O ano de 2022 veio para provar nas urnas a máxima de que não tem eleição ganha até o resultado. E o ano político foi de surpresas no resultado em Mato Grosso do Sul, com a virada do candidato (), eleito governador, a derrota do ex-prefeito Marquinhos Trad (PSD) após escândalos sexuais revelados em investigações e até declaração em rede nacional do presidente Bolsonaro em apoio a Renan Contar (PRTB), que acabou colocando-o no segundo turno.

O resultado das eleições também refletiu no legislativo municipal e estadual. Na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul, políticos antes bem votados não foram reeleitos e na Câmara, indeferimento que deixou vereador de fora da diplomação, além de mostrar a força do voto feminino, destacando a única vereadora como eleita a deputada federal.

Virada de Riedel

Eduardo Riedel e Barbosinha serão empossados em 1º de janeiro – Divulgação

Empresário, Eduardo Riedel começou na política como secretário estadual de governo de Reinaldo Azambuja (PSDB) em 2015. Em seguida, assumiu o cargo de secretário estadual de infraestrutura, função em que ficou até maio deste ano, quando precisou renunciar para se candidatar ao governo do Mato Grosso do Sul.

Sem nunca ter disputado uma eleição, Riedel despontou após iniciar uma campanha pontuando menos que 10% das intenções de voto. Aos poucos e no voto a voto, chegou ao segundo turno junto com Contar.

Este último, que também não estava entre os favoritos, segundo as pesquisas divulgadas, garantiu sua vaga após o presidente Jair Bolsonaro (PL) pedir em debate transmitido em rede nacional votos para ele em Mato Grosso do Sul.

Do favoritismo à derrota, Contar resolveu cancelar participação em quase todos os debates no segundo turno, deixando caminho livre para Riedel mostrar suas propostas e sair vencedor das urnas.

O apoio de Bolsonaro, inclusive, foi alvo de disputa entre os dois candidatos do Estado. O presidente veio para agenda a convite de Riedel, mas acabou declarando apoio na reta final a Contar. No segundo turno, Bolsonaro ficou neutro e fez até vídeo ao lado da senadora eleita Tereza Cristina (PP) e do deputado federal Luiz Ovando (PP) para declarar não ter candidato preferido na disputa.

Marquinhos em 6º lugar

Marquinhos Trad após depoimento na Deam sobre casos de assédio – Foto: Nathalia Alcântara/Midiamax

Cotado como favorito nas urnas, o ex-prefeito de Marquinhos Trad (PSD) acabou amargando o 6º lugar no resultado final das eleições ao Governo de Mato Grosso do Sul.

Se antes Marquinhos era o favorito para disputar o segundo turno com o ex-governador André Puccinelli (MDB), conforme apontavam as pesquisas de intenção de voto, o ex-prefeito viu a possibilidade de se eleger desmoronar, aos poucos, conforme era revelado o escândalo sexual envolvendo troca de ‘nudes' e atos sexuais por favores na Prefeitura de Campo Grande.

Das 16 denúncias contra Marquinhos, 5 resultaram em indiciamentos por estupro, importunação sexual e assédio sexual na Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher). Para o crime de estupro, a pena vai de 6 a 10 anos. Já para a prática de importunação sexual, a pena prevista no Código Penal varia entre 1 e 5 anos. Por fim, o terceiro crime pelo qual Marquinhos foi indiciado, de assédio sexual, tem pena de seis meses a dois anos de reclusão, mais multa.

No mês passado, o MPMS (Ministério Público do Estado de Mato Grosso do Sul) o denunciou à Justiça pelos crimes de assédio, importunação sexual e favorecimento da prostituição.

O assédio foi denunciado à 3ª Vara Criminal de Campo Grande e trata de crime que ocorreu entre dezembro de 2018 e janeiro de 2019. Trad teria constrangido uma mulher “com intuito de obter favorecimento sexual, prevalecendo-se de sua condição de superior hierárquico”.

A segunda vítima teria sido importunada por Marquinhos em 23 de dezembro de 2019, durante inauguração de um posto de saúde no Aeroporto. O então prefeito teria praticado ato libidinoso contra a vítima.

