Morre Jean-Claude Carrière, escritor, diretor e roteirista francês

O escritor, diretor e roteirista francês Jean-Claude Carrière, que trabalhou com grandes nomes do cinema mundial como Luis Buñuel, Jacques Deray e Milos Forman, entre outros, morreu na segunda, 8, aos 89 anos, anunciou sua filha. O escritor, que não sofria de nenhuma doença específica, morreu “enquanto dormia” em sua casa parisiense, disse Kiara Carrière. […]

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O escritor, diretor e roteirista francês Jean-Claude Carrière, que trabalhou com grandes nomes do cinema mundial como Luis Buñuel, Jacques Deray e Milos Forman, entre outros, morreu na segunda, 8, aos 89 anos, anunciou sua filha.

O escritor, que não sofria de nenhuma doença específica, morreu “enquanto dormia” em sua casa parisiense, disse Kiara Carrière.

Ele receberá uma homenagem em Paris e será sepultado em sua cidade natal, Colombières-sur-Orb, departamento de Hérault (sul), acrescentou a filha.

Carrière, que se definiu como um “narrador”, escreveu cerca de sessenta roteiros e 80 livros (contos, ensaios, traduções, ficção, roteiros, entrevistas). Também foi ator, dramaturgo e letrista de Juliette Gréco, Brigitte Bardot e Jeanne Moreau.

Jean-Claude Carrière centrou a sua vida em “encontros, amizades e mestres de vida”, como o Dalai Lama, com quem escreveu um livro, e o cineasta espanhol Luis Buñuel, com quem colaborou durante 19 anos, até a sua morte. Expoente do surrealismo francês, ele começou sua colaboração com o cineasta espanhol como roteirista do filme Diário de uma Camareira, em 1964, e continuou com outros títulos como A Bela da Tarde (1967), Via Láctea (1969), O Discreto Charme da Burguesia (1972) e Esse Obscuro Objeto de Desejo (1977).

Carrière se considerava um narrador, alguém mais atraído pelas diferenças que pela afinidades. Isso provocou a criação de grandes obras, algumas ainda pouco conhecidas do público como a peça A Controvérsia, montada no Brasil em 2000, com Paulo José, e que trata da violência contra os índios que marcou o início da colonização do chamado Novo Mundo, a América. “Pretendi não apenas escrever um texto que retratasse com fidelidade fatos que realmente ocorreram, como me preocupei com uma bela história, majestosa e autoritária, que se desenvolve sem a necessidade de muletas psicológicas, ideológicas ou ontológicas”, disse ele ao Estadão, na época.

Para Carrière, não importava se a escrita era própria ou uma adaptação – a função que aquele texto exerceria era a principal motivação. “Tenho trabalhado todas as formas de escrita. Acho que tenho um bom arsenal. Há algo em mim que se contenta em estar a serviço de um autor, em entrar em seu pensamento, em adaptá-lo da melhor maneira possível, sem ego”, disse, em entrevista à agência AFP.

Uma de suas principais parcerias artísticas aconteceu com o cineasta espanhol Luis Buñuel. “Só sei trabalhar em estreita colaboração com o diretor; o filme é dele e me coloco à sua visão, mas não sou subserviente”, afirmou ao Estadão, pregando a necessidade de uma relação próxima. Daí que sua convivência com Buñuel ter sido decisiva. Carrière confirmava ter sido o cineasta espanhol quem o ensinou que dizer não para um diretor pode ser benéfico para o filme.

Outra grande parceria foi estabelecida com o dramaturgo, diretor e cineasta inglês Peter Brook, para quem adaptou para o cinema, em 1985, a versão de Mahabharata, epopeia da mitologia hindu.

Mais que um trabalho, foi uma experiência única na existência. “Quando fui à Índia com Peter Brook para filmar Mahabharata, lá, além de descobrir a fertilidade do espírito, me interessei mais pelo olhar do outro sobre a minha cultura. Não era apenas levar à cultura ocidental os ensinamentos do Mahabharata, mas também ter a oportunidade de trabalhar com pessoas de outras culturas que me forçavam a rever conceitos. Isso foi decisivo em Danton, o Processo da Revolução: o diretor era um polonês (Andrzej Wajda), que vivia sob regime comunista e que me dava uma visão totalmente única e diferente da minha história. Foi um privilégio enorme”, disse.

Carrière trabalhou ainda com Phillip Kaufmann (A Insustentável Leveza do Ser), Volker Schloendorff (O Tambor), Jean-Luc Godard (Salve-se Quem Puder (A Vida), Milos Forman (Valmont) e Hector Babenco (Brincando nos Campos do Senhor).

Bibliófilo, apaixonado por desenho, astrofísica, vinhos, fã de Tai-Chi-Chuan (arte marcial), Jean-Claude Carrière era muito ativo, apesar da idade. Em 2018, escreveu um último ensaio, O Vale do Nada, e, em 2020, foi corroteirista do filme Le Sel des Larmes (O Sal das Lágrimas), de Philippe Garrel.

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