Irmão de Fatinha conta tudo sobre a ‘água milagrosa’ que sai de túmulo no Santo Amaro
Encanamento, “água milagrosa” e o início de tudo: pela primeira vez, a história completa e em detalhes a respeito do túmulo de Fatinha, popular no dia de Finados em Campo Grande
João Ramos –
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O mistério da água que sai do túmulo da menina Fatinha, no Cemitério Santo Amaro, chegou ao fim. Após décadas de informações desencontradas e, às vezes, até espalhadas de forma errônea pelos próprios fiéis e devotos da Santinha, o irmão da garota enterrada na conhecida sepultura esclarece cada detalhe por trás da crença, da “água milagrosa” e do encanamento que levantou dúvidas em Campo Grande.
Com exclusividade ao Jornal Midiamax, Paulo Eduardo Vieira, de 59 anos, fala abertamente sobre as polêmicas envolvendo o túmulo. O irmão de Fátima Aparecida Vieira afirma que sim, há uma água milagrosa que verte no rodapé, na parte de trás da capela da menina, enterrada em 1979, aos 7 anos de idade.
“Eu acho que quem tem que falar a verdade aparece. E verdade é a seguinte”, inicia o aposentado.
Descoberta da água
De acordo com Paulo, tudo começou ainda em 1979, quando uma senhora conhecida da família, que ele diz não recordar o nome, sentou ao redor do jazigo de Fátima para rezar.
“Ela sentou do lado da capela. Estava fazendo o maior sol quente e, quando levantou, viu que sua saia estava molhada”, conta o irmão de Fatinha. “Aí ficou esse negócio de que ali sai água. As pessoas chegavam com agulha, com seringa, e tiravam a água da beirada da capela, que ficava minando nas bordas, na parte de baixo”, detalha ele.
Foi assim que a crença teve início, apenas alguns meses após a morte de Fátima. A água realmente vertia de maneira inexplicável da parte de trás do túmulo e começou a ser coletada pelos fiéis, sendo considerada um líquido milagroso, é o que garante o familiar da menina falecida.
Saia molhada deu início a tudo
A partir de então, Fátima começou a conquistar muitos devotos, que passaram a pedir para a família deixar potes e jarros cheios de água em volta da lápide no Cemitério Santo Amaro. E a mãe de Fatinha, prontamente atendeu aos pedidos, dando início à tradição que resiste há 43 anos em Campo Grande.
“A gente pegava água lá na frente pra lavar o túmulo, pra colocar nos filtros, e isso nunca foi escondido de ninguém. Nós enchemos os potes e todo mundo sempre soube, é o povo que pede pra deixar água lá”, afirma Paulo Vieira.
Paulo recorda que a mãe coletava a água que vertia atrás da sepultura, colocava com um conta gotas nos jarros e terminava de encher com água normal. “Todo mundo sabe disso e esse costume nunca parou. Toda vida a gente que colocou água. Esses dias que os potes estavam vazios porque quebraram tudo lá, mas o ano inteirinho nós colocamos água porque o povo reclama e chega ali pra levar”, esclarece.
A verdade sobre o encanamento
O problema é que os responsáveis por repor a água e limpar a capela, especialmente para o Dia de Finados, geralmente eram idosos e precisavam fazer “mil viagens” para encher os jarros. Foi por isso que a mãe da menina Fátima puxou uma ligação de água encanada atrás do túmulo.
“Era água que vinha da rua até ali, pra facilitar esse serviço. Fomos na Prefeitura, pedimos autorização e a Águas Guariroba ligou”, revela o irmão sobre o encanamento do sepulcro que até então era um mistério para boa parte da população campo-grandense. Durante anos, torneiras e a água encanada ajudaram os devotos a fazer a reposição, até que o Cemitério pediu para a família remover o encanamento.
“O cemitério disse que precisava dos corredores porque o espaço já estava pequeno. Então eu tirei o cano de lá, mais ou menos em 2016 ou 2017, pra eles construírem mais túmulos na ‘rua’ em que o encanamento passava”, esclarece.
Ele frisa que “nunca existiu um cano embaixo da capela”, somente a encanação instalada um pouco afastada da casinha, para a limpeza da mesma e para o reabastecimento de água para os fiéis.
Água do túmulo não tem explicação e “aparece para quem quer”
Segundo o irmão de Fatinha, ninguém sabe a origem da água que ele e os devotos afirmam ter visto sair do túmulo de sua irmã, e o líquido jamais foi investigado, seja pela Prefeitura ou algum campo de pesquisa interessado.
