. “Ele fez uma velocidade média de 162 km/h”, diz.
Já o pai de Cristiano, João Reis de Araújo, disse que já havia alertado o filho sobre excesso de velocidade. “Eu sempre ia a todos os shows e neste eu não estava. Fico muito entristecido por isso, pois eu não estava lá no último show dele. E tem coisas que a gente fica com um porquê na cabeça. Se eu tivesse junto, tenho certeza que eu ia brigar, porque eles foram muito rápido. Eu sempre puxava a orelha dele quanto a isso, pois ele deixava o pessoal correr um pouco”, afirmou.
O delegado também solicitou um laudo cadavérico das vítimas fatais e uma perícia no local do acidente para comprovar se Cristiano Araújo e Allana Moraes usavam cinto de segurança no banco de trás no momento do acidente. Ele ainda vai ouvir Victor, por considerá-lo peça-chave.
Sem mágoas
Os pais da estudante Allana Moraes dizem quenão têm mágoas e não culpam o músico e o motorista pela perda da filha. “De jeito nenhum, eu queria encontrar o seu João [pai de Cristiano], pessoas da equipe e, de um modo especial o Ronaldo, pois eu queria tirar esse peso, pois vão colocar uma carga muito pesada em cima dele por estar dirigindo esse carro”, afirmou a mãe da jovem, Miriam Coelho Pinto.
Segundo ela, Allana era apaixonada pelo sertanejo e partiu com quem mais amava. “Ela gostava muito dele. Então, na verdade, foi no amor, por amor e com o amor da vida dela”, disse.
O pai da estudante, o representante comercial Frank Moraes, também diz que não encontra um único responsável pelo acidente. Ele diz que Cristiano sempre voltava dos shows dormindo no colo de Allana, no banco traseiro do carro, e sempre alertava a filha para usar o cinto de segurança.
Morte e enterro
Cristiano Melo Araújo nasceu no dia 24 de janeiro de 1986 na cidade de Goiás. Filho de João Araújo e Zenaide Melo, ele tinha três irmãos: Ana Cristina Melo Araújo – de quem é gêmeo –, Felipe Araújo e Nelson Faleiro. O cantor namorava a estudante Allana Moraes havia 1 ano e dois meses. Ele deixou dois filhos – João Gabriel, de 7 anos, e Bernardo, de 2, frutos de relacionamentos anteriores.
O cantor e a namorada morreram após o acidente na BR-153, entre Morrinhos e Pontalina. O sertanejo chegou a ser socorrido e encaminhado a um hospital na capital, mas já chegou sem vida.
O corpo de Cristiano Araújo foi enterrado por volta das 12h de quinta-feira (25), no Cemitério Jardim das Palmeiras, em Goiânia. Mais de 1,5 mil pessoas, entre familiares, amigos e fãs, acompanharam a cerimônia, segundo estimativas da Polícia Militar. Eles deram uma salva de palmas e cantaram vários sucessos do artista durante a despedida.
O sepultamento do cantor ocorreu após um cortejo de 15 km em um carro dos bombeiros, que partiu do Centro Cultural Oscar Niemeyer, onde o corpo foi velado por mais de 15 horas, até o local. O caixão estava coberto por uma bandeira do Brasil e outra do Vila Nova, time do coração do sertanejo.
Diferente do previsto inicialmente, o corpo de Allana não foi enterrado ao mesmo tempo que o de Cristiano. O sepultamento dela ocorreu no mesmo local, horas antes.
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