O vereador Marcos Tabosa, PDT, diz que o quer deixar Campo Grande refém dos serviços. O parlamentar explica que é necessário a cidade ter outras empresas de transporte, para que a população consiga escolher.

“O transporte público quer deixar Campo Grande refém. É um buraco sem fundo. Eu defendo a abertura do transporte da Capital e a regularização das vans para atender os bairros. Precisamos abrir concorrência. Em 2024 vou reapresentar o barrado na Câmara neste ano. É uma vergonha a cidade ficar refém do transporte coletivo com uma das passagens mais caras do país”, disse Tabosa.

O Projeto que o vereador diz tem como objetivo incluir vans populares em Campo Grande, mas a proposta não foi aprovada pela CCJ (Comissão Permanente de Legislação, Justiça e Redação Final), na Câmara Municipal.

O PL do próprio vereador Tabosa. O parlamentar destaca que a intenção do projeto seria uma maneira de tentar barrar o ‘monopólio’ do Consórcio Guaicurus no transporte na Capital.

“O projeto rejeitado ajudaria a acabar o monopólio do Consórcio Guaicurus. A população não aguenta mais usar um transporte porcaria e decidimos colocar as vans. O Executivo regulamentaria e as vans começariam a atender a população que teria opção de escolha”, disse Tabosa quando a proposta não foi aprovada.

Durante uma coletiva de imprensa realizada na tarde desta quinta-feira (21), o Consórcio Guaicurus ainda disse que os veículos da empresa não estão sucateados. O diretor operacional da empresa explicou que cada ônibus pode rodar por, pelo menos, 10 anos.

“Eu posso ter veículo rodando até 10 anos. Hoje, o que a gente tem é uma idade média um pouco acima de 5 anos. A agência de regulação, ao fazer um estudo sobre isso, chegou à conclusão de que a idade média acima de 5 anos não é a causa do desequilíbrio, mas é uma consequência do desequilíbrio, que fez com que a concessionária não tivesse recursos para atualizar a frota”.

Em junho deste ano, o Consórcio Guaicurus tinha 182 ônibus ‘vencidos’ prestes a completar 10 anos rodando. A idade média dos veículos que trafegam na cidade ultrapassava em 2022 os 8 anos, enquanto a concessão permite idade média de 5 anos.

Em 2023, a empresa comprou apenas 71 novos ônibus, que renovaram 15% da frota atual de 450 ônibus. Assim, outros 111 ônibus vencidos continuam circulando em Campo Grande.

A frota tem idade média de 7,7 anos, acima do ideal estipulado em contrato, que é de 5 anos. Porém, as empresas de ônibus não informaram se, com a renovação, a idade da frota ficará dentro do que estipula o contrato.

Apesar das denúncias, as empresas seguem descumprindo contrato sem punição por parte da Agereg (Agência de Regulação de Campo Grande) – responsável por fiscalizar o cumprimento do contrato -, dos vereadores de Campo Grande e do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul).

Na Câmara de Campo Grande, vereadores já barraram ao menos três tentativas de abertura de CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para apurar as irregularidades no serviço. Além disso, mesmo com denúncias de precariedade e prejuízos à população, os parlamentares aprovaram isenção milionária de , que somam mais de R$ 11 milhões ao longo do ano.

 100 ônibus fora de circulação

O Consórcio Guaicurus tirou de circulação 140 ônibus nos últimos três anos, passando de 552 em 2019 para 412 em 2022. Em contrapartida, Campo Grande ganhou 36 mil novos moradores, saltando de cerca de 906 mil em 2019 para 942 mil no ano passado, conforme dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O número está abaixo do mínimo estipulado em contrato, que é de 575 ônibus em circulação. Enquanto isso, passageiros precisam aguardar mais de 1 hora para conseguir um ônibus, dependendo do horário e da linha.

Apesar de denúncias sobre o serviço prestado em Campo Grande, o Consórcio Guaicurus vai embolsar R$ 32 milhões em verbas públicas somente este ano, além dos R$ 31 milhões que recebeu no ano passado.

Tarifa técnica em R$ 5,95

O Conselho de Regulação estabeleceu, em 12 de dezembro, a tarifa técnica em R$ 5,95, um aumento de R$ 0.15 em relação ao valor anterior. O último reajuste para a população foi em março, que estabeleceu o valor em R$ 4,65.

A tarifa técnica representa o valor total pago ao Consórcio Guaicurus, somando a tarifa paga pela população e subsídios repassados pela Prefeitura e Governo do Estado.

Passagem subiu 69% em 10 anos

O valor do passe de ônibus cobrado aos usuários do transporte coletivo de Campo Grande subiu 69% entre 2013 e 2023, período em que o Consórcio Guaicurus passou a explorar o serviço de transporte público na Capital.

O levantamento considera o novo aumento para R$ 4,65 divulgado nesta terça-feira (14) pela prefeitura de Campo Grande.

Em 2013, quando o Consórcio Guaicurus passou a comandar o transporte coletivo de Campo Grande após vencer licitação, os usuários precisavam desembolsar R$ 2,75 para realizar uma viagem de ônibus. A tarifa dos ônibus executivos era de R$ 3,35.

A partir de maio deste ano, os usuários desembolsam R$ 4,65 para realizar a mesma viagem, equivalendo a um aumento de 69% no valor do passe pago pelos passageiros.

Conforme o histórico dos preços das passagens divulgado pelo próprio Consórcio Guaicurus, apenas duas vezes o reajuste contou com uma diminuição do valor.

Ainda em 2013, no final do ano, o passe que era cobrado R$ 2,75, reduziu para R$ 2,70.

Do mesmo modo, em 2019 o valor cobrado era de R$ 4,10, já em 2023 foi reduzido para R$ 3,95. Entretanto, a redução durou menos de um mês e, onze dias depois, voltou para R$ 4,10.

O novo reajuste, de R$ 0,25, é um dos maiores já aplicados pelo Consórcio Guaicurus, ficando atrás somente dos anos 2013-2014 (aumento de R$ 0,30) e 2015-2016 (aumento de R$ 0,30).

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