Conforme o MPMS, a mulher fazia parte de uma associação de bairro e participou de reunião no gabinete de Marquinhos naquela época. Ele pediu que ela enviasse um ofício com as solicitações feitas pelo WhatsApp. Após a reunião, eles tiraram uma foto e Marquinhos teria passado a mão no cabelo da vítima, pedindo que ela enviasse a foto para ele depois.

No terceiro caso, em 2020, em 5 ocasiões na Prefeitura de Campo Grande, Marquinhos teria atraído a vítima à prostituição ou outra forma de exploração sexual. Esta mulher teria recebido uma proposta de trabalho de uma amiga, que seria um cargo comissionado.

Ela teria que conversar pessoalmente com Marquinhos e foi marcado encontro no gabinete da Prefeitura. No dia, Marquinhos teria tentado beijar a vítima, que se recusou. Depois, ele teria passado a enviar mensagens dizendo que amava a vítima e que queria vê-la novamente.

A mulher passou a frequentar o gabinete, esperando que fosse contratada. Apesar disso, em todas as vezes, Marquinhos Trad teria investido, abordando assuntos de cunho sexual. A vítima acabou mantendo relações com o ex-prefeito no banheiro do gabinete, sendo nomeada para um cargo na Prefeitura em 2020.

Conforme as investigações avançavam e os escândalos eram noticiados, Marquinhos tentava na Justiça impedir a veiculação das notícias. No entanto, mesmo com decisões favoráveis, acabou ficando em 6º lugar nas urnas. O fato gerou ‘meme' no final do primeiro turno, quando um dos candidatos veiculou o resultado no telão do local onde era comemorado o resultado rumo ao segundo turno.

Casas legislativas

Das câmaras municipais, os vereadores Tiago Vargas (PSD) e Camila Jara (PT) foram eleitos em Campo Grande. Tiago, no entanto, teve a candidatura impugnada até o momento. Camila será deputada federal a partir de 2023, deixando como suplente a ex-vereadora Luiza Ribeiro (PT).

Com Carlão (PSB) presidente da Câmara, os vereadores intermediaram a e pressionaram para receber do Executivo o projeto de lei de reajuste dos servidores administrativos da Educação. De Dourados, Lia Nogueira (PSDB) foi eleita deputada estadual.  

Mesa diretora da Alems

Claro, Londres e Corrêa (Reprodução, Alems)

Para 2023, ainda há a expectativa da eleição da Mesa Diretora da Alems (Assembleia Legislativa de Mato Grosso Sul) em fevereiro. Na disputa, estão o PP, partido de Tereza Cristina, e o PSDB, que tem a maior bancada na Casa, para a 1ª Secretaria.

Ponto pacificado já na campanha, a presidência da Casa ficará com o PP após acordo com a cúpula do PSDB da garantia de neutralidade do presidente Bolsonaro no segundo turno. Garantia essa conquistada pela senadora eleita Tereza Cristina (PP).

Com isso, Gerson Claro e Londres Machado disputavam a presidência, mas uma reunião com Tereza Cristina teve como palavra final Claro como indicado.

O PSDB disputa pela 1ª Secretaria, considerada cadeira importante na Mesa por fazer gestão da folha de pagamento da Assembleia. Paulo Corrêa, atual presidente, deve ficar no cargo. Porém, ainda briga pela vaga Jamilson Name.

Mas se para o PP a questão da presidência está pacificada, para os tucanos não está. Tanto que Mara Caseiro, a deputada mais votada no Estado, e Zé Teixeira, insistem em disputar como candidatos ao cargo. Historicamente, a Assembleia briga por ter consenso e chegar a chapa única para submeter à votação.

Assim, como disse o atual governador Reinaldo Azambuja em entrevista sobre o assunto, “ainda estamos longe de fevereiro”. E, na política, tudo pode se definir em cima da hora. Como foi o caso do vice-governador eleito Barbosinha (PP), que afirmou ter recebido o convite para o cargo no dia da convenção.