Após polêmica no MasterChef Brasil Junior, mulheres compartilham na rede relatos de abuso
Campanha foi criada após comentários contra participante de 12 anos
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Campanha foi criada após comentários contra participante de 12 anos
Valentina tem apenas 12 anos e gosta de cozinhar. Ela é como qualquer criança de 12 anos, tem cara de criança, comportamento de criança e pensa como criança. E mesmo assim, já tem sofrido com o assédio de homens adultos. Esse seria apenas mais um caso invisível de abuso se Valentina não estivesse nos holofotes do maior reality show culinário do país – o MasterChef Junior – e se os agressores não fossem centenas de homens que se sentem confortáveis em publicar na Internet, sem o menor pudor, a atração sexual que sentiram pela criança.
Sim, estamos falando de pedofilia nas redes e sobre como as pessoas acham natural vomitar preconceitos, discriminações e assédios na rede. Mas desta vez os agressores foram longe demais – usuários de redes como Facebook e Twitter, eles comentavam a beleza da participante de forma lasciva durante a exibição do programa na última terça-feira (20). “Sobre essa Valentina: se tiver consenso, é pedofilia?”, dizia um dos comentários no Twitter.
Campanha
Assim como os pedófilos e agressores que ‘saíram do armário’, a ativista Juliana De Faria, fundadora do coletivo feminista Think Olga e também da campanha Chega de Fiu Fiu, também resolveu propor outro tipo de exposição. Ela criou a hashtag #primeiroassedio, com a qual mulheres poderiam compartilhar a história de abusos que sofreram ainda crianças. O resultado, no entanto, foi surpreendente e no mínimo assustador, diante dos inúmeros relatos de mulheres que afirmam ter sofrido abuso, inclusive com toques íntimos, e por familiares, entre 8 e 10 anos.
E ainda assim houve homens que desdenharam, culpabilizaram ou tentaram inverter o objetivo da campanha. Um deles foi o ex-vocalista da banda Ultraje à Rigor, Roger. E vários outros usuários também utilizaram violência verbal para desqualificar a campanha.
O que elas acham
Nas ruas, muitas mulheres não conheciam o caso, mas a expressão é de espanto quando as mulheres são informadas. No entanto, os relatos de assédio nas ruas é uma constante entre elas. “A gente estava até acostumada com isso quando andamos sozinhas ou no ônibus, mas uma menina de 12 anos é demais. Um absurdo”, considera a estudante Luana Oliveira, 17. “Os homens acham que não existem limites, que eles podem tudo, mas não é assim. Não é por conta da minha roupa que um cara tem direito de me assediar. Isso é um absurdo”, completa.
A universitária Michele Freitas, 29, também concorda. “Eu faço faculdade de educação física e por conta disso tenho que usar short, às vezes. Basta sair na rua que o ‘fiu fiu’ começa. Basta subir no ônibus que a gente vê os caras olhando sem disfarçar”, relata.
A estudante Rebeca Ribeiro, 14, também afirmar ter sofrido abuso. “Isso não é novidade, basta ser mulher para isso acontecer. É na parada do ônibus, no shopping, independente da roupa que a gente usa. Eu já tento não ligar, mas quando falam palavras obscenas eu fico muito irritada”, afirma. Da mesma forma, Melissa Lada, 17, também reclama. “Por sair pouco não tenho tanto problema, mas no ônibus é um pavor. Nunca vi ninguém ser abusada fisicamente, mas é um medo que a gente tem”, aponta.
O que fazer
Em casos de abuso e assédio em locais públicos, a vítima ou quem presenciar a situação pode acionar o Disque 100, em ligação gratuita, passando os dados do ônibus, como linha a e trajeto. Se for no ônibus, por exemplo, uma viatura da Guarda Municipal ou da Polícia Militar irá parar o veículo e conduzir o agressor para a Delegacia da Mulher. O serviço funciona das 8h às 22h, inclusive em domingos e feriados. A identidade do denunciante é mantida em sigilo. No caso da Internet, os crimes de pedofilia podem ser denunciados no portal http://denuncia.pf.gov.br.
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