Orgulhoso em integrar a equipe do Parque Estadual das Várzeas do Rio Ivinhema, região sul do Estado, o guia turístico Dione Sales, de 32 anos, ressalta a importância da preservação ambiental. No caso dele, que é guarda do local há quase uma década e estuda biologia, flagrar um animal raro e em extinção é sempre um presente. E foi justamente o que ocorreu recentemente, quando ele avistou um gato-palheiro, melânico e com seu filhote.

“Foram segundos incríveis. Este é um bicho super arisco, então, foi bem emocionante. E ele é raro de se ver, ainda mais o melânico e com um filhotinho. Estou fazendo fotos aqui há uns quatro anos e esta não foi a primeira vez que vi o gato-palheiro, só que o outro tinha a coloração normal”, afirmou Sales ao MidiaMAIS.

Conforme Dione, foi no dia a dia que ele foi aprendendo como se comportar para fazer os flagrantes na natureza. “Eu faço as fotos porque acho que as pessoas precisam saber mais sobre as unidades de conservação. Temos uma diversidade muito grande aqui. Vi que teve gente que confundiu o gato-palheiro com um gato comum, mas, quem tem a oportunidade de ver sabe que é bem diferente. O tamanho pode até ser parecido, mas, a pelagem, o olho, tudo é bem chamativo e mostra a diferença de um gato de casa”, explicou.

‘Mega-sena ambiental'

Para especialistas, é como “ganhar na mega-sena ambiental” avistar um gato-palheiro. O biólogo e doutor em ecologia e conservação, José Milton Longo, explica que este animal geralmente vive em densidades bastante baixas e é um felino “bem arisco”, ainda mais nesta condição, a melânica.

“É bastante raro. A vantagem é que tem este parque estadual de , que garante ainda áreas para sobrevivência destes animais, os quais necessitam de hábitats mais específicos. Que bacana [o avistamento]. É, de fato, um grande prêmio de loteria, uma mega-sena do meio ambiente. Pode ser interpretado assim pela raridade da ocorrência”, afirmou na ocasião.

Gato-palheiro (Leopardus braccatus)

Gato-palheiro no pantanal sul-mato-grossense. Foto: Fazenda San Francisco/Divulgação

Animal em extinção e com população estimada de apenas 250 indivíduos adultos na natureza, os gatos-palheiros são felinos de pequeno porte, medindo entre 50 e 70 cm, com a cauda medindo entre 22 e 32 cm. Em média, pesam entre 3 e 5 kg.

A pelagem longa tem coloração que varia do vermelho-alaranjado ao cinza com listras irregulares nas laterais do corpo e das patas. Apresenta uma faixa de pelos mais longos que vai da cabeça à base da cauda, que se eriça quando o animal se sente ameaçado.

São animais mais ativos no final da tarde e durante a noite, realizando suas caçadas neste período. Solitários, pouco se sabe sobre comportamentos em vida livre desta espécie.

Como carnívoros, consomem mamíferos pequenos, geralmente roedores. Assim como outros felinos, se reproduzem durante todo o ano. Podem dar à luz entre um e três filhotes. 

No Brasil, a espécie está espalhada pelo Pantanal, pelo Cerrado e pelos Pampas e é classificada como vulnerável pelo ICMBIO (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade).