Troca de acusação entre servidores revela suposta rede de corrupção em presídio

Caso veio à tona após sumiço de dinheiro para pagar trabalho dos presos

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Caso veio à tona após sumiço de dinheiro para pagar trabalho dos presos

Uma troca de acusações entre servidores públicos fez a Vara de Execução Penal de Campo Grande determinar a investigação de suposto esquema de corrupção com desvio de dinheiro, tráfico de droga e tortura de presos para forjar depoimentos. O caso está na Deco (Delegacia Especializada de Combate ao Crime Organizado) e pode causar uma devassa na cúpula do Centro Penal Agroindustrial da Gameleira.

O estabelecimento penal, de segurança mínima, foi criado em 2010 para cuidar de presos condenados em regime semiaberto. Segundo o investigado até agora, haveria na instituição um esquema criminoso ligado ao narcotráfico e que lucraria até com superfaturamento em repasses da cantina instalada para vender aos detentos.

A delegada Ana Cláudia Oliveira Medina, chefe da Deco, confirma a investigação, contudo, não quis detalhar a questão por imposição do sigilo. Ela disse já ter ouvido “várias pessoas, que investiga a questão já há algum tempo” e que, ao final da apuração, vai examinar a situação para ver se pode, ou não, divulgar o caso à imprensa.

FALA BOMBÁSTICA

O suposto esquema, que parece ter saído de seriados sobre a vida e corrupção dentro de estabelecimentos prisionais, chegou até a Justiça quando, na segunda metade de 2015, sumiu de dentro do cofre da Gameleira a quantia de R$ 25 mil. O montante, em dinheiro vivo, teria sido entregue a uns dos diretores por uma empresa que emprega presos da Gameleira.

Sem ter como justificar o sumiço do dinheiro e sem culpados diretos, um agente penitenciário concursado teria sido acusado. No entanto, um dos diretores, que ainda não aparece no rol dos suspeitos, teria contado o dinheiro na frente de outros servidores e encarcerados, guardando a soma dentro do cofre da instituição.

Nessa operação, a de contar o dinheiro, o diretor em questão teria sido questionado por um dos presentes, em tom de brincadeira, se ele iria comprar um carro novo com aquelas notas. De resposta, o diretor, conforme o depoimento teria dito a um grupo que viu a cena que a soma serviria para ‘mandar o filho para Disney’.

Ainda no ano passado, em outubro de 2015, do mesmo cofre da Gameleira, teria havido outro extravio, desta vez de R$ 30 mil. Nenhum dos dois casos teria sido informado à polícia, até então.

No entanto, o sumiço da soma vazou entre servidores e detentos. Agora, a Vara de Execução Penal de Campo Grande mandou a Polícia Civil investigar se um preso teria sido pressionado para declarar judicialmente que quem teria desviado o recurso seria um agente penitenciário.

Como meio de intimidação, o encarcerado teria sido mandado para uma cela situada num pavilhão conhecido entre os internos da Gameleira como “corró”. Quem fica nesta cela perde o contato externo, fica numa espécie de solitária.

O preso teria ficado lá por um mês e, quando saiu, teria sido convencido por superiores a prestar testemunho judicial sustentando que o dinheiro teria sumido por culpa de um agente penitenciário, que já não cumpre expediente na Gameleira.

A partir daí a trama envolve servidores públicos, presos e até diretores com supostas irregularidades administrativas e até envolvimento com o narcotráfico. Agentes teriam passado pela unidade e pedido para deixar o posto imediatamente ao perceber o esquema que supostamente opera na unidade penal.

Para complicar a situação, presos que ficaram sem receber pelo trabalho que realizam durante a pena, passaram a pressionar agentes, que são os servidores com quem têm contato direto. Segundo detentos, oficialmente a informação é de que o dinheiro não tinha sido repassado. Mesmo assim, praticamente toda a população carcerária sabe do suposto sumiço dos pagamentos.

E a investigação tem indícios de que mais irregularidades graves estariam ocorrendo na Gameleira. Um encarcerado ligado ao narcotráfico, segundo as denúncias, estaria distribuindo uma espécie de ‘mensalinho’ a diretores da instituição. Com a suposta propina, ele conseguiria ‘salvo-conduto’ para sair do centro penal com o carro próprio para buscar drogas em um sítio perto de Campo Grande.

Até a cantina que funciona dentro da unidade prisional seria alvo de suposto esquema para lucrar irregularmente. Haveria superfaturamento na gestão do local, e o lucro seria partilhado, inclusive, com agentes penitenciários.

EMPREGADOS

Até esta quinta-feira (3) o Centro Penal Agroindustrial da Gameleira abrigava 1.016 condenados, entre os quais cerca de 600 empregados fora da instituição, todos por meio de parcerias estabelecidas pela Divisão do Trabalho da Agepen (Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário) ou por meio do Conselho da Comunidade

De acordo com a assessoria de imprensa da Agepen, as parcerias que mais empregam são curtumes, frigoríficos, serviços gerais em órgãos públicos e construção civil, entretanto, existem várias outras parcerias. Entre as quais oficinas instaladas dentro do presídio, como aplicação de embalagem em produtos e empacotamento de erva de tereré, produção de vassouras, padaria, cozinha e descasque de mandioca.

Todos os trabalhos ofertados aos encarcerados sustenta a assessoria da Agepen, passam pelo crivo do Judiciário.

A média da remuneração dos presos gira em torno de um salário mínimo mensal, mas há condenados que recebem bem mais isso, dependendo da função exercida.

O secretário estadual de Segurança Pública, José Carlos Barbosa, informou que não tomou conhecimento das denúncias. Segundo ele, as investigações devem ser conduzidas com total liberdade e rigor, para que as medidas cabíveis sejam tomadas.

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