Há 55 anos no Estado, escritor diz que vivemos muito bem ‘sem’ identidade cultural

Hildebrando Campestrini registrou boa parte das memórias de Mato Grosso do Sul 

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Hildebrando Campestrini registrou boa parte das memórias de Mato Grosso do Sul 

Sem planejar permanecer por mais de três anos, Hildebrando Campestrini, fincou raízes. Apaixonado e entorpecidos pelos fluidos da serra de Maracaju, o escritor, membro da Academia Sul-mato-grossense de Letras, não só ficou como registrou e registra a história do Estado.

Há mais de 55 anos em terras pantaneiras, Hildebrando alerta ao desavisados que acusam a Capital de não possuir identidade cultural. “Não entendo esta preocupação com a identidade de Campo Grande. Vivemos muito bem sem ela. Identidade se constrói ao longo dos anos e, para tanto, nossa cidade é ainda muito nova. Talvez tenhamos, talvez não. Costumo repetir: nossa identidade é não termos identidade, porque Campo Grande sempre foi uma babel bem organizada”, diz em entrevista ao MidiaMAIS.

Esta é a primeira matéria de uma série que pretende nomear e evidenciar figuras que contribuíram para a construção da nossa história. Ao explicar a proposta ao escritor tivemos a seguinte resposta: “Embora venha participando ativamente na construção do Estado há mais de cinquenta anos, não me vejo como parte dessa história. Ou não caiu a ficha ainda. Trabalho ainda como quem precisa ser e não como quem já é”, certamente escolhemos muito bem o primeiro personagem.

Entre as obras de Hildebrando estão a ‘História de Mato Grosso do Sul’, que vai para a oitava edição, ‘Santana do Paranaíba’, ‘Eldorado – memória e riquezas’, além de organizar e reeditar autores sul-mato-grossenses ou ligados à nossa história, como ‘Obras Completas de Hélio Serejo’, ‘Obras Completas de Raul Silveira de Mello’, além de organizar a Série Memória Sul-Mato-Grossense. E é também, coautor da Enciclopédia das Águas de Mato Grosso do Sul, obra ímpar na cultura regional.

O escritor explica que a paixão começou 1960, quando chegou ao Mato Grosso do Sul, mas só se tornou documental a partir de 1988, quando ingressou no Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul.

Desde 2002, quando assumiu a presidência do Instituto, Hildebrando iniciou a tarefa de incentivar o resgate da memória do Estado, o que vem sendo feito com a publicação regular de obras que resgatam a memória do Estado.

Pelos registros do escritor muitas histórias foram lembradas e memórias. E é a essas histórias que ele credita seu amor, que sem dúvidas, nos tornou também mais apaixonados pelo Mato Grosso do Sul.

 “[Em Mato Grosso do Sul] Há oriundos de todas as partes do Brasil e do mundo; há o pluralismo cultural e religioso; há paisagens deslumbrantes em todos os cantos do estado (Pantanal, Bonito, Campo Grande, Rio Negro, Costa Rica, Alcinópolis, para citar alguns pontos); há (ainda em construção) a diversidade de fontes de recursos; há uma convivência harmoniosa que surpreende o visitante”, diz ao defender nosso Estado com toda propriedade.  

Sobre a nossa relação com o patrimônio histórico cultural do Estado, Hildebrando considera que por muitos anos não houve qualquer tentativa de preservar tais registros. Mas encaram com alegria o surgimento de uma movimento de valorização cultural, principalmente no interior de Mato Grosso do Sul.

“Hoje este movimento está se estendendo aos municípios, principalmente a Corumbá, que vem realizando bom trabalho de preservação tanto do patrimônio material como do imaterial. Outro exemplo: o Exército Brasileiro que mantém, com muito zelo, na antiga Colônia Militar do Dourados (no município de Antônio João), rico acervo histórico, aberto ao público”, diz.

Realizado, aos 74 anos de idade, o catarinense mais pantaneiro de todos diz garantir que o entusiasmo se mantém vivo, não se acomoda e aceita novos desafios. Disso, ninguem duvida, com esta produção Hildebrando não pode ser acusado de omisso.

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