Evento ‘vira-casaca’ contra Dilma causa indignação no Facebook

“Acho que estão tramando golpes até mesmo no Facebook”, dizia um comentário

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“Acho que estão tramando golpes até mesmo no Facebook”, dizia um comentário

O Facebook brasileiro amanheceu em polvorosa quando diversos seguidores de um evento criado em outubro de 2014 contra o então candidato à Presidência Aécio Neves (PSDB), se viram apoiando, involuntariamente, uma convocação para os protestos anti-PT marcados para o dia 16 de agosto.

Criado pelo estudante de Administração paulistano Dennis Henrique Possani Heiderich, de 23 anos, para apoiar a reeleição da presidente Dilma Rousseff, o evento – que nunca se traduziu em manifestação nas ruas – tinha 68 mil seguidores até a manhã desta quinta-feira, quanto seu título foi modificado de “Eu Não Voto em Aécio Neves #ForaPSDB” para “16 de Agosto Eu Vou Pra Rua #ForaPT”.

Em minutos, a página ficou repleta de mensagens em que pessoas convocavam seus amigos para conferir se eles realmente apoiavam o evento. “Vocês aceitaram convite para essa manifestação? Acho que estão tramando golpes até mesmo no Facebook”, dizia um comentário.

“Que isso? (sic) Nunca confirmei presença num evento alienado e golpista. O que meu nome está fazendo aqui?”, afirmava outra participante.

Desde então, a página perdeu cerca de 18 mil seguidores. A maioria dos que se vão acusam o criador do evento de ter tramado a ação como armadilha para participantes de esquerda e “fazer volume” em sua manifestação virtual contra Dilma Rousseff.

Outros participantes confirmados, no entanto, demonstram apoiar a mudança e se divertir com a situação.

Para Dennis, no entanto, a explicação é mais simples. “O próprio Facebook te dá o direito de mudar de opinião, de se arrepender do que você colocou no evento e mudá-lo uma única vez. E eu me arrenpendi”, disse à BBC Brasil em entrevista por telefone.

 

‘Doutrinado’

O Facebook do estudante reflete um processo rápido de “conversão”. No dia 31 de dezembro de 2014, o estudante aparece em seu Facebook pintando faixas de apoio à presidente reeleita. “Dilma Rousseff vai subir sambando na cara da oposição amanhã na rampa do Palácio do Planalto”, diz outra publicação no mesmo dia.

No dia 15 de abril, ele critica pessoas que pedem “Fora PT” e acusam o governo de uma “ditadura comunista”. Cerca de 20 dias depois, no dia 3 de maio, anuncia em vídeo que deixa “uma suposta esquerda para me aliar à Direita, uma Direita que nasce para endireitar os rumos da nação”.

“Eu era uma pessoa completamente doutrinada”, afirma Dennis. “Aí depois começaram a surgir as provas das pedaladas, do Petrolão. E quando surgem as provas contra algo você não pode continuar naquilo.”

Segundo ele, a “gota d’água” para sua transformação foi o debate sobre a redução da maioridade penal.

“Quando eu vi toda a esquerda saindo nas ruas para protestar contra a redução da maioridade penal, chamando aqueles marginais de crianças, querendo comparar com uma pessoa que realmente está brincando ou indo para a escola, eu pensei: ‘eu estou do lado errado, preciso sair daqui’. Agora sou assumidamente de direita.”

A mudança, aparentemente, foi completa. No ano passado, Dennis fazia campanha contra a definição de núcleo familiar da proposta do estatuto da família, que não inclui casais homossexuais. Hoje, se diz “absolutamente defensor da família tradicional” e afirma que apoiaria uma candidatura de Jair Bolsonaro (PP-RJ) – deputado federal conservador conhecido pela militância por valores conservadores – à Presidência.

Vídeos em que criticava opositores do governo petista e defensores de uma intervenção militar foram tirados do YouTube. Sobre isso, Dennis também pensa diferente. “Eu apoio a cassação, impeachment ou intervenção militar. Pra mim, o que vier que tire essa quadrilha do poder será vitória. Seria um modo de limpar tudo de uma vez.”

O que não parece ter mudado, no entanto, é a opinião de Dennis sobre o PSDB. “Para mim, PSDB e PT são a mesma moeda. É que um é um pouco mais leve do que o outro. Tanto que eles também são a favor do estatuto do desarmamento, que tirou a proteção da população de bem.”

Atualmente, Dennis diz estar ajudando a construir o PMB, Partido Militar Brasileiro, que será de “pura direita”, que ele define como “um lado que não negocia com marginais e que se preocupa, primeiramente, com os direitos do cidadão de bem”.

 

Sem atenção

Questionado sobre o porquê de ter optado por mudar o nome do evento em vez de apagá-lo, quando mudou de opinião, Dennis rejeita as acusações de que teria tramado contra os seguidores de esquerda.

“O objetivo desse evento era formar a militância virtual para apoiar o governo petista. Quando acabou a eleição, não mexi mais no evento. Quando comecei a postar novamente, já foram coisas na linha do ‘Fora PT’”, diz.

“Queria deixar claro que a pessoa que criou o evento, que ajudou a organizar a campanha (a favor de Dilma), mudou de ideia. Quis dizer para as pessoas: ‘Faça a mesma coisa, mude de ideia’. Por isso não desativei o evento. Só tive a ideia de trocar agora, porque eu já tinha feito um trabalho de conscientização. Nem achei que teria tanto problema.”

Na opinião do estudante, a surpresa dos 18 mil que deixaram a página até o fechamento desta reportagem se deve ao fato de que “as pessoas não prestam atenção” nos eventos que decidem apoiar.

“Eu postei aquele vídeo, mas viu quem quis ver. Como eu estava postando essas coisas há bastante tempo, achei que as pessoas ou já teriam acordado ou teriam saído do evento.”

Ele diz ter recebido centenas de mensagens desde a mudança, com xingamentos e até ameaças. No entanto, recebeu elogios de pessoas que também teriam se arrependido de votar no PT.

A debandada de seguidores, por outro lado, não o incomoda: “Na verdade isso me alivia, afinal quem está saindo não irá atrapalhar!”

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