Já ouviu falar em ‘banho de floresta’? Prática ganha cada vez mais adeptos e pode fazer parte do SUS
Prática de terapia florestal incentiva a população a sair de casa e ter algum contato com a natureza e ao ar livre, ressaltando o quanto a imensidão da floresta faz bem ao corpo e à mente
Graziela Rezende –
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As caminhadas e corridas ecológicas, além das trilhas e pedal, estão sendo cada vez mais difundidas em Campo Grande e em todo o Estado. Não é à toa, por exemplo, que o Parque das Nações Indígenas e o Parque dos Poderes ficam lotados aos finais de semana, com gente buscando aprofundar a relação com a natureza e todos os benefícios trazidos por ela. O interesse é tamanho, que a prática do “banho de floresta” ganha cada vez mais adeptos, podendo inclusive fazer parte do SUS (Sistema Único de Saúde).
Neste contato, a pessoa caminha em meio à área verde, seja em um parque urbano ou local que tenha muito verde, aproveitando todas as sensações: sentindo a textura de uma folha, respirando lentamente, abraçando e sentindo o aroma de uma árvore, colocando os pés no chão e ouvindo os sons, entre outros gestos que se estendem por cerca de uma hora. De maneira rotineira, é o chamado “banho de floresta” e são muitos os benefícios.
A prática foi criada no Japão e lá ficou conhecida como shinrin-yoku (terapia florestal), difundida na década de 80, quando a urbanização cresceu muito e a população estava sendo incentivada a sair de casa e ter algum contato com a natureza e ao ar livre, ressaltando o quanto a imensidão da floresta faz bem ao corpo e à mente. De lá para cá, são inúmeros os estudos científicos em todo o mundo, com cada vez mais adeptos, entre eles os brasileiros.
O coordenador do Fioprosas (Programa de Saúde, Ambiente e Sustentabilidade da Fundação Oswaldo Cruz – Fiocruz), Guilherme Franco Netto, explicou ao Jornal Midiamax que a prática, inicialmente feita em “bosques do Japão”, foi se desenvolvendo cada vez mais e por isso tamanha a criação de estudos e iniciativas relacionadas ao tema. “Com isso, chegou-se a conclusão, inclusive com evidências científicas, de que há benefícios a saúde quando as pessoas têm uma atividade de contato com a natureza de forma sistemática”, explicou.
De acordo com Guilherme, o “banho de floresta” não é uma atividade de educação física, mas sim uma atividade intensiva de relação com a natureza. “É o contrário, na verdade, pois, é um momento em que a pessoa procura fazer uma conexão e ter, através dos seus sentidos, um relaxamento, no ritmo do próprio bosque, então, é bem diferente de um trekking, por exemplo. E aí as coisas foram evoluindo e temos hoje evidências de que esta prática consegue interferir nos níveis da pressão arterial, de insulina, cortisol, com níveis de redução”, comentou.
Além disso, o coordenador fala em benefícios relacionados a saúde mental com diminuição da ansiedade, depressão, síndromes de angústia e ouros fatores, favorecendo, inclusive, o próprio convívio social entre as pessoas. “São estes achados, estas evidências foram sendo divulgadas, disseminadas e hoje o banho de floresta tem oferta em praticamente todos os continentes: Ásia, Europa, América do Norte e etc.”, disse.
É neste contexto, ainda de acordo com Guilherme, que o Brasil e a Fiocruz se inserem, no interesse de desenvolver conhecimento para avaliar a possibilidade de considerar esta a prática mais uma de promoção da saúde.
“Podemos sim dizer que é aquela sabedoria de vó, a sabedoria popular que é bom sair para tomar um ar, é muito boa para nossa saúde. E é exatamente isto que estamos levando adiante, porém, não temos ainda uma evidência sistematizada no Brasil relacionada a esta prática. O projeto que temos, que inclusive é em parceria com o IBE [Instituto Brasileiro de Ecopsicologia], que é quem traz originalmente a ideia do banho de floresta para o Brasil, é nós evidenciarmos estes impactos, estes efeitos, estes resultados, na saúde da população brasileira”, explicou.
Conforme o coordenador, na literatura internacional nós já temos muita informação relacionada a estes benefícios. “Isso, de certa maneira, nos baseia na orientação do trabalho que pretendemos desenvolver. Temos um protocolo de pesquisa que está sendo concluído agora para poder ser posto em prática e, obviamente, que precisamos de financiamento para isso, para poder fazer com que a gente possa avaliar na população brasileira e, nas condições brasileiras, este benefício. O Brasil é um país que tem características muito próprias, nós temos uma chamada sócio biodiversidade muito ampla e extensa. São diversos povos, etnias, uma biodiversidade muito diferenciada e isso precisa ser avaliado com o devido critério, no sentido de fazer com que possamos verificar qual é o resultado que isso traz e como isso pode, eventualmente, ser introduzido e aproveitado pelas políticas públicas existentes no país”, argumentou.
Quer ver a entrevista completa com o coordenador da Fiocruz? Veja o vídeo:
Na prática, como é o “banho de floresta”?
- A pessoa precisa ir até uma floresta, entrar em contato com a natureza e passear entre as árvores ou apenas aproveitar o momento e apreciar o ambiente.
- Ouvir os sons do ambiente, o canto dos pássaros, o som das águas dos riachos e o vento batendo nas folhas das árvores, colocar os pés no chão, abraçar uma árvore, enfim, ter uma experiência totalmente sensorial.
- Aproveitar a ocasião para também ter uma experiência meditativa (mindfulness), observar e detalhar os pequenos objetos e manter a atenção focada em movimentos e na tentativa consciente de ampliar a percepção dos sentidos.
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