Amigos viajam 350 km de moto para abraçar único ex-combatente ainda vivo em MS: ‘Herói’
De moto, o grupo percorre inúmeras cidades e faz homenagem a quem considera “um verdadeiro herói da nossa nação”
Graziela Rezende –
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O motoclube Germanus, que quer dizer irmãos em latim, foi criado em 2017 com a intenção de levar história dos veteranos de guerra para todo canto. De moto, o grupo percorre inúmeras cidades e faz homenagem a quem considera “um verdadeiro herói da nossa nação”. Cinco anos depois, só resta um dos pracinhas visitados por eles, o seu Justino, que completou 103 anos nesta semana.
Lúcido, ele recebeu os amigos esta semana, que percorreram cerca de 350 km, de Campo Grande a Ponta Porã, com a intenção de visitá-lo e comemorar o aniversário, que ocorreu na última segunda-feira (12). Horas antes, seu Justino já havia sido condecorado e agora contabiliza a oitava medalha entregue pelo Exército.
“Nós percorremos a estrada para não deixar morrer a história deles, do nosso país, porque eles é quem são os verdadeiros heróis da nossa nação. No começo, eram sete pracinhas no nosso Estado, mas, no decorrer do tempo, nossos heróis foram nos deixando. E o presidente honorário era o seu Agostinho, que faleceu há pouco tempo e agora só temos um, que é o seu Justino”, argumentou um dos integrante do motoclube, o subtenente do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais), Douglas dos Santos Ferreira.
Segundo Ferreira, são feitas visitas aos pracinhas, principalmente no dia do aniversário, não só em Mato Grosso do Sul, mas, em todo o país. “A gente vai até eles e os homenageia. E o seu Justino é o nosso único representante que resta em Mato Grosso do Sul. Nesta semana, no dia 12, celebramos os 103 anos e nos deslocamos, de Campo Grande a Ponta Porã, em 10 motos, prestando mais uma homenagem”, comentou.
Apesar da idade, Douglas fala que seu Justino conversa com todos e é muito lúcido. “Ele é assim há tempos, então, a gente sempre vem prestigiando e esta é a motivação dele. Isso também nos dá mais motivação ainda, justamente o que é o lema dos Germanus, que é: ‘O povo que não cultua os seus feitos conspira contra a sua própria grandeza’. E nós estamos aqui para cultuar os feitos heroicos dos verdadeiros heróis da nossa nação. Não vamos deixar a história deles morrerem”, opinou.
Única ‘lenda viva’ de MS
Aos 103 anos, Justino Pires de Arruda é única ‘lenda viva’ de Mato Grosso do Sul que partiu de navio para Itália durante a 2ª Guerra Mundial. Isso tudo ocorreu no ano de 1942, com a entrada do Brasil na guerra e a convocação dele, em Ponta Porã. Mais de um século de vida, com grande parte dedicada à pátria, tornando muito merecida a homenagem que o ex-combatente recebeu em Ponta Porã, região sul do Estado.
Na ocasião, Pires participou ativamente das batalhas de Monte Prano, Zocca, Camaiore, Montese, Colechio e da rendição da 148º Divisão de Infantaria Alemã, em Fornovo di Taro, dentre outras.
Dentre os 25.334 brasileiros que integraram a FEB, hoje, restam no Brasil apenas 79 vivos. E o senhor Justino é o único ex-combatente ainda vivo em Mato Grosso do Sul.
Justino nasceu em 1919
A história dele começou no dia 12 de dezembro de 1919, quando nasceu no município de Amambaí, distante 302 quilômetros de Campo Grande.
Filho de Lúcio Pires de Arruda e Maria José Dias, Justino nasceu no final da Primeira Guerra Mundial, época em que o presidente dos “Estados Unidos do Brasil” era o paraibano Epitácio Pessoa.
Na época, o país ainda “experimentava” os primeiros anos da República Velha, estabelecida pela Constituição de 1891. Desde então, presenciou diversos eventos históricos, como o Tenentismo, a Crise Econômica de 1929, a Revolução de 1930, o governo de Getúlio Vargas, a Intentona Comunista de 1935, o Estado Novo, o Levante Integralista, o auge dos cangaceiros e a morte de Lampião, a Segunda Guerra Mundial, a redemocratização, a criação da ONU (Organização das Nações Unidas), a Guerra Fria e o governo de Juscelino Kubitschek.
Além disso, o idoso pôde presenciar a construção de Brasília, os governos militares, as “Diretas Já”, a Constituinte de 1988, a vitória da seleção brasileira em cinco Copas do Mundo e até mesmo o reinado de Elizabeth II, da Inglaterra, do pai dela e até uma parte do reinado do avô, período que engloba, também, o pontificado de nove papas da igreja católica.
Soldado foi ferido durante a guerra
Durante a guerra, no dia 4 de novembro de 1944, Justino foi ferido em combate, na região de Palazzo, em consequência das explosões das granadas inimigas, cujos estilhaços lhe perfuraram o capacete de aço e lhe feriram a cabeça.
Depois que voltou da guerra, trabalhou por muitos anos na roça, tendo se transferido com a família para Ponta Porã – MS, onde reside atualmente. Nesta cidade, conseguiu emprego de auxiliar de faxineiro no 11º Regimento de Cavalaria Mecanizado, onde permaneceu por alguns anos.
Por sua atuação na guerra e exemplar conduta como cidadão, recebeu as seguintes condecorações:
- Medalha de Campanha da Força Expedicionária Brasileira;
- Medalha Sangue do Brasil, por ferimento em combate;
- Medalha do Mérito Força Expedicionária Brasileira, da Assembleia Legislativa do Mato Grosso do Sul;
- Medalha da Vitória, do Ministério da Defesa;
- Medalha Marechal Dutra, do 11º Regimento de Cavalaria Mecanizado;
- Medalha da Força Internacional de Paz – Prêmio Nobel 1988, da Associação Brasileira das Forças Internacionais de Paz;
- Medalha Cruz Europeia, da Federação Italiana dos Combatentes Aliados.
Após a promulgação da Constituição Federal de 1988, foi formalmente considerado “ex-combatente” da 2ª Guerra Mundial e reformado, passando a receber a pensão especial de ex-combatente. Justino foi casado com Alzira Oliveira de Arruda e tem os seguintes filhos: Fátima Arruda do Amaral; Aristeu Oliveira de Arruda (falecido); Sidnei Oliveira de Arruda; Zanone Oliveira de Arruda; Ramão Oliveira de Arruda; Cleuza de Arruda Lopes; e Dirce Maria Oliveira de Arruda.
No Brasil, apenas 79 ex-combatentes ainda estão vivos
Conforme o Exército, superando expectativas, ele chegou aos 100 anos no ano de 2019, integrando um pequeno grupo de 0,008% da população mundial com mais de um século de vida. Agora, chega aos 103 anos, um grupo muito menor e mais especial ainda.
Dentre os 25.334 brasileiros que integraram a FEB, hoje, restam no Brasil apenas 79 vivos.
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