Aos 72 anos, artesão descobre o cinema e lança filme sobre a lenda do “Trem Fantasma”

O curta será exibido em Campo Grande e em Ladário 

Para quem viveu o ano de 1977 na região entre a Estação Agente Inocêncio e o Posto 50, próximo a Porto Esperança, em Ladário, há uma certeza: luzes intensas brotavam dos trilhos anunciando a chegada do trem que não passou. O causo que assombrou muito marmanjo e correu à boca miúda por todos estes anos, foi finalmente documentado por quem é testemunha ocular das tais aparições: Sebastião de Souza Brandão, 72 anos.  

“Não queria falar dessa lenda porque todo mundo ia me chamar de mentiroso, mas daí eu procurei os mais antigos, os meus amigos e eles me falaram: ‘pode falar dessa história que a gente confirma’”, conta o artesão e ex-ferroviário ao nos explicar como tomou coragem para apresentar a história a quem não acredita nas lendas urbanas.

“Nunca nem sonhei em fazer filme. Foi uma coisa que não pensava, não. Ainda mais aqui no interior. Mas aconteceu e fui duas vezes para o Rio de Janeiro”, conta feliz da vida, ‘Seo’ Sebastião.

Depois de decidir que encararia o desafio de contar a lenda do trem fantasma, a tarefa era encontrar os atores de seu filme. Pensou um pouquinho só e já encontrou a resposta, seriam aqueles que protagonizaram a história na vida real: seus amigos da época.

“Juntei o pessoal que sabia da história e começamos a fazer. Se não fossem os profissionais ensinando a gente, eu nunca teria conseguido. Imagina você, eu com mais de 70 anos fazendo um filme sem saber de quase nada”, diz o artesão sem se dar conta de que o “quase nada”que sabe renderia muitos e muitos livros.  

À lenda, ele inseriu o instrumento que fabrica há anos e que tem como grande paixão, a viola de cocho. O experimento resultou no filme “O Trem Fantasma e a Viola de Cocho”. As imagens foram capturadas e editadas em 2014 e estão sendo exibidas em todo o Brasil neste ano. Em Campo Grande, o lançamento será nesta terça-feira (3), às 18 horas, no Auditório do Centro de Ciências Humanas e Sociais (CCHS) da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS).

Por falta de recursos financeiros, Sebastião não estará por aqui, mas na quinta-feira (5), quando Ladário receberá a exibição, às 19 horas na Rua 14 de Março, Centro, a festa está garantida.

“Para mim é muito bom depois de velho ter alguma recordação para contar desta história. Se eu tivesse recurso ia para Campo Grande acompanhar. A gente fica muito orgulhoso de divulgar a nossa cultura, sabe?”

Em Ladário, Sebastião tem status de artista consagrado e como tal levará boa parte dos conhecidos à exibição do filme. Ele é o único selecionado da região Centro-Oeste pela quinta edição do Circuito Nacional de Exibição do Revelando os Brasis, realizado pelo Instituto Marlin Azul com patrocínio da Petrobras.

O projeto percorrerá o país até 27 de novembro. Divididos em duas rotas, dois caminhões adaptados para se transformar em cabine de projeção vão percorrer cerca de 25 mil quilômetros, realizando 20 sessões de cinema ao ar livre nos 20 pequenos municípios com até 20 mil habitantes onde as histórias foram gravadas e sessões nas 15 capitais dos estados participantes. Os veículos levam tela de cinema, projetores e cadeiras.

Contemplando as cinco regiões brasileiras, o Circuito percorrerá em 35 dias localidades dos estados de Bahia, Ceará, Espírito Santo, Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraíba, Paraná, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Rondônia, Santa Catarina, São Paulo e Tocantins.

A quinta edição é composta por 11 documentários e 9 ficções. Com roteiro, produção e direção dos autores selecionados, a mostra traz um conjunto de histórias sobre lendas, causos, crendices, personagens populares, tradições, destacando temas que registram a memória e a diversidade cultural brasileira e valorizam novos olhares sobre o Brasil.