“Isso nunca aconteceu antes”. Devotos de Fatinha, a menina milagreira cujo túmulo solta uma água curadora, foram buscar e beber o líquido, como manda a tradição em todo dia de Finados em Campo Grande. No entanto, ao chegarem à sepultura da garotinha, os fiéis se depararam com uma situação inusitada que causou frustração: não havia água, algo que jamais aconteceu desde 1979.

Paulo Gomes Veiga, de 52 anos, visita o túmulo de Fatinha há mais de 20 anos. Ele destaca que já recebeu vários milagres e estranha a ausência do líquido este ano.

“Ela já fez vários milagres na minha vida. Todo dia dos Finados eu venho visitar e aproveito para pegar água. Já cheguei a levar quatro litros e agora é estranho não ter. As bênçãos já ajudaram o meu pai e sempre venho aqui agradecer. Bebo a água e ainda levo para a minha família. Não vejo problemas”, disse Paulo ao Jornal Midiamax.

Devota chegou para beber água e não encontrou o líquido - (Foto: Nathália Alcântara/Midiamax)
Devota chegou para beber água e não encontrou o líquido – (Foto: Nathália Alcântara/Midiamax)

Rosineide Macedo, de 57 anos, conta que Fatinha já curou sua filha quando era criança. “Visito há 30 anos, desde quando mudei para Campo Grande com a minha família. A gente não tinha nada e conquistamos muita coisa. Ela já curou a minha filha da bronquite e agora venho agradecer. Não tenho medo de tomar a água, bebo há três décadas e não morri. Sempre fiz exames e nunca deu nada”, declarou Rosineide, a respeito do posicionamento da Vigilância Ambiental, que não recomenda o consumo do líquido por sua “procedência incerta”.

Ainda assim, os fiéis seguem bebendo sem qualquer receio e mostram o quão forte é a fé. Maria Regina, de 75 anos, é mais uma moradora que visita o sepulcro há muito tempo. Ela também relatou ao Jornal Midiamax os milagres que recebeu.

“Dizem que a água que sai do túmulo são as lágrimas da Fatinha, que tem uma história muito triste e morreu queimada. Uma época o meu marido ficou doente e não reconhecia os familiares. Vim aqui pedir para a Fatinha e ela me ajudou, curou o meu marido que começou a lembrar de tudo. Agora, todos os anos eu venho agradecer”, comenta Maria.

Água do túmulo de Fatinha é disputada em Campo Grande, nem que seja algumas gotinhas - (Foto: Nathália Alcântara/Midiamax)
Água de Fatinha é disputada em Campo Grande, nem que sejam algumas gotinhas – (Foto: Nathália Alcântara/Midiamax)

Por que o túmulo de Fatinha está sem água este ano?

Procurado pelo Jornal Midiamax, o irmão da menina e responsável pela sepultura esclarece o motivo da ausência do líquido milagroso no dia de Finados em 2022. De acordo com Paulo Eduardo Vieira, a mulher contratada para abastecer os potes e pingar as gotas da água milagrosa ficou com receio de realizar o serviço.

“Ela perguntou se eu ia com ela e eu disse que não poderia, por conta do problema no meu pé. Ela então falou que sozinha não iria, preocupada e assustada com a repercussão a respeito da água”, conta Paulo.

Todo ano, o túmulo de Fatinha fica lotado de potes com água, mas em 2022 foi diferente. Há apenas os filtros que já são acoplados na sepultura - (Foto: Nathália Alcântara/Midiamax)
Todo ano, o túmulo fica lotado de potes com água, mas em 2022 foi diferente. Há apenas os filtros que já são acoplados na sepultura – (Foto: Nathália Alcântara/Midiamax)

O irmão de Fatinha diz que as pessoas estão fazendo comentários maldosos e não entendem a fé, mas, ainda assim, uma trabalhadora do cemitério está repondo os dois filtros que são acoplados ao túmulo.

“Ela me avisou em cima da hora e eu não arrumei gente, estão me ligando e perguntando o que aconteceu, por que não colocaram água, mas o que eu posso fazer?”, lamenta.

O problema é que a trabalhadora que se encarregou também cuida de vários outros túmulos no Cemitério Santo Amaro. Os pequenos filtros com a água esvaziam rapidamente e são poucos os momentos que ela tem para enchê-los. “Seca muito rápido. Ela não pode ficar direito, então vez ou outra ela vai encher”, explica Paulo.

Mesmo sem água, fiéis visitaram Fatinha e fizeram seus pedidos e agradecimentos - (Foto: Nathália Alcântara/Midiamax)
Mesmo sem água, fiéis visitaram Fatinha e fizeram seus pedidos e agradecimentos – (Foto: Nathália Alcântara/Midiamax)

Devoção

Popular ponto de concentração de fiéis e devotos em busca de milagres, a sepultura é conhecida na Capital por fornecer água de uma suposta mina que existe debaixo do sepulcro da pequena Fátima Aparecida Vieira, também chamada de “Aparecidinha”.

Há mais de 40 anos, no dia de Finados, é tradição campo-grandense visitar o túmulo da garotinha que tem fama de milagreira e teria se tornado santa ao morrer inexplicavelmente após se queimar com uma vela enquanto rezava em Campo Grande, aos 7 anos de idade.

Fiéis visitando o túmulo de Fatinha no dia de Finados em 2022 - (Foto: Nathália Alcântara/Midiamax)
Fiéis visitando o túmulo de Fatinha no dia de Finados em 2022 – (Foto: Nathália Alcântara/Midiamax)

Na data, fiéis fazem fila para encher copos, garrafas, beber e se banhar com a água que supostamente jorra debaixo da sepultura e é distribuída em filtros de barro para os visitantes. Vários deles relatam que receberam milagres após beberem o líquido ou simplesmente rezarem para “Aparecidinha”, desde a cura de graves doenças a graças inexplicáveis alcançadas na vida.

Leia aqui a história completa de Fatinha.

Imagem de Fatinha em seu túmulo - (Foto: Marcos Ermínio/Midiamax)
Imagem de Fatinha em seu túmulo – (Foto: Marcos Ermínio/Midiamax)

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