Polícia busca chefe de bando que rouba gado no Pantanal para lavar dinheiro do tráfico
A Polícia Civil de Corumbá começou a desmantelar uma quadrilha especializada em roubo e furto de gado no Pantanal. Dois envolvidos foram presos durante a quarta fase da investigação, chamada Operação Sinuelo II, realizada em conjunto com a Polícia Militar Ambiental (PMA) entre os dias 17 e 19 de outubro na região da Nhecolândia. Iniciadas […]
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A Polícia Civil de Corumbá começou a desmantelar uma quadrilha especializada em roubo e furto de gado no Pantanal. Dois envolvidos foram presos durante a quarta fase da investigação, chamada Operação Sinuelo II, realizada em conjunto com a Polícia Militar Ambiental (PMA) entre os dias 17 e 19 de outubro na região da Nhecolândia.
Iniciadas em março do ano passado, as investigações mostraram que o furto e roubo de gado eram duas partes de uma engrenagem criminosa complexa que tinha atuação em pelo menos cinco outros crimes.
“Trabalhamos numa dinâmica de que o Pantanal vem sendo usado para abrigo de criminosos e para práticas criminosas. No decorrer dessa investigação, identificamos entre sete e oito práticas ocorrendo no interior do Pantanal, tendo o gado como a fonte para a aferição de lucro. Identificamos roubos, furtos, homicídios e tentativas de homicídio, tudo entrelaçado a esse grupo. Além disso, há lavagem de dinheiro e receptação desse gado que estava sendo subtraído de proprietários de regiões da Nhecolândia”, informou o delegado titular do 1º Distrito de Polícia Civil, Gustavo Bueno, que comanda toda a investigação.
Os dois presos foram Acelino Ramos de Almeida, 60, e Carlos Antônio Ramos de Almeida, 27. A dupla, aparentemente simples, integra a quadrilha e, segundo a Polícia, ambos seriam bastante temidos na região, junto com os demais. “Parecem pessoas simplórias, que não trazem maior periculosidade, mas estavam afugentando pessoas naquela região do Pantanal”, afirmou o delegado. Com a dupla foram apreendidos cinco armas, de calibres diferentes, munições e telefone celular.
Pelo menos três integrantes do grupo criminoso estão foragidos. Conseguiram escapar após uma troca de tiros com policiais civis e ambientais durante a operação, inclusive o homem apontado como chefe do bando. Os nomes não foram divulgados, mas a Polícia Civil já pediu a prisão de todos eles à Justiça. “É uma quadrilha só. São pessoas que têm conhecimento aprimoradíssimo da região”, contou ao informar que a área alvo da Sinuelo II é de difícil acesso.
Lavando dinheiro do tráfico
Apontado como líder da quadrilha ou como aquele “que tem poder de persuasão e de arregimentar outros peões”, na definição do titular do 1º DP, ele seria um traficante de drogas que usa o dinheiro do tráfico para comprar gado e assim “lavar” o dinheiro proveniente do comércio ilegal de entorpecente. “Quando constatamos a presença de gado furtado e roubado em uma determinada localidade, uma pessoa confirmou que aquele gado tinha sido adquirido com dinheiro da venda de drogas em Corumbá, em uma das bocas de fumo locais. É uma engrenagem complexa [a da organização criminosa], que tem pelo menos o cometimento de seis a sete crimes, todos interligados”, ressaltou Gustavo Bueno.
O longo trabalho de investigação – que já dura um ano e sete meses – comprova que o bando pratica outros crimes, todos com algum tipo de relação com o roubo e furto de gado e que agora vai levar a uma nova etapa de apuração policial. “Desacertos comerciais, há muitas ocorrências relativas a brigas entre peões e verificamos que isso podia ter relação. Com o aprofundamento da investigação, chegamos a um indivíduo que já tem mandado de prisão por homicídio. Todo esquema criminoso demonstra que não se tratam apenas de pessoas com parcos conhecimentos culturais ou educacionais. Negativo, estamos lidando com engrenagem bastante complexa que é estimulada pelo mercado comprador ilegal”.
A nova etapa de apuração vai detalhar o crime contra a economia popular, que seria praticado através da venda, na maioria das vezes, da carne do animal já abatido para o comércio instalado na área urbana corumbaense. “Agora, dentro de um mapeamento prévio que já temos, vamos identificar e intensificar fiscalização ao comércio local e a alguns indivíduos, que já temos indicativos, de aquisição desse gado sem origem, sem questões sanitárias documentadas. Serão todos investigados por nós”, declarou o delegado que comanda as investigações.
Pelo menos 400 cabeças de gado, numa estimativa rápida, teriam sido furtadas naquela região nos últimos 19 meses. A Operação Sinuelo II conseguiu localizar e recuperar, entre a quinta-feira e sábado passados, aproximadamente 200 reses. Na Delegacia de Polícia Civil foram elaborados mais de 30 boletins de ocorrência denunciando furtos e roubos de gado.
O nome da Operação faz referência ao Sinuelo, que é aquele gado manso, acostumado ao curral, que se junta ao bravo para servir de guia.
20 mil hectares
Nesta terça-feira, 22 de outubro, a PMA inicia a identificação dos proprietários do rebanho recuperado para devolução a seus respectivos donos. “Contaremos com apoio de proprietários rurais, que vão nos ceder peões e também vamos dar segurança. Temos três foragidos que estão pela região. Vamos reunir, identificar o gado através de suas marcas e boletins de ocorrência já registrados e fazer, posteriormente através do 1º DP, a devolução. Os relatos eram que os furtos ocorriam no período noturno, muitas vezes com envolvimento de funcionários que facilitavam a ação”, explicou o comandante da Polícia Militar Ambiental, major Nivaldo Pádua.
O local alvo da operação fica na divisa das regiões da Nhecolândia e Paiaguás. “Fica no entorno dos rios Negrinho e Taquari, região do Brejo. É uma região onde predominam moradores colonos do Rio Negro e da Colônia São Domingos. Esse pessoal [da quadrilha] acabava amedrontando alguns colonos para manter esse gado. É uma região extensa e de difícil acesso. Muitas vezes escondiam o gado dentro da própria mata, que até de aeronave, dificultava a identificação”, finalizou o comandante da PMA corumbaense, informando que a área de atuação policial nessa operação tem cerca de 20 mil hectares.
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