Marcelo Odebrecht diz à CPI da Petrobras que não tem o que ‘dedurar’

Deputados estão em Curitiba para ouvir presos da Operação Lava Jato

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Deputados estão em Curitiba para ouvir presos da Operação Lava Jato

Marcelo Odebrecht, presidente da holding Odebrecht e réu na Operação Lava Jato, se recusou a falar sobre o processo judicial, mas respondeu a algumas perguntas dos deputados da CPI da Petrobras nesta terça-feira (1º). Ele negou a possibilidade de assinar acordo de delação premiada. “Para alguém dedurar, ele precisa ter o que dedurar. Isso não ocorre aqui”, disse.

“Infelizmente, estou engessado… Até por respeito à decisão do Supremo Tribunal Federal, no que tange especificamente ao processo, já que existe um processo criminal em andamento, a gente fica impedido de falar sobre o processo. Espero que os senhores entendam essa situação”, disse Marcelo Odebrecht. Após 35 minutos, o executivo foi dispensado pelos deputados.

Os parlamentares estão em Curitiba para ouvir presos investigados pela Operação Lava Jato, que apura um esquema bilionário de fraude, corrupção e desvio de dinheiro na Petrobras e outros órgãos públicos. Marcelo Odebrecht foi o penúltimo a ser chamado pelos deputados.

Nesta terça-feira, foram convocados também os ex-executivos da Odebrecht Márcio Faria da Silva, Rogério Santos de Araújo, Alexandrino de Salles Ramos e Cesar Ramos Rocha, além do ex-gerente da Petrobras Celso Araripe de Oliveira. Todos ficaram em silêncio.

Marcelo Odebrecht e os outros quatro ex-executivos estão presos no Paraná desde junho, quando foi deflagrada a 14ª fase da Operação Lava Jato.

 

‘Desgaste desnecessário’

O presidente da holding disse nesta terça que essa não será a primeira nem a última crise da empresa e que vem trazendo um “desgaste desnecessário” à própria Petrobras. “Tenho fé que sairemos dessa ainda mais fortalecidos”, afirmou.

Sobre a possibilidade de fazer uma delação premiada, a exemplo de outros réus no processo, Marcelo Odebrecht disse que tem valores dos quais não abrirá mão, citando uma briga entre suas filhas. “Eu talvez brigasse mais com quem dedurou do que aquele que fez o fato”, afirmou. “Para alguém dedurar, ele precisa ter o que dedurar. Isso não ocorre aqui.”

Questionado sobre a relação com políticos, ele respondeu que é natural. “É provável que se eu encontrar com um amigo, empresário, político, é natural que venha à tona o tema Petrobras. Não me lembro de nenhuma conversa específica”, afirmou.

De acordo com o investigado, ele sempre esteve à disposição para depor. “Inclusive, fizemos uma petição ao pessoal de Curitiba para poder prestar esclarecimentos que, provavelmente, se tivessem sido feitos, talvez até evitassem muito provavelmente a prisão nossa e de meus companheiros”, disse.

Os deputados também levantaram a possibilidade de um acordo de leniência – uma espécie de delação premiada, contudo, relacionada à empresa. Marcelo afirmou que não poderia responder.

“Essa questão de leniência, acho que estamos inclusive muito avançados, gostaríamos de contribuir, mas é o tipo de tema que nós gostaríamos de trazer para a nossa defesa nos autos”, disse.

 

CPI no Paraná

Esta é a segunda vez que a CPI, que investiga fraudes em contratos da Petrobras com empreiteiras, se reúne na capital paranaense para ouvir réus e pessoas investigadas no esquema. Na segunda-feira (31), primeiro dia desta segunda passagem por Curitiba, os parlamentares esperavam ouvir outras cinco pessoas, mas todas ficaram caladas.

Para quarta-feira (2), a CPI planeja ouvir o publicitário Ricardo Hoffmann, preso na 11ª fase da Lava Jato, que teve como alvo contratos de publicidade firmados entre a Caixa Econômica Federal, o Ministério da Saúde e a agência de publicidade Borghi Lowe. Nessa fase, também foram presos três ex-deputados federais – André Vargas, Pedro Corrêa e Luiz Argôlo.

Foi convocado ainda Fernando Antônio Guimarães Hourneaux de Moura, lobista preso na 17ª fase – a mesma que prendeu o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu.

Além destes depoimentos, os parlamentares pretendem promover a acareação entre Augusto Ribeiro de Mendonça Neto, ex-executivo da Toyo Setal, Renato de Souza Duque, ex-diretor de Serviços da Petrobras, e João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do Partido dos Trabalhadores (PT).

 

As suspeitas

A Odebrecht é suspeita de participar do chamado clube das empreiteiras, que se organizavam para fraudar contratos com a Petrobras, de acordo com o Ministério Público Federal e a Polícia Federal.

Segundo o Ministério Público Federal, a Odebrecht e Andrade Gutierrez tinham esquema “sofisticado” de corrupção ligada à estatal, envolvendo pagamento de propina a diretores da estatal por meio de contas bancárias no exterior.

As denúncias partiram de depoimentos de ex-funcionários da Petrobras, como o ex-diretor de Abastecimento, Paulo Roberto Costa, que firmou um acordo de delação premiada com a Justiça e detalhou o funcionamento do esquema.

Além disso, de acordo com o juiz Sérgio Moro, responsável pelas ações penais oriundas da Lava Jato na primeira instância, os delegados da Polícia Federal e os procuradores do Ministério Público Federal apresentaram provas documentais significativas da materialidade dos crimes.

Assim como Marcelo Odebrecht, 12 pessoas ligadas à empreiteira já são réus perante a Justiça Federal e respondem por crimes como organização criminosa, corrupção ativa, corrupção passiva, lavagem de dinheiro nacional e internacional.

 

Destruição de provas

Está suspenso um inquérito da Polícia Federal (PF) aberto para investigar um bilhete escrito por Marcelo Odebrecht para os advogados que continha a mensagem “destruir email sondas”.

Na avaliação da Polícia Federal, o bilhete era uma tentativa de eliminar provas da operação, que investiga um esquema bilionário de corrupção, desvio e lavagem de dinheiro na Petrobras. Os advogados que representam Marcelo Odebrecht, por outro lado, afirmam que o intuito da mensagem era aniquilar o conteúdo, resgatando o histórico.

O bilhete foi visto por carcereiros da Polícia Federal em uma triagem de rotina durante a visita de advogados a Marcelo Odebrecht. Os agentes fizeram uma cópia e entregaram o original aos juristas. Mais tarde, o inquérito foi aberto.

A decisão de suspender o inquérito foi tomada após a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) solicitar pedido de providência por violação de sigilo profissional.

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