“Nunca houve uma explicação, existe curioso, mas posso garantir que não tem cano nenhum debaixo da capela, isso nunca teve. Estamos livres pra qualquer escavação que queiram fazer por tudo ali”, garante.
De acordo com Paulo, a água milagrosa não verte para qualquer pessoa. “O povo de vez em quando ainda pega, é só o merecedor da fé, porque tem gente que vai lá por brincadeira. A água sai pra quem ela quer, pra quem realmente tem fé”, pontua.
Guardada em casa
Questionado se a família ou fiéis ainda coletam a água que afirmam sair do chão da capela, o familiar diz que não é preciso, pois a mãe de Fatinha guarda a “água milagrosa” em casa.
“Sempre colocamos as gotas, porque aqui na casa da minha mãe tem um pouco da água e nunca deixamos secar. Então, teve água desde que começou a sair do túmulo. Vai esvaziando e a gente vai repondo. Colocamos um pouquinho dessa água em cada pote quando vamos no Santo Amaro”, revela.
Consumo não recomendado
Sendo assim, Paulo confirma que há 43 anos os devotos de Fatinha bebem gotas uma água de origem desconhecida que verte do túmulo da menina. Procurada pelo Jornal Midiamax para comentar o caso, a Coordenadoria de Vigilância Ambiental, da Secretaria Municipal de Saúde de Campo Grande (Sesau) não recomenda o consumo do líquido, por sua procedência ser “incerta”.
A equipe de Vigilância Ambiental também esteve no Cemitério Santo Amaro para averiguar a suposta água que sai do túmulo, mas não encontrou fluído nenhum para análise. No entanto, “o relatório da visita está sendo concluído pelo setor”, informa a Sesau ao Midiamax.
Questão de fé
O fato da Vigilância não ter encontrado água alguma para ser analisada corrobora com a declaração de Paulo Vieira afirmando que o líquido só aparece para quem tem fé, e não para “curiosos, especuladores ou pessoas que duvidam dos milagres”.
Sobre a repercussão, o irmão de Fatinha comenta. “Eu acho assim, cada um com a sua crença. Não tem nenhuma placa no Cemitério mandando alguém ir até a capela. Quem tem fé vem, quem não tem, fica em casa. Não pode zombar da fé do outro”, finaliza o aposentado.
Túmulo milagroso
Popular ponto de concentração de fiéis e devotos em busca de milagres, a sepultura é conhecida na Capital por fornecer água de uma suposta mina que existe debaixo do sepulcro da pequena Fátima Aparecida Vieira, também chamada de “Aparecidinha”.
Há mais de 40 anos, no dia de Finados, é tradição campo-grandense visitar o túmulo da garotinha que tem fama de milagreira e teria se tornado santa ao morrer inexplicavelmente após se queimar com uma vela enquanto rezava em Campo Grande, aos 7 anos de idade.
Na data, fiéis fazem fila para encher copos, garrafas, beber e se banhar com a água que supostamente jorra debaixo da sepultura e é distribuída em filtros de barro para os visitantes. Vários deles relatam ter recebidos milagres após beberem o líquido ou simplesmente rezarem para “Aparecidinha”, desde a cura de graves doenças a graças inexplicáveis alcançadas na vida.
História do túmulo de Fatinha
Mesmo resistindo há quatro décadas, muita gente não conhece e sequer faz ideia da existência da história da santinha milagreira da Capital. Ao Jornal Midiamax, o Paulo Eduardo Vieira conta que sua irmã morreu após acender uma vela enquanto rezava para Nossa Senhora.
Ele relata que a menina chegou da escola dizendo que deveria, por orientação da professora, acender uma vela à Nossa Senhora Aparecida para se sair bem em uma prova. Enquanto a família estava reunida na varanda, Fátima pediu a bênção da mãe e entrou em casa para tirar o uniforme. Em seguida, se trancou no quarto e decidiu fazer a “lição”.
De repente, os familiares começaram a ouvir gritos vindos do quarto e correram para ver o que estava acontecendo. Trancada no cômodo, Fátima não conseguiu abrir a porta e passou a chave por baixo para que a família conseguisse destrancar. Ela então teria saído correndo, com parte do corpo queimado, se ajoelhou e pediu perdão a Deus e à mãe pelo que havia feito, segundo o relato do irmão.
Fátima ficou três dias internada na Santa Casa e, apesar dos ferimentos, aparentava estar totalmente recuperada. “É uma coisa que não tem explicação. Ela estava bem, falando e andando normalmente, e faleceu”, diz Paulo.
A morte foi uma surpresa e se tornou uma das mais fortes histórias cercadas de religiosidade e misticismo na Capital sul-mato-grossense.
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