O clima era de Copa do Mundo, em 2014. A pequena cidade de Sete Quedas, no interior de Mato Grosso do Sul, se envolvia na torcida e assistia aos jogos, quando o que parecia um boato se espalhou: uma mulher havia sido morta e colocada em uma mala. A alegria festiva deu lugar ao choque. Nove anos depois, outra tragédia que os sete-quedenses ainda custam a acreditar é a morte e esquartejamento do jogador de futebol Hugo Vinícius Skulny Pedrosa, de 19 anos.

No primeiro caso, a espera por notícias não foi de sete dias e sim de 48 horas. O delegado Fabrício Dias, titular da cidade na época, ressaltou que estava “todo mundo em casa, comemorando a Copa do Mundo” quando a Polícia Civil deu início à investigação.

“A informação é que uma moça tinha há alguns dias. E apuramos que ela tinha uma vida bem pacata. Não possuía inimizades e nem desavenças. E era casada, então, fomos, inicialmente, conversar com o marido dela”, relembrou ao Jornal Midiamax.

Corpo da jovem foi encontrado no dia do jogo do Brasil

Conforme Dias, o homem alegou que a companheira havia sido diagnosticada com uma doença e “sumiu” por conta própria, sendo que poderia até ter atentado contra a própria vida. “Só que a família disse que não sabia de nada disso e levantamos a suspeita sobre ele, por esta e outras circunstâncias. Nós então continuamos a investigação, ouvindo familiares e vizinhos, até que, no dia do jogo do Brasil, houve o achado de cadáver”, explicou.

Na ocasião, um senhor passou por uma vicinal, quando achou a mala com o corpo, já em avançado estado de putrefação. “A única pessoa desaparecida na cidade era ela, então, existia uma grande chance de ser a vítima, identificada como Celia da Silva Mafra, de 22 anos. E aí houve o reconhecimento por uma familiar, principalmente por conta de uma tatuagem, que era muito específica. E o esposo, que inclusive mobilizou parentes para fazer buscas, foi chamado para ir ao local. Lá, ele não se aguentou e admitiu tudo”, ressaltou.

Município de , em Mato Grosso do Sul (Nathalia Alcântara, Midiamax)

Em seguida, no dia 1º de julho de 2014, a polícia concluiu que se tratava de um crime passional, cometido pelo pedreiro Leandro Marques da Silva, de 32 anos. “Ele tinha ciúmes da vítima, que estava trabalhando na casa de um homem. Horas antes do crime, disse que foi uma noite tranquila, em que jantaram e tiveram relações sexuais. No entanto, em determinada hora, ele relatou que fez uns questionamentos para ela e se desentenderam e, com toda frieza, o homem a sufocou e colocou o corpo na mala. De moto, ele levou e ocultou o corpo na estrada vicinal”, disse o delegado.

Marido que fez ‘buscas' pela vítima é quem a matou

Na ocasião, Fabrício ressalta que a casa havia sido periciada e a polícia já tinha o entendimento que algo grave aconteceu ali. “Nós achamos mancha de sangue nesta casa. E, depois com a confissão dele, entendemos toda a dinâmica dos fatos. Foi um caso muito impactante na época, com a população chocada com o crime. Na época, se falava em uma cidade pacata, em que todo mundo se conhece, então, foi algo que impactou mesmo, ainda mais porque a moça era muito querida”, ressaltou.

De acordo com o delegado, foi possível também “ver a força das mulheres” de Sete Quedas. “As mulheres fizeram passeatas, protestos, tudo reivindicando Justiça pelo crime e a punição do autor. Lembro que estavam bem engajadas mesmo. E ficaram indignadas pelo fato do marido se colocar como preocupado, mobilizar familiares para fazer buscas e ele tinha matado e escondido o corpo, com toda frieza”, argumentou.

Vice-prefeito Adilton. (Nathalia Alcântara/Jornal Midiamax)

O vice-prefeito da cidade, Adilton Massao Hara, disse que se lembra da comoção no caso da jovem morta pelo marido, mesmo sentimento que a população amarga com a morte do Hugo.

“Pelo que estamos acompanhando, ambos são crimes passionais. São casos isolados que causam repulsa na população, principalmente, quando confrontado com o clima pacato da cidade. Agora é o momento de uma situação trágica que estamos vivendo, um clima de comoção e de nebulosidade tomou conta dos sete-quedenses”, afirmou ao Jornal Midiamax.

Conforme Hara, mesmo estando na faixa de fronteira, Sete Quedas é uma cidade tranquila. “E assim queremos que permaneça. Aqui é lugar de gente pacífica, de um povo ordeiro e trabalhador, uma cidade onde nasceu a nossa boiadeira e esse é o sentimento nosso. E, mesmo que esteja na faixa de fronteira, é um lugar tranquilo e assim queremos que permaneça”, argumentou Hara.

Um fotógrafo de 38 anos, que prefere não revelar a identidade, também fala do caso atípico em Sete Quedas. “A população ficou revoltada na época, eu me lembro bem. Todo mundo ficou revoltado, pelo modo como tudo ocorreu, por ela ser tão jovem e mulher também”, lamentou.

Polícia de Sete Quedas fala em crime premeditado

Delegada Lucélia Constantino, titular de Sete Quedas (Nathalia Alcântara, Midiamax)

Já no caso do Hugo, a Polícia Civil, em fase de encerramento do inquérito, concluiu que o crime foi premeditado e a vítima “atraída” ao local para ser morta.

Neste caso, a ex-namorada de Hugo está presa temporariamente, acusada como coautora. Ela nega e dá outra versão.

No decorrer dos dias, a investigação aprendeu uma serra fita e serra elétrica, além de outros objetos. Parte do material apreendido foi achado na casa de Danilo Alves, também suspeito de envolvimento no assassinato. Ele mentiu para a polícia em depoimento e está foragido.

Hugo foi morto com três tiros, sendo dois na testa e ainda teve o corpo esquartejado e arremessado no rio, o que envolveu uma força-tarefa para localizar os restos mortais. Neste momento, o foi essencial, com as equipes usando drones e “táticas em X”.

Amigos fizeram homenagens no velório do Hugo. (Redes Sociais/Reprodução)

Ao todo, 17 testemunhas foram ouvidas, além do cumprimento de seis mandados de busca e apreensão, o que resultou em celulares e objetos perfurocortantes encaminhados para perícia.

A investigação continua em andamento, com a colaboração da polícia paraguaia nas buscas pelo jovem foragido, segundo informou ao Jornal Midiamax a delegada Lucélia Constantino.

O velório ocorreu ocorreu na última sexta-feira (7), com 500 pessoas presentes, homenagens e pedidos de Justiça.

Veja a cobertura completa do Jornal Midiamax sobre o caso: