CRÍTICA: Filme rodado aqui com Cauã Reymond tem qualidades, mas roteiro esbarra
Confira a análise do MidiaMAIS
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Na última quinta-feira (23), estreou nos cinemas o longa “Não Devore Meu Coração”, rodado em Bela Vista – distante 344 km de Campo Grande – com o ator global Cauã Reymond. O filme recebeu através da captação da Lei Rouanet, patrocínio da empresa Energisa para ser rodado. A história, uma mistura de road movie (filmes de estrada), um faroeste, e um romance meio Romeu e Julieta contemporâneo, possui pontos positivos principalmente em seu lado técnico, mas esbarra em alguns problemas que não deixam o espectador se envolver totalmente com o enredo.
A cena de abertura do filme traz uma imagem dos horrores da Guerra do Paraguai, indicando a brutalidade e toda a questão de território que as batalhas trouxeram – principalmente as questões que restaram de rivalidade até hoje. Em seguida você se depara com a índia paraguaia Basano, uma menina de apenas 14 anos que é seguida por Joca, um adolescente brasileiro que está totalmente apaixonado por ela. Basano diz que eles não podem ficar juntos jamais, já que ele é só um homem branco e ela é a protetora do Rio Apa.
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É Cauã Reymond, quando entra em cena como o irmão de Joca, Fernando, que carrega o filme nas costas, embora sua atuação pareça sobrecarregada de estereótipos de vez em quando. Fernando é parte de uma gangue de motoqueiros que se intitula Gangue do Calendário. A gangue é liderada por Telecath, um mecânico apaixonado por velocidade, um dos destaques do filme, o ator Marco Lóris. A gangue rival é formada por paraguaios e índios, que estão sedentos por vingança enquanto seus conterrâneos estão aparecendo mortos.
O fio condutor da história é para ser o romance entre Basano e Joca, que estaria sempre presente, embora o foco seja na história de Fernando e seus conflitos com seu pai fazendeiro, com sua gangue. Mas ao mesmo tempo não é. A atuação sofrível de alguns personagens faz com que você simplesmente não compre certos aspectos da história. Quem salva no núcleo “infanto-juvenil” é a índia Basano, cuja atuação falando a maior parte do tempo em guarani chama a atenção. Basano tem profundidade no olhar e muitas vezes parece muito mais velha do que sua feição de menina mostra no longa.
É para Basano que você torce, a despeito do enredo no qual ela está inserida, mas isso se deve única e exclusivamente à atuação, a qual a de Joca não acompanha e que de vez em quando beira a irritação. Já Basano, com seu olhar bastante forte, representa bem a resistência tanto dos índios em se curvarem ao homem branco, quanto à imposição do homem sobre a mulher: ela resiste em se envolver com Joca e está sempre pontuando que ele é muito mais fraco do que ela.
Estilo técnico
O filme, apesar de falhas de roteiro e de entendimento, e um pouco de ritmo, já que muitas coisas são apresentadas e simplesmente acabam sem explicação, possui um estilo técnico moderno, interessante e promissor, o que pode refletir a direção de Felipe Bragança, um jovem diretor. As cenas na estrada, onde a Gangue do Calendário está em ação, trazem uma trilha repleta de sintetizadores, deixando uma sensação de que os anos 80 que todos amamos está vivo e forte, e que ao mesmo tempo moderniza e abraça a história. O figurino da gangue – com capacetes desenhados e jaquetas customizadas – também dá um clima muito bacana. Os momentos da Gangue do Calendário são os que merecem lembrança, principalmente os de interação entre Telecath e Fernando, chamado de Dezembro.
As cenas da gangue, enaltecida o tempo inteiro por Telecath, trazem uma referência bem legal, que é a franquia “Mad Max”. Em um mundo um pouco abandonado (e as cenas na cidade trazem essa sensação de constante abandono, de “fim de mundo”, gasolina faz o sangue dos homens ferver até a beirada da loucura.
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As críticas ao filme foram positivas fora do Estado. Mas quem cresceu em Mato Grosso do Sul sente falta de alguns elementos. Estamos falando de fronteira, e a fronteira realmente é para os fortes. Mas parece que a gangue de Fernando não se sustenta fora da atuação de Telecath, já que faltam duas questões importantes nesse filme, que não necessariamente precisavam de abordagem direta: o narcotráfico e o conflito entre fazendeiros e indígenas. Não, este não é um filme político nem tem obrigação de abordar nada disso. Mas são questões que são, sim, nosso pano de fundo, tal qual o jacaré atropelado na estrada, ou o canto incessante dos pássaros do lado de fora da janela de Joca. O filme insinua tudo isso, em uma cena onde Telecath e Fernando dividem um cigarro de maconha, ou na cena onde a gangue dos paraguaios incendeiam uma fazenda, mas não chega a apresentar nada muito concreto.
Repetidamente você vê, nas entrevistas com os atores e com o diretor, que o conflito de terra foi sim abordado, mas ainda sim falta substância nessa abordagem.
Ainda nos elementos do filme que possuem um peso especial para quem mora em MS, está Ney Matogrosso e sua participação pouco relevante. Ney também é ator, e sua figura nas telas sempre é de um impacto fora do comum. Ele foi o bandido da luz vermelha em “Luz nas Trevas – A Volta do Bandido da Luz Vermelha”, e precisamos nos recordar de “Caramujo Flor”, de Joel Pizzini, cineasta que cresceu em Dourados, protagonizado por ele.
Ney precisava de mais destaque, não necessariamente de mais tempo em tela ou de mais falas. A cena em que ele aparece pela primeira vez é memorável: a figura do jagunço, daquele homem treinado para matar e viver na fronteira. Seu diálogo com Cauã na cena seguinte dá continuidade a uma promessa de ação e interação. Mas termina ali. O papel de Ney é apenas acompanhar o protagonista em direção a… pouca coisa. Nada muito verossímil, até para um filme que se propõe a ter pitadas de realismo fantástico. Em “Não Devore Meu Coração”, as ações trazem reações que não combinam entre si, e que te deixam com uma sensação de: “mas porquê raios isso aconteceu mesmo?”.
Vale à pena assistir por outras questões que não essas. O cineasta inova em muitas cenas com fotografia impecável, fora a trilha tão bacana. Mas os elementos fantásticos que o filme tenta agregar, a “mística” da guerra e da própria cultura de fronteira, acabam perdidos. Se a técnica do filme encanta, o roteiro deixa um pouco a desejar.
Por fim, o filme tenta realinhar o romance condutor entre as duas crianças, mas acaba por não levar a lugar algum. A apresentação dos verdadeiros vilões da história na metade final do filme poderia dar o alinhavo no enredo um pouco perdido, mas resulta em um sentimento de vazio.